Para a história de Canas….Primeira metade do Séc.XX - A Seca
Os anos de 1939, 1944/45 e 46 foram grandes anos de seca em todo o país. Como é óbvio, Canas sofreu bastante com estas secas. As secas sempre foram cíclicas.
Em Canas não havia água canalizada; As pessoas abasteciam-se no chafariz do Rossio, na Fonte da Vila, na Fonte da Cruz, na Fonte das Moitas, na Fonte do Casal e em vários poços particulares. O chafariz do Rossio ou Quatro-Esquinas e o da Fonte das Moitas tinham uma bomba com uma grande roda. As outras eram todas fontes de chafurdo, ou seja, onde as pessoas mergulhavam os cântaros para retirarem a água.
Nos anos de seca as fontes quase secavam e esperava-se horas para encher um cântaro. Ao longo do muro que separava o Largo da Capela da estrada, havia sempre uma “bicha” de cântaros à espera de vez para encher. Era uma “bicha” enorme que por vezes dava a volta à capela. Havia sempre alguém que ía dando à bomba, e ela, aos soluços, lá ia deitando um bocadito de água. Era raro o dia em que não havia zaragata entre as donas dos cântaros, pois havia sempre uma que era mais esperta e queria passar à frente das outras. Era: “puxões” de cabelo, insultos, bofetadas e cântaros partidos. Mas nem tudo era mau, os rapazes e as raparigas aproveitavam esta longa ida à fonte para namorar.
Na Fonte das Moitas, a bomba deixava de funcionar e como também era de chafurdo, era mais fácil ir pelas escadas de pedra, até ao fundo, buscar a água assim que ela nascia. Este processo era também usado na Fonte da Cruz e na Fonte do Casal, onde havia sempre um púcaro para tirar um bocadinho de água que ia nascendo para os cântaros.
A Fonte da Vila era a que tinha sempre mais água. Mas quando lá caiu, e morreu afogada uma rapariga, passou a ser mais reservada para os bombeiros em caso de incêndio. Esta Fonte estava situada precisamente na entrada da Rua Dr. Madeira Lobo, no Largo da Igreja. As pessoas que tinham poços nos quintais, deixavam os vizinhos irem lá buscar água para uso doméstico. No Rossio havia o Poço do Reginho, onde é hoje a casa da D. Iracema, e o Poço da D. Albertina. No Paço, havia o Poço do Pais Pinto, do Ramos e do João da Coita. Na Rua das Laranjeiras era o Poço de chafurdo da Ana da Rosa. Nestes anos de seca, a água do Prado e da Raposeira, onde as pessoas costumavam lavar a roupa, secava, e por isso, as pessoas tinham que ir lavar à Levada, ou aproveitavam o Domingo, faziam uma merenda e ia toda a família para o Mondego lavar a roupa e tomar banho. Partiam de manhã cedo com a trouxa à cabeça e regressavam à tardinha já com a roupa seca.
As pessoas mais abastadas tinham grandes tanques de pedra ao pé dos poços que serviam como reservatório de água para regar e lavar a roupa. A água destes poços era tirada como noras ou engenhos puxados por burros, cavalos ou bois.
Devido a estas secas houve uma grande epidemia de tifo, que vitimou muita gente em Canas. Nas povoações da Freguesia: Vale de Madeiros, Póvoa e Lapa do Lobo, passou-se exactamente a mesma coisa. Em cada uma destas, havia uma bomba de roda e as outras fontes eram de chafurdo. Em 1939 a seca foi tão grande que os campos de milho secaram e não houve produção. Nos anos de seca era costume fazerem-se Preces, ia-se em procissão para os campos, para rezar e pedir a Nosso Senhor que mandasse a chuva.
Maria Teresa Mouraz Lopes, Jornal Canas de Senhorim ed. Agosto05
Em Canas não havia água canalizada; As pessoas abasteciam-se no chafariz do Rossio, na Fonte da Vila, na Fonte da Cruz, na Fonte das Moitas, na Fonte do Casal e em vários poços particulares. O chafariz do Rossio ou Quatro-Esquinas e o da Fonte das Moitas tinham uma bomba com uma grande roda. As outras eram todas fontes de chafurdo, ou seja, onde as pessoas mergulhavam os cântaros para retirarem a água.
Nos anos de seca as fontes quase secavam e esperava-se horas para encher um cântaro. Ao longo do muro que separava o Largo da Capela da estrada, havia sempre uma “bicha” de cântaros à espera de vez para encher. Era uma “bicha” enorme que por vezes dava a volta à capela. Havia sempre alguém que ía dando à bomba, e ela, aos soluços, lá ia deitando um bocadito de água. Era raro o dia em que não havia zaragata entre as donas dos cântaros, pois havia sempre uma que era mais esperta e queria passar à frente das outras. Era: “puxões” de cabelo, insultos, bofetadas e cântaros partidos. Mas nem tudo era mau, os rapazes e as raparigas aproveitavam esta longa ida à fonte para namorar.
Na Fonte das Moitas, a bomba deixava de funcionar e como também era de chafurdo, era mais fácil ir pelas escadas de pedra, até ao fundo, buscar a água assim que ela nascia. Este processo era também usado na Fonte da Cruz e na Fonte do Casal, onde havia sempre um púcaro para tirar um bocadinho de água que ia nascendo para os cântaros.
A Fonte da Vila era a que tinha sempre mais água. Mas quando lá caiu, e morreu afogada uma rapariga, passou a ser mais reservada para os bombeiros em caso de incêndio. Esta Fonte estava situada precisamente na entrada da Rua Dr. Madeira Lobo, no Largo da Igreja. As pessoas que tinham poços nos quintais, deixavam os vizinhos irem lá buscar água para uso doméstico. No Rossio havia o Poço do Reginho, onde é hoje a casa da D. Iracema, e o Poço da D. Albertina. No Paço, havia o Poço do Pais Pinto, do Ramos e do João da Coita. Na Rua das Laranjeiras era o Poço de chafurdo da Ana da Rosa. Nestes anos de seca, a água do Prado e da Raposeira, onde as pessoas costumavam lavar a roupa, secava, e por isso, as pessoas tinham que ir lavar à Levada, ou aproveitavam o Domingo, faziam uma merenda e ia toda a família para o Mondego lavar a roupa e tomar banho. Partiam de manhã cedo com a trouxa à cabeça e regressavam à tardinha já com a roupa seca.
As pessoas mais abastadas tinham grandes tanques de pedra ao pé dos poços que serviam como reservatório de água para regar e lavar a roupa. A água destes poços era tirada como noras ou engenhos puxados por burros, cavalos ou bois.
Devido a estas secas houve uma grande epidemia de tifo, que vitimou muita gente em Canas. Nas povoações da Freguesia: Vale de Madeiros, Póvoa e Lapa do Lobo, passou-se exactamente a mesma coisa. Em cada uma destas, havia uma bomba de roda e as outras fontes eram de chafurdo. Em 1939 a seca foi tão grande que os campos de milho secaram e não houve produção. Nos anos de seca era costume fazerem-se Preces, ia-se em procissão para os campos, para rezar e pedir a Nosso Senhor que mandasse a chuva.
Maria Teresa Mouraz Lopes, Jornal Canas de Senhorim ed. Agosto05
2 comentários:
Pura e simplesmente delicioso. Obrigado D. Teresa por partilhar as suas memórias, para que os nossos costumes e a nossa história não se percam. Só tenho pena não ter fotos... ainda me lembro de algumas dessas fontes.
A D. Teresa Mouraz Lopes é uma fonte de vitalidade!
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