Grito calado
O silêncio é difícil de gerir e ainda mais de explicar. Se fosse explicável deixaria de ser silêncio. Mas pode compreender-se: quantas vezes calamos o que nos vai dentro para não alimentar uma discussão mais acesa, quantas vezes evitamos um comentário pertinente por sabemos de antemão que há verdades que causam desconforto?
Diz-se que o silêncio é bom conselheiro, que é de ouro; até se fala do grito calado, metáfora dos oprimidos, silêncio dos sentenciados. Estes ditos, mais ou menos populares, traduzem muitas vezes os nossos receios, o nosso conformismo e em alguns casos reflectem a nossa impotência, mas também podem sugerir sabedoria, sensatez ou sentido de oportunidade.
No caso de Canas e dos canenses, o silêncio que se faz sentir a propósito da renovação da luta pela restauração do conselho, resulta de algum conformismo expectante, gerado pela alternativa política saída das eleições autárquicas de 2005 que, associado ao sentimento de impotência que se instalou após o contra-senso do veto presidencial, tende a enfraquecer o exercício reivindicativo com que quase alcançámos o nosso objectivo.
Conscientes que seria inoportuno e inconsequente voltarmos à carga baseados nos mesmos pressupostos e sujeitos à hostilidade política vigente, legitima-se o silêncio reivindicativo, pois a evidência dos factos e das circunstâncias é suficientemente esclarecedora. Contudo, nada disto indicia fragilidade ou apela à desistência. O facto de nos sentirmos momentaneamente impotentes não retira nada à insatisfação que carregamos, nem o aparente conformismo indicia fraqueza nas convicções. É verdade que nos encontramos numa fase difícil, porém, qualquer alteração ao actual cenário político pode criar as condições para relançar uma estratégia que renove o espírito da luta.
Quedamo-nos momentaneamente por um estado embrionário contemplativo, mas é exactamente nestas alturas que se molda a massa humana, que se avalia de que têmpera somos feitos, do quão resistente é a nossa crença e do que somos capazes para prosseguir sem esmorecer.
Este “estado crisálida” pode aparentemente desanimar os menos aguerridos, confirmar as dúvidas dos mais cépticos, no entanto convém ter presente que este tipo de luta faz-se de avanços e recuos, de vitórias e derrotas, de hesitações e interrupções, numa lógica histórica que favorece quem persiste na firmeza das suas ideias. Por isso estou convicto que este “estado crisálida” ainda vai cumprir o seu ideal.
2 comentários:
Pois, é por isso!...
É assim que eu entendo, mas isso não é geral!
Firmeza é a palavra de ordem e ... honra
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