Canas OnLine

06/08/2007

Canas é fixe!

foto* de Marco Rosa in
Escrevo este texto depois de me terem chamado à atenção para o desagravo assinado pelo André a propósito de alguns comentários menos abonatórios que ele próprio tinha feito sobre Canas.
O André passou de um extremo ao outro e afirma, pelo menos assim o entendi, que aquilo que antes criticava, o facto de não se passar nada em Canas, afinal é uma grande vantagem.
Bem, eu não diria tanto, e até acho que este reposicionamento de ideias deve estar comprometido por força dos argumentos da Inês, à qual o jovem André concedeu tréguas, não fosse a nossa “serrana” indicar-lhe o caminho mais curto para os Pardieiros.
Agora a sério. A verdade é que alguns dos nossos jovens lamentam frequentemente não se passar nada nesta terra e daí concluem que Canas não vale nada e que a vida aqui é uma pasmaceira. Percebo-lhes a frustração e o tédio. Mas só os entendo porque, avaliando a insatisfação, lhe reconheço características muito próprias da idade, que se prendem mais com angústias de adolescência do que propriamente com as circunstâncias da terra ou dos eventos que nela têm ou não lugar. Afinal, neste aspecto, Canas até é superior a muitas outras da mesma dimensão… nem preciso enumerar os diversos acontecimentos.
Não me parece que, comparativamente, Canas tenha um défice acentuado de animação. O que me parece, isso sim, é que a globalização da informação, a vocação consumista da sociedade, a democratização da moda e dos comportamentos e um crescente “novo-riquismo”, criam a falsa ilusão de uma certa urbanidade, a qual, depois, não tem correspondência nem é satisfeita no e pelo quotidiano. Se acrescentarmos a isto aquela dose de aparência que “fica bem e dá estatuto” corre-se o risco da futilidade, do ridículo. Querem um exemplo: expliquem-me lá para que serve um ginásio num sítio como Canas! O que leva uma pessoa a pagar para pedalar quilómetros dentro de quatro paredes, ou a correr numa passadeira sem sair do mesmo sítio…logo em Canas, com tão bons ares, sem trânsito e com caminhos convidativos por essas matas fora? A isto chamo cosmopolitismo bacoco.
Provavelmente aquele sentimento nem é exclusivo dos jovens. Haverá gente mais velha a sofrer das razões inconscientes deste “síndrome provinciano”, mas esses já deitaram contas à vida e sabem bem quanto custam as poucas vantagens da urbanidade e quão perniciosas elas podem ser. Ainda por cima quando essas mesmas vantagens, que não vão além de umas quantas visitas ao teatro ou às salas de cinema e de um ou outro espectáculo ou exposição, estão a duas ou três horas de carro e sempre dá para rever a prima que mora no Algueirão ou em Rio Tinto. Mas os jovens, imediatistas por natureza, as únicas contas que deitam à vida são as da sua própria frustração. E como eu os percebo: ávidos da metrópole, do banho de gente, dos roteiros da noite cosmopolita, acumulam ansiedades indisfarçáveis nas esplanadas semi-vazias de Canas; crispam-se os olhares e é natural o desabafo – não se passa nada nesta terra, venha mais uma fino.
Ainda assim, é aceitável que a malta queira mais. Nos anos 60 os jovens “idealistas” que vieram para a rua tentar mudar o mundo tinham uma frase emblemática que era mais ou menos assim: “Se não tens a solução do problema então fazes parte do problema”. Esta frase, serve-me agora, passados cerca de 40 anos e circunscrita à nossa realidade, para lembrar aos jovens canenses que Canas é e será aquilo que nós fizermos dela. Se efectivamente acham que “não se passa nada em Canas” também vocês contribuem para esse suposto marasmo. Portanto, toca a mexer rapaziada, organizem-se, recriem-se, vão para fora cá dentro… agora não abanquem penosos na esplanada a queixarem-se da terra. A terra somos todos nós.

*Noites do carnaval de 07 - Prova de que a juv-canense é produtiva.


3 comentários:

Anónimo disse...

mt bom texto.

Anónimo disse...

Sem dúvida. Só uma dúvida: Os "traidores" também já podem entrar?

miau disse...

A população quer actividade, mas quando convidada a proporcionar essa mesma actividade queixa-se de falta de tempo!!! Contraditório, o tempo existe e não existe!?
Tanto se pode fazer por esta terra, haja vontades...