Multissecular
foto de LMPRosa _ Casa do Cruzeiro (Brasão)
(...)Dos novos concelhos absorvidos no século XIX, dois eram aldeias (Senhorim, Folhadal) , mas um terceiro era muito mais amplo e tinha uma existência multissecular (Canas de Senhorim) . A sua sede possuía – e possui – um espaço antigo com as mesmas marcas de venerabilidade e de nobreza que encontramos em Vila(Santar) . Ao contrário desta, todavia, conheceu um forte incremento industrial no século XX, que fez dela em determinado momento o maior pólo industrial do distrito. Tal significou que a sua componente monumental e a paisagem envolvente ligada à agricultura ficaram imbricadas numa paisagem industrializada, mas que preservou esse centro. Entretanto, foi também na área deste antigo concelho que se desenvolveu a actividade turística desde finais do século XIX. Possui umas termas reputadas, com um “grande hotel” e estabelecimentos mais populares, um balneário. Nessa mesma área concelhia situa-se um outro hotel, inserido numa quinta, dos mais famosos do centro do país. Por muito tempo os únicos dois hotéis do concelho de Nelas situavam-se aqui – e era aqui a zona mais próspera do concelho. Com o 25 de Abril, emerge a reivindicação pública da restauração do antigo concelho de Canas de Senhorim, de que estamos a falar. Uma reivindicação que tem sido apoiada pela população local, entretanto afectada pela crise que lhe tem destruído a indústria e com ela a preeminência económica – enquanto o território confinante com Nelas viu a instalação de novas indústrias e o sector dos serviços cresceu, ao mesmo tempo que esta última vila. Porém, a vila de Canas possui o património que falta à vila de Nelas. Em Março de 2003 estavam classificados 16 imóveis no concelho. Desses 16, sete estavam localizados em Canas de Senhorim (dois dos quais em vias de classificação): quatro casas, a igreja paroquial, uma orca e, dado revelador, um pelourinho (que não existe em Nelas, que só foi sede de concelho a partir da segunda metade do século XIX). Numa aldeia próxima, que foi ela própria concelho, estavam outros dois. Todos os imóveis de Canas estão classificados como “imóveis de interesse público”, a segunda “categoria” na classificação do IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico –, sendo a primeira a dos “imóveis de interesse nacional” – designados como “monumentos nacionais” – e a terceira os “imóveis de interesse municipal”. Nelas só possuía dois imóveis classificados, uma casa e um solar, ambos de “interesse municipal”.
O Genuíno, o Espúrio e a Identidade Local
José Manuel Sobral
Vol_viii_N2_243-272.pdf
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