Ser padre é ser abençoado e verdadeiramente escolhido por Deus. Sem dúvida nenhuma, somente alguém que tem Deus ao seu lado é capaz de realizar tantos feitos como celebrar a Eucaristia, pregar o Evangelho, acolher os pecadores, orientar e acompanhar como somente um pai pode fazer. Um pai espiritual dado pelo Senhor para nos guiar no caminho da salvação. Ser padre não é uma tarefa fácil! Deixar tudo e entregar-se completamente nas mãos do Senhor pede vocação, força e fé. Muita fé. O padre é um ser humano sujeito a tentações, fraquezas e também emoções e sentimentos. É claro que, em alguns casos, nem sempre os limites humanos são superados, mas a graça divina e a oração constante são a melhor ajuda para os momentos de dificuldade. O padre precisa de nós tanto quanto nós dele. Precisa do nosso apoio, colaboração e compreensão; precisa do nosso amor, da nossa amizade e das nossas orações. Precisa que rezemos pedindo que Deus o santifique, ampare e console nos instantes de fraqueza.
efeneto - Atendendo à sua idade, poderemos dizer que é um jovem padre e um padre jovem mas tem certamente já algo a relatar do passado. Sempre dedicado à causa Cristã? É padre por opção, por influência familiar, ou outras?
Padre Nuno - Como todos os jovens gosto de desafios, julgo que ser padre é um grande desafio. Fui educado para a liberdade, por um ambiente familiar harmonioso, apesar de plural (entre os + crentes e - crentes), desde pequeno senti um fascínio especial pela Igreja, sempre participei na vida da minha paróquia e um apelo interior crescente “vem e segue-Me”... tudo isto contribuiu, mas quem chamou foi Deus!
efeneto - Sabendo que tinha vocação e vontade de ser Padre, com que idade pensou realizar o seu sonho?
Padre Nuno - Ainda continuo a descobrir hoje a minha vocação, e espero assim continuar, mas a decisão foi tomada aos 25 anos e a ordenação aos 27 anos.
efeneto - Onde realizou os seus estudos?
Padre Nuno - Com 29 anos continuo a estudar, penso que já ando há 23 anos na ‘escola’, onde as oportunidades de aprendizagem foram imensas, tive grandes mestres na ‘arte do ensinar’, ganhei importantes amigos e enfim, muito gosto em me sentir um aprendiz. Frequentei a escola primária da minha aldeia (Vila Mendo de Tavares), as escolas preparatória e secundaria em Mangualde, os Seminários Diocesanos de Fornos de Algodres e de Viseu, a Faculdade de Teologia em Lisboa na Universidade Católica e actualmente tenho o privilégio de frequentar a Universidade Pontifícia de Salamanca. Talvez de escola já chegue, é hora de me dedicar mais a outros saberes, menos livrecos!
efeneto - Onde celebrou a primeira Missa?
Padre Nuno - Na Igreja onde fui Baptizado no dia 31de Dezembro de 1979, no 1º aniversário de Matrimónio dos meus pais em Abrunhosa-a-Velha, concelho de Mangualde. No dia 12 de Setembro de 2005, o dia seguinte à minha ordenação Sacerdotal, aí celebrei a primeira Missa.
efeneto - Em Canas de Senhorim sente-se realizado?
Padre Nuno - Graças a Deus, sinto-me muito feliz aqui!
efeneto - Tem nesta freguesia bons colaboradores?
Padre Nuno - Sem dúvida que encontrei um grupo muito interessante de pessoas comprometidas com a paróquia, graças ao bom trabalho que os meus antecessores por aqui fizeram. Agora, na paróquia há espaço para todos. Há sempre lugares em aberto, vagas para a boa vontade e urgência de solidariedade!
efeneto - Em quantas aldeias desta freguesia celebra Missa?
Padre Nuno - Em todas (Póvoa de Stº António, Lapa do Lobo, Caldas da Felgueira, Vale de Madeiros, Urgeiriça e Canas), temos 8 locais de Culto na paróquia – vamos procurando rotativamente, com a ajuda de um grupo de leigos que fazem Celebrações da Palavra, que se celebre o Domingo em toda a paróquia.
efeneto- A requalificação da Capela de Santa Bárbara, a jóia da coroa aqui da terra, foi, certamente, um especial orgulho para si. O que sentiu no dia da sua inauguração?
Padre Nuno - Senti-me muito feliz, mais do que orgulho uma enorme gratidão. Foi um trabalho de equipa muito interessante e sobretudo bem sucedido. Encontrei desde o início um grupo de pessoas muito motivadas para que esta obra se concretizasse, o que facilitou muito. Penso que os que de ali são ou ali têm alguma ligação participaram desta mesma alegria. É a alegria dos sonhos concretizados!
efeneto - Já publicámos as contas da obra e os elogios sucedem-se. Foi difícil gerir a obra a nível financeiro?
Padre Nuno - A paróquia ao nível dos seus recursos materiais, vive da generosidade dos seus paroquianos. Todos os anos são prestadas contas, àcerca da gestão que é feita e daquilo que as pessoas partilham com a paróquia, é um direito que as assiste e que temos respeitado com o máximo rigor. Este processo das obras de requalificação da capela conta com quase 3 anos de trabalho – sem falar do que está para trás, onde o Sr. D. Ilídio sempre colocou muito empenho – desde a elaboração do projecto, a procura de apoios para a excução do mesmo (aonde algumas portas não se abriram mas outras sim, felizmente!). Resolvemos avançar, mesmo sem ter todos os meios necessários (o que naturalmente traz sempre alguns calafrios), mas com duas convicções fortes: 1ª que sabíamos o que queríamos e a 2ª o dinheiro iria aparecer. Graças à Providencia Divina, manifesta em tanta generosidade, da parte de muita gente e algumas instituições, tudo foi possível.
efeneto – Por certo que segue todo o mundo virtual canense. Nalguns comentários foi notória a insatisfação, em relação à placa comemorativa da inauguração não mencionar o seu nome - que para muitos deveria estar acima de alguns nomes que lá estão. O que nos tem a dizer àcerca disso?
Padre Nuno - Li alguns comentários – que me pareceram pouco amplos e demasiado politizados - mereceram a minha melhor atenção e reflexão. Sempre tive para mim que as opiniões são para serem discutidas, os princípios para serem seguidos. Penso que esta matéria é perfeitamente opinável, no que diz respeito à conveniência da tal placa - pelo menos do seu conteúdo - mas como tudo tem um contexto, alguns desses comentários estavam feridos de descontextualização. Pensámos colocar uma placa para assinalar o acontecimento, que traduzisse o bom relacionamento institucional entre a igreja e poderes autárquicos, que acarinharam este projecto e o tornaram possível. É muito arriscado nestas coisas falar duns e deixar outros, concordo com isso! Mas sem dúvida de que os que lá figuram foram determinantes para que a requalificação da capela fosse concretizada, para além da sua função representativa. A mim agradam-me as parcerias, penso que é necessária a cooperação institucional, é claramente um motor de desenvolvimento. Estas ideias estão um pouco por de trás da tal placa. Pena é, a hipersensibilidade que atinge as pessoas aqui nestas terras em tudo que toca à esfera política. Claro que isso também tem um contexto!
Agradeço os comentários, especialmente os que me foram feitos pessoalmente.
efeneto - Normalmente, há três palavras que é melhor não referir em conversas com sacerdotes. Como o padre Nuno não é propriamente um sacerdote à "antiga", com todo o respeito para os sacerdotes com mais idade, arrisco-me a juntá-las na mesma pergunta e peço-lhe que comente como entender. Aborto, contracepção, homossexualidade.
Padre Nuno - Os padres gostam de conversar, são pessoas predispostas para o diálogo, alguns mais ‘antigos’ são sábios, quando tiverem oportunidade falem com eles. Tudo aquilo que é do Homem é de Deus, onde está um Homem aí está Deus (celebramos este mistério no Natal). Entender assim a vida traz consigo algumas responsabilidades, impõe-se o máximo respeito diante da dignidade da Vida Humana, o aborto é uma interrupção do ciclo da vida, é um atentado à vida, um mal para responder a outros males, esta resposta é um caminho que não tem futuro.
Contracepção, parece-me que se usa e abusa, suspeita-se hoje em dia que a crescente infertilidade das mulheres se deva a isso. Aqui é preciso conjugar meios e fins.
Homossexualidade é uma opção (àcerca da qual a ciência pouco ou nada nos sabe dizer), total respeito por todos. Equiparar à família heterossexual, uma relação homossexual, acho errado.
efeneto - O celibato é assim tão essencial à prática do sacerdócio como nos é dado a entender? Acha que um padre casado poderia ser um bom padre? Uma mulher poderia ser um bom sacerdote?
Padre Nuno - O Amor feito entrega de vida é o mais importante! O celibato tem sentido na medida em que favoreça isso. O celibato não nos desumaniza. Sentimo-nos humanos como toda a gente. É uma matéria ‘disciplinar’ dentro da Igreja Católica Latina, nem sempre o foi ao longo da história. Pode ser reformada pela igreja, não é imposição é uma opção, uma forma de viver a nossa sexualidade. Com certeza que os homens casados podem ser bons padres bem como as mulheres, embora neste caso esteja a desfavor delas toda tradição, onde as mulheres nunca desempenharam estas funções na igreja, mas outras, que os homens nunca desempenharam nem puderam desempenhar.
efeneto - Como cidadão do mundo e face ao actual cenário, como vê o futuro do país a curto e médio prazo?
Padre Nuno - Julgo que passaremos por algumas dificuldades sociais, que se impõem algumas reformas, sobretudo em matéria político-social, onde por desgraça, se cometem injustiças de ‘bradar aos céus’. As reformas têm de começar por ‘cima’, tal como o exemplo tem de vir de “cima” (classe política). É preciso mudar mentalidades, investir na formação das pessoas e sempre apoiar as famílias. Se somos parte do problema também somos parte da solução.
efeneto - E do mundo?
Padre Nuno - O mundo tem de colocar o Ser Humano no centro de tudo e não o dinheiro, espero que seja capaz de fazer o que até agora ainda não fez: aprender com os erros passados.
efeneto - Entrando no domínio da fantasia (ou talvez não, pois o futuro apenas a Deus pertence) imagine que era escolhido para ser Papa. Quais as três primeiras coisas a fazer?
Padre Nuno - Convidava o @Efeneto para dinamizar o sítio na Internet da Santa Sé e depois resignava.
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Quero aqui publicamente agradecer ao Padre Nuno a disponibilidade e entrega dada a esta entrevista.