Canas OnLine

30/12/2006

2 mil e 7

28/12/2006

O "melhor" de 2006 |III|

Carnaval de Canas de Senhorim 2006


Fotos de Rui Pina

foto Horácio Peixoto

O "melhor" de 2006 |II|

Canas em Movimento

Fotos Rui Pina e NP

O "melhor" de 2006

Feira/Viagem Medieval


Fotos ZW_Pombo Correio_ Norberto Peixoto _ PortugaSuave

26/12/2006

Noite de Natal '06




Canas de Senhorim _ Noite de Natal _ 2006

24/12/2006

Feliz Natal

22/12/2006

Natal em Canas de Senhorim [VI]

Azulejo da Estação "Canas _ Felgueira"

Hotel Urgeiriça _ A sua história está ligada às minas de urânio. A influência britânica ainda está presente na sala de jantar e nas salas de jogo. Foi remodelado nos anos 90.Uma nota para os jardins de buxo

in Guia Expresso _ Portugal de Comboio_ Linha da Beira Alta

O Hotel Urgeiriça, localizado em Canas de Senhorim a cerca de 25 km de Viseu e da Serra da Estrela é, desde há muito, um lugar privilegiado para alguns portugueses. Em pleno coração da Beira Alta, na região Dão Lafões, oferece a qualidade de uma das melhores unidades hoteleiras do país. A sua arquitectura beirã, a fachada de granito e a decoração tipicamente inglesa, tornam o Hotel num local único e extremamente aprazível, onde o conforto e a mística são constantes.

http://www.hotelurgeirica.pt/pt/hotel_sonho/index.html

20/12/2006

Natal em Canas de Senhorim [V]


A Estação que serve Canas de Senhorim e as Caldas da Felgueira é decorada com azulejos de Francisco Pereira e Licínio Pinto. Representam, entre outros motivos "O Grande Hotel das Caldas da Felgueira(1941). *

* Jornal Expresso _ Linha da Beira Alta

Quinta da Lagoa em Vale de Madeiros, Canas de Senhorim , é uma referência no capítulo dos queijos da serra _Luís Maio in Público

Ponte sobre o Rio Mondego _ Caldas da Felgueira

Árvores do Grande Hotel das Caldas da Felgueira

Caldas da Felgueira _ 3525 - 201 Canas de Senhorim

desistir nunca!

foto Norberto Peixoto

"Os canenses não querem criar o concelho, querem restaurá-lo"
Uma restauração que fica a faltar nestes 30 anos de poder local, porque "as reformas administrativas resolveram parte das assimetrias, mas no interior do País as sedes de concelho estão a concentrar tudo e a secar as terras à sua volta"
"O concelho sempre existiu na vontade das pessoas"

Entrados no século XXI, Canas viu-se concelho. Em 2003 o Parlamento votava finalmente a proposta de criação. Mas Jorge Sampaio vetou o diploma. Subsiste a "raiva, mágoa e frustração, porque transformou um caso político em caso de polícia". Muitos canenses continuam a responder em tribunal pela forma como receberam Sampaio nas comemorações do 10 de Junho de 2003. Pinheiro resume a atitude como sendo, "à boa maneira fascista, uma forma de nos silenciar".

Mas desistir nunca. "Vamos esperar pelo momento certo e aguardar que os partidos que nos apoiam voltem a apresentar o projecto."
Luís Pinheiro (MRCCS) ao DN

Natal em Canas de Senhorim [IV]

Passeio por terras do antigo Concelho de Canas de Senhorim

Em 1857, com a nova divisão do país em distritos, Canas volta a ser sede de Concelho com a maior área territorial de sempre. Beijós, Cabanas de Viriato e Oliveira do Conde faziam parte da sua área até 1873.
Nª Srª do Milagres _ Laceiras

Casa de Aristides de Sousa Mendes _ Cabanas de Viriato

Ponte Romana sobre o Rio Dão _ Ferreirós do Dão
Limite do Concelho de Canas de Senhorim (1873)
com o Concelho de Tondela

19/12/2006

Natal em Canas de Senhorim [III]


Passeio pelos campos da Póvoa de Santo António

Visita à Capela de Stº António

... e pulo à "aldeia mais digital de Portugal"_ Beijós

17/12/2006

Natal em Canas de Senhorim [II]

16/12/2006

Natal em Canasde Senhorim

"Em Canas de Senhorim, um antigo Solar imponente recebe o hóspede com conforto numa atmosfera de tradições rurais e sinais de outros tempos. (...) O Solar, conhecidopelo nome de família, Abreu Madeira, fica num largo em frente às antigas cavalariças, lembrando o tempo em que os senhores saíam a cavalo e de caleche para passearem pela propriedade. (...) Quando se entra no solar, sente-se a atmosfera típica das velhas casas que transpiram memórias e uma estreita ligação com o campo. www.solarabreumadeira.com

foto Ricardo Rosa Cavaco

15/12/2006

Essência

Unidade
por Portuga Suave
Os canenses, ao longo dos últimos trinta anos, sempre demonstraram unidade em torno da luta pela restauração do concelho. Podem divergir na metodologia, criticar procedimentos, discordar no acessório e até cederem a tentações partidaristas que o círculo político onde se inscrevem lhes inspira, mas, se os questionarmos individualmente, não haverá um único que rejeite a essência da causa ou negue essa ambição.O esforço desenvolvido nas últimas décadas e que culminou com o veto presidencial, resultou da participação e da entrega de muitos canenses, muitos deles posicionados em campos políticos opostos, mas que souberam prescindir das suas simpatias políticas, elegendo Canas como partido e os interesses dos canenses como causa maior. Foi este espírito abnegado que uniu a comunidade no propósito de alcançar a autonomia política, resistindo pela força da convicção aos desafios e provocações que esse projecto implicava.Claro que não devemos ignorar que no calor da luta se verificaram entusiasmos exacerbados e excessos desnecessários, internos e externos, que comprometeram o discernimento e o bom senso requeridos neste género de movimentações sociais. Alguns desses comportamentos, estimulados e perpetrados irreflectidamente, fragilizaram a, até então, aparente unidade, e provavelmente, afastaram do processo muitos canenses que pela sua sensibilidade não se reviram naquele esgrimir fratricida.Compete-nos reflectir ponderadamente sobre o futuro, tendo em consideração erros cometidos no passado. É imperativo repensar a nossa atitude para não corrermos o risco de inviabilizar o percurso que, mal ou bem, lográmos alcançar. Esta reflexão não pode ignorar a irreversibilidade do processo, mas, acima de tudo, se efectivamente é nossa pretensão conduzir a “luta” por forma a ser condignamente reconhecida, compete-nos a obrigação da tolerância mútua e o dever da reconciliação, única forma de excomungar controvérsias e contornar desavenças passadas. Assumir a luta política sem excluir nem fracturar.O Movimento (MRCCS) esgota-se nele próprio se não reunir o consenso da população. Também ele, como elemento representativo das ambições dos canenses, deve congregar as diversas sensibilidades e respeitar outras emergentes. São estes pressupostos que importa assegurar para que o projecto de Canas de Senhorim se cumpra. Não separe o homem o que a circunstância juntou.

Portuga Suave escreve no blog

12/12/2006

...enquanto o Mar existir!

Vontade
por Cingab
Certo dia o nosso amigo "Aldra" disse: Ninguém vence a vontade de um Povo! Bem sei que ele se referia ao povo de Timor, mas...
Em estudos pedidos pela Presidência da República, se não me engano em 2000, o Dr. Serra Lopes coordenou um estudo mais ou menos secreto sobre a situação social no concelho de asnelas. Na altura era ele assessor para as questões sociais (?) , comia no "Pataco" com os líderes do MRCCS, era escorraçado na CMasn pelo amigo Colmeia e falava, pedia conselhos, a algumas autoridades académicas... Chegou à conclusão que socialmente a coisa não funcionava!...
Antes de se tornar Chefe da Casa Civil, a sua missão foi reorganizar o PS a quando da confusão do processo Casa Pia... Depois, passou-se a falar em Hospitais com 100 camas, investimentos avultados, há quem diga mesmo oferta de "tachos" aos líderes do movimento, rios de dinheiro que ninguém sabia como poderiam ser dados, uma incineradora etc... Foram dados 2 puxões de orelhas em Viseu ao Colmeia, foram feitas promessas no Hotel Montebelo, Em Carregal do Sal, em Aveiro, pelo próprio "Aldra", para além das garantias de não atrapalhar , com o veto presumo, assim que a AR aprovasse a Lei... Fala-se até de um encontro numa pastelaria de Belém a 30 de Junho de 2003!...
O "Aldra" Vetou!
Os mesmos que garantiram o contrário, que sempre telefonavam com medo de manifestações, que pediram para que votássemos, que no dia anterior à votação na AR tomaram conhecimento, não foram capazes de pôr um travão aos festejos, ou, pelo menos, um aviso... Foi bom ver-nos "inchar" como porcos para nos comerem em "vinha-de-alhos"!... Que pena terá tido Pinochet de não se lembrar de uma "Operação Condor" destas!...
Sádicos!...
Mas eu não tenho vergonha do 1 de Julho de 2003, o dia em que da direita à esquerda, com todas as diferenças ideológicas que isso comporta, a AR votou pela vontade do meu Povo!
Um povo ao qual pertenço que me orgulha, que gosto na saúde e na doença e que nem a morte separará!... Povo de trabalhadores, de lutadores, de homens e mulheres livres com opinião, justo, empreendedor... Com escritores, actores, desportistas, dançarinos, estudiosos... Que todos os dias faz história, porque a tem desde o princípio da nacionalidade...
Um Povo que tem vontade de o continuar a ser... Que a ninguém passa despercebido, que apaixona outros povos, que acolhe quem vier por bem...Um Povo que já deu provas de dar a outros Povos uma nova identidade, não abortando!...
Há um cem número de coisas que estão no ADN... uma delas é a Vontade! Há mais marés que marinheiros, pelo menos, enquanto o Mar existir!
Cingab Concob escreve nos blogs

11/12/2006

apego à terra

BRASÃO - de vermelho, um pelourinho de prata realçado de negro, acompanhado à dextra e à sinistra de dois cavalos de oiro, brincões, empinados e afrontados. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco, com a legenda a negro: Vila de Canas de Senhorim.
Simbologia
O vermelho, que ilumina o campo, representa a energia criadora. Significa, este esmalte, a força, a vida e a alegria dos povoadores. Sugere a criação, a raiz da nacionalidade.
O ouro, que veste os cavalos, representa a riqueza do passado, a memória colectiva. os valores assegurados, significando, este metal, poder, constância e fé. 0s lendários cavalos são uma alegoria à Nobreza, Lealdade, Generosidade e Valentia.
A prata representa a riqueza patrimonial. Significa valor e prestígio. É, também, uma alusão à paz.
O negro, uma cor sem luz, que realça o pelourinho representa o apego à terra. Exprime trabalho honesto e coragem em busca do bem-estar económico e social.

BANDEIRA – esquartelada de amarelo e vermelho. Cordão e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança de ouro.
SELO BRANCO - circular, tendo no centro as peças do escudo, sem indicação das cores dos metais, tudo envolvido por dois círculos concêntricos onde corre a legenda «Junta de Freguesia de Canas de Senhorim».


Desenho do Brasão e texto de Cardoso Oliveira
in catálogo Nucleo Filatélico e Numismátio AHBVCS

mun.cds@gmail.com

O Rio da Minha Aldeia
Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia _ Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia _ Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia _ O Tejo tem grandes navios _ E navega nele ainda _ Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está_A memória das naus._O Tejo desce de Espanha_E entra no mar em Portugal. _Toda a gente sabe isso. _ Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia _ E para onde ele vai _E donde ele vem. _ E por isso, porque pertence a menos gente _É mais livre e maior o rio da minha aldeia. _ Pelo Tejo vai-se para o mundo _ Para além do Tejo há a América _ E a fortuna daqueles que a encontram. _ Ninguém nunca pensou no que há para além _ Do rio da minha aldeia. _ O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. _ Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro [Fernando Pessoa]

10/12/2006

Rama de pinheiro, colchas e bandeirolas ...


"As Quatro Esquinas" preparadas para receber a visita do
Presidente da República
Alm. Américo Tomás a Canas de Senhorim em 1965 .



Documentos para o Arquivo Histórico de Canas de Senhorim
por Amef

08/12/2006

Árvore de Natal


Canas de Senhorim _ Dezembro de 2006

05/12/2006

Ainda dizem que as flores não andam!

As Quatro-Esquinas

por Cristalinda

Cai a tarde nas Quatro-Esquinas. O vazio amputado de uma das fachadas é como um bocado arrancado de mim. É um pouco da minha história que se esvai, que se perde irremediavelmente, como perdidas estão outras memórias de outros tempos e de outros lugares. Este largo soalheiro anuncia o peso da modernidade e do progresso, e as esquinas, outrora cúmplices dos meus passos de catraia exploradora, remetem-me agora para outros passeios.

Aos domingos, pela mão da minha tia, lá íamos vaidosas ao Café Rossio, ex-libris da terra, onde o café era mais café. Eu, na mira do “rajá” prometido, ela, de rapaz promissor. O Sr. António João, bem-humorado, atirava um piropo amoroso à minha tia, do género “ainda dizem que as flores não andam”, enquanto escolhia meticulosamente os grãos de café. Primeiro espalhava-os numa bandeja de servir à mesa (naquele tempo um simples café tinha honras de bandeja e empregado de laço). Depois, munido de artes que só ele dominava, esticava o dedo indicador e exercia a sua justiça ao lote, “tu para aqui, tu para ali e tu vais fora”. Que cheirinho emanava do café que o Pedro trazia para a mesa, após aquela selecção.

Às vezes também íamos aos sábados. Creio que na altura se trabalhava aos sábados de manhã, mas, mesmo assim, a minha tia lá arranjava tempo para ir à bica, devidamente acompanhada pelo salvo-conduto, que era eu. Não pensem que nessa altura, as moças casadoiras se livravam de censuras e reparos se ousassem frequentar sozinhas o Café (se calhar, ainda hoje sobrevive, nalgumas mentes, essa reprovação). Ora, para obviar tal desaprovação social, nada melhor que uma sobrinha como livre-trânsito para realçar o pudor. Era aí que entrava eu, no meu vestidinho de chita e sandália domingueira. Depois de inspeccionada até às profundezas do lóbulo auricular, não fosse a menina comprometer o bom-nome da família com alguma crosta de surro pespegada à tez, “ala que se faz tarde”, aprovava a minha tia em ânsias de rapariga solteira.

Despachado o “rajá”, cirandava por entre as mesas de tampo em mármore escuro e cadeiras em madeira castanha, confortavelmente resistentes ao meu baloiçar de menina. Sentados ao fundo, nas poltronas, senhores distintos, discutindo assuntos sérios, enchiam a minha imaginação de tramas e conspirações, pois os tempos eram conturbados e o local discretamente apropriado. O Professor, muito cioso da sua pochette, conjurava intrigas revolucionárias no conforto da lareira granítica. Comunista devoto, anunciava aos convivas golpes e contra-golpes a cada artigo do jornal. Os jornais eram a sua cartilha. Solitário e indiferente aos remoques políticos, o Artista, fechado na sua habitual gabardina, fumava pesaroso. Na sua loucura inofensiva, distinguia-se pela pose sobranceira e pela boquilha dourada, da qual, a espaços, retirava citações poéticas. No bilhar, senhores mundanos, de fato e gravata baratos, trocavam impressões sobre fortunas perdidas no casino da Figueira.

Fascinavam-me a mesa de bilhar e as carambolas conseguidas por aqueles senhores perfumados. Gostavam de se meter comigo e eu fazia-lhes o gosto empurrando-lhes levemente o taco no pico da concentração. “O raio da miúda!”, praguejavam, enquanto eu, pernas para que vos quero, escapulia ágil por entre as cadeiras e estacionava junto às montras, a namorar os bonequinhos, as garrafinhas, os livros aos quadradinhos, os chocolates e os rebuçados. Só o Mário Pica, na sua tonteira plácida, me tirava do deslumbramento. Mãos atrás das costas, corpo dobrado para a frente, sorriso seráfico, percorria as mesas do café na esperança de um cigarro ou de uma beata esquecida. Menino grande sem condição, aprendeu a sorrir porque sim, e nunca mais se esqueceu.
Também ali se faziam e desfaziam namoros, se davam e devolviam fotografias, se prometiam noivados e juras de casamento, para gáudio do Sr. Pinga das Gordas, que via assim assegurados os proventos de fotógrafo oficial da terra. Por entre bilhetinhos trocados à socapa e intimidades disfarçadas, sempre havia tempo para tentar a fortuna que o Sr. Acúrcio, o cauteleiro, garantia em duodécimos. “Ele há horas de sorte...”, apregoava, ainda que ciente do seu próprio infortúnio e da maleita que lhe tolhia os membros.

Quando a minha irrequietude ultrapassava os limites que a minha tia considerava adequados, era remetida para os banquinhos de ripas vermelhas do terreiro da capela. Bem que eu queria misturar-me com os rapazes da minha idade que por ali jogavam à bola, mas o olhar reprovador da minha tia e o vestido imaculado desaconselhavam qualquer ousadia. Ali ficava, joelhos juntinhos, como a minha mãe me tinha ensinado, apreciando o cheirinho da fruta que o Sr. António e a Menina Natália dispunham à porta do Lugar, as senhoras da Varanda da Má Língua, que desconheciam os ensinamentos da minha mãe, o Sr. Pereirinha, muito dono do parqueamento do seu Mercedes, a loja do Sr. Alberto e da Dona Eracema, onde a mãe fazia as compras, a padaria do Sr. César, que vendia a melhor broa do mundo, a Socolar, onde se alinhavam aqueles “dossiers” fantásticos de argolas, novidade na época, que ainda preservo algures no sótão, o Café Belcanto e as filhas do dono, por sinal muito bem criadas, o Sr. Pinheira da Barbearia eternamente à conversa com o Sr. Jorge da Farmácia e, fascínio dos fascínios, o colorido atrevido dos vestidos curtos das mulatas hospedadas na Pensão Monteiro, vítimas da descolonização das províncias africanas, autênticas impalas fora do habitat, tentando, com o brilho sedoso que lhes emergia dos corpos, ofuscar frios desconhecidos e disfarçar mágoas passadas.

Se fosse por altura dos Santos Populares ainda podia assistir ao despautério de alguma senhora do Rossio de Baixo, retardada na recolha dos vasos que uns “bandidos”, pela calada da noite, como manda a tradição, deixaram a embelezar os passeios das Quatro-Esquinas. “Então, os vasos ganharam pernas?”, perguntava o Sr. António João, “ganharam pernas o carvalho”, respondia esbaforida a senhora. Ruborizava a minha tia, ria a plateia e consolava-me eu, autorizada pelas circunstâncias a registar os palavrões proibidos.

Noutras alturas quebrava-se o encanto. A loucura instalava-se no largo, personificada na herança dramática da guerra do ultramar. O ex-soldado, se bem me lembro, maqueiro de profissão, de tanto mutilado carregar, acabou amputado do juízo e baralhado no cenário. A epilepsia tomava conta dele e as Quatro-Esquinas transformavam-se em palco de batalhas sangrentas e os transeuntes em inimigos emboscados. Espumava ordens e desacertos para incómodo dos presentes e desespero da sua mãe que acorria ao largo, suplicando humildemente que lhe internassem o filho. Carregava sózinha, ainda, uma guerra acabada.

Intimidava-me o infortúnio do soldado-maqueiro e então, apertadinha de xixi que o medo tornara premente, traçava uma linha recta entre o terreiro da capela e a porta do Café-Rossio e corria desenfreada para o aconchego do café. Deixava para trás o largo e o passado que agora me ocorre.

Cai a tarde. Num banco do terreiro da capela de S. Sebastião estendo o olhar de esquina a esquina, reconstruo alçados e montras, retenho cheiros e sons, e recordo carinhosamente as pessoas que habitaram as Quatro-Esquinas da minha meninice.

Cristalinda escreve no blogue

http://mulheres-de-canas.blogspot.com//