torrente de lava...(vamos acreditar)
Canas passa por um período de indecisão! O veto presidencial, sobre a lei que permitia Canas de Senhorim constituir-se como concelho, foi de difícil digestão e ainda alimenta mágoa e inconformismo, facilmente verificáveis no semblante dos canenses. Para além disso os acontecimentos posteriores vieram confirmar a depressão que já se anunciava.Como vulcão que após estrondosa erupção, se consome em pequenos fogachos internos, queimando nas entranhas a energia necessária para levar o clamor da sua reivindicação lá abaixo, à planície, também os canenses se desgastaram em duelos internos perpetrados a propósito das eleições autárquicas e atingindo tudo e todos.Lisboa fica longe e a torrente de lava precisa de ser alimentada com alento e união para lá chegar ostensiva. Esta energia precisa ser dirigida eficaz e convenientemente e não consumida em confrontos inconsequentes e comportamentos arruaceiros como os verificados no verão de 2005, a pretexto das eleições para a Junta de Freguesia, sob o risco da força e razão que nos assistem se perderem, por efeito do desencontro de opiniões quanto à metodologia e estratégia a seguir na persecução dos objectivos a alcançar.Para a presidência da Junta avançou Luís Pinheiro enquanto líder do MRCCS (Movimento de Restauração do Concelho de Canas de Senhorim). Também avançaram outras sensibilidades e interesses políticos, ou porque não se reviam no MRCCS ou porque não fazia sentido qualquer união em torno de um projecto ambivalente, ou por meras incompatibilidades pessoais. Insurgiram-se os primeiros apelidando os demais de traidores e integristas, indignaram-se estes acusando aqueles de anti-democratas e ditadores. Assim se fraccionou a aparente comunhão em torno de uma causa. Nada demais em política e em democracia, não fosse o desconforto de saber que a partir daí já nada seria como dantes.O PS, partido do ex-presidente da Câmara, José Correia, perdeu as eleições e o MRCCS, subsidiário do partido vencedor (PSD), ficou preso numa pseudo-aliança incómoda e comprometedora que lhe retira espaço de manobra para continuar a reivindicar o concelho, uma vez que a actual presidente, Dra. Isaura Pedro, foi peremptória na sua campanha eleitoral ao reafirmar a intenção de presidir um concelho uno e indivisível. Este abraço eleitoral, com contornos de apoio político, foi um erro estratégico do MRCCS. Um abraço excessivamente apertado, mesmo considerando que o período é de defeso e a manobra evasiva.Nestas circunstâncias o MRCCS debilitou-se politicamente ao enveredar por uma argumentação que substancialmente assenta em dois pressupostos incompatíveis: por um lado mantém presente, embora adiada por força da conjuntura política, o intenção de não abdicar da luta pelo concelho, por outro cede à tentação de se fazer representar, a título institucional, na Junta de Freguesia e por inerência na Câmara Municipal de Nelas e respectiva Assembleia, no intuito de reivindicar ou negociar mais e melhor para Canas.Não está em causa a legitimidade da representação, uma vez que foi esse o entendimento expresso pela população nas eleições, mas sim, a prática dessa dualidade de intenções. O Movimento fica tolhido na flexibilidade necessária para levar a efeito as diligências reivindicativas para que foi criado, pelo facto de o seu líder se encontrar a desempenhar a função de presidente da Junta.Misturaram-se as frentes enfraqueceu-se o “ataque”. No caso da nova presidente sofrer do autismo do anterior executivo em questões de investimento e outras preocupações, qual vai ser a atitude do presidente e o papel do líder. É esta promiscuidade de poderes e protagonismos que confunde e não reforça o empenho até agora desenvolvido. O problema não foi o povo votar no MRCCS para a Junta, foi o MRCCS candidatar-se. O lugar de Luís Pinheiro deve ser exclusivamente à frente do Movimento. Não se vislumbra ninguém com melhor ou igual cariz para o cargo. Tem estima, paixão, é popular, eloquente qb, congrega a maioria do apoio dos canenses e mesmo os detractores lhe reconhecem algum mérito, com excepção de alguns que enfim… confirmam a regra. O ideal teria sido Luís Pinheiro apoiar ou criar uma lista que se revisse no Movimento, mas cujo presidente fosse outro. Duas frentes, com características diferentes, mas sem a mescla em que agora Junta e Movimento estão envolvidos. Um líder bicéfalo corre o risco de ficar emaranhado entre duas teias.Salvou-se o facto de José Correia, visceralmente afectado por anos e anos de desavenças e querelas com Canas, ter sido afastado dos destinos camarários, mas até esse aspecto é digno de especulação. A génese da revolta canense assentava e alimentava-se predominantemente da aversão ao comportamento discriminatório e ditatorial protagonizado pelo ex-presidente relativamente aos interesses e expectativas de Canas.
foto enviada por Fernando Cunha
Este sentimento, se bem que justificado pela profunda humilhação sentida pelas nossas gentes ao longo de anos, ao ter-se personificado na pessoa do ex-presidente, retira, agora, face às alterações políticas recentes, parte do ânimo necessário à continuidade do projecto de elevação de Canas a concelho. Bem sei que a legitimação desta pretensão passa por muitos outros motivos, desde os históricos aos políticos, mas esta fulanização da luta, apetecível à liderança de massas, avisava-se perniciosa no caso do presidente ser deposto, mesmo sem a participação do MRCCS na construção do cadafalso. Remeter insistentemente a causa de uma luta para o comportamento de um dos seus agentes pode criar um vazio de convicções, se entretanto o agente for arredado do cenário - como aconteceu.E agora, o que fazer se Isaura Pedro não corresponder aos anseios da população ou não atender ao diálogo aparente entre o Movimento e a edilidade, como aliás já é notório com a escassa verba de 300.000 € atribuída e orçamentada pela Assembleia Municipal e a (in)explicável ausência do presidente da Junta neste órgão? Voltamos atrás? Deixamos novamente de nos fazer representar naqueles órgãos? E se, pelo contrário, esta presidente decidir favorecer, apoiar e desenvolver a nossa vila? Cai por terra a ideia do concelho?Pressinto que este rumo nos leva a uma letargia inconsequente nas pretensões de Canas a concelho e a um desânimo interno consumido no desgaste de todo este processo político. Assim me engane.por PortugaSuave in Portugal Suave
3 comentários:
Pois mas isto vem provar que a luta nunca parou nem parara pois o problema é profundo,politico e social.
Já está enraizado nas almas desta gente que tinha muito e de um momento para o outro viu-se despojada de tudo. É um problema estrutural e nao é com migalhas que vamos recuperar.É isso que a camara tem de analizar e compreender de uma vez por todas o problema de canas de senhorim
A Luta deveria ter terminado a 1 de julho de 2003! mas o aldra atraiçoou-nos. Estamos a atravessar um período muito complicado como muito bem descreve o Portuga suave - mas os canenses vão saber encontrar o rumo certo da restauração do seu concelho! saibamos todos manter a chama acessa e esperar por momentos mais oportunos.
Um escrito merecedor de reflexão. Mas há alguns aspectos que não deixam de ser controversos. A Junta saida das últimas eleições traiu o mandato com o seu eleitorado. Ao designar de "traidores e integristas" a outra candidatura à Junta por defender uma postura colaboracionista com a Câmara, os mrccs apresentaram-se radicalmente contrários a tal proposta. Ou seja, caso saíssem vencedores não haveria relações com a Câmara, fosse quem fosse o vencedor. São aliás conhecidos os ataques ofensivos e deselegantes à então candidata Isaura Pedro. O que os fez mudar de atitude? Qual foi o teor do negócio? Em Dezembro de 2001 Luis Pinheiro foi pedir 10.000 contos ao Zé Correia para impedir o povo de Canas de votar e assim permitir àquele conhecido inimigo de Canas a permanecer no poder camarário. E em Outubro de 2005? Afinal quais os seus verdadeiros propósitos? O que mudou na passagem do Verão para o Outono de 2005?
Enviar um comentário