Jornal o Diário
Uma colectividade a sério: a casa do pessoal das minas
Duzentos e trinta sócios efectivos e 114 auxiliares (não trabalhadores) formam a Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça, uma colectividade com uma vasta actividade desportiva, recreativa e cultural para ocupação dos tempos livres dos empregados da Empresa Nacional de Urânio
«A Casa do Pessoal da Mina é um elo entre a empresa e os trabalhadores», diz a «o diário» uma direcção recém-empossada, reunida numa sala cujas paredes estão cobertas de vitrinas cheias de troféus. Todos os associados podem aqui recrear-se, participar nas actividades culturais e desportivas».
Com a sua secção cultural, a Casa do Pessoal reparte-se pelo teatro, por uma biblioteca, muito em breve por uma escola de música e pelo cinema.
Num concelho com um cine-teatro que faz alternar o «cunguefú» com o «uesterne» esparguete e as comédias italianas de mau porte com os filmes indianos de mau corte, a apresentação de filmes de qualidade pela Casa do Pessoal da Mina é uma iniciativa que ganha grande relevo no panorama cultural de Nelas.
«Os sócios da Casa pagam 25 escudos e os não sócios 40. Todas as semanas temos um filme diferente, normalmente filmes que acabam de se estrear em Lisboa ou no Porto. Apresentamos aqui fitas muito antes de elas serem exibidas em Viseu. O último filme foi «Uns e os Outros…» Ainda não o viram na sede do distrito, para não falar em Nelas», dizem os directores.
Teatro de Amadores
Enquanto a escola de música em perspectiva não abre, faz-se teatro. A Casa do Pessoal da Mina está em vias de contratar um professor para ensinar os filhos dos seus sócios a tocar alguns instrumentos. Esta ideia faz parte do plano de actividades apresentado pelo clube à gerência da empresa. Esta contribui com uma verba fixa de 20 contos para a manutenção da colectividade.
«Já é insuficiente este dinheiro para a dimensão do clube, cujos sócios pagam uma cota muito baixa. Cada actividade acaba por exceder as receitas e por isso precisamos de contribuição do Inatel e da gerência das Minas», diz a direcção da Casa.
O grupo de teatro da Casa do pessoal da Mina, por exemplo, depende do Inatel para sair do seu estúdio de ensaios na Urgeiriça. Para os próximos tempos, os amadores de teatro vão andar pelo distrito a representar para trabalhadores.
O agrupamento já não é recente. «Existiu, parou, andou de novo e tem funcionado sempre de há dois anos para cá», informa a direcção.«Leva sempre à cena duas peças por ano».
São planos dos directores recém-empossados tentar fazer um espectáculo com todos os velhinhos que passaram, ao longo dos anos pelo teatro das Minas.
Entretanto, a peça a estrear é uma comédia com dois actos de Joaquim José Annaya, «Casamento amargurado», pescada na biblioteca da Casa do Pessoal.
Esta biblioteca tem um grande problema: os livros, muito solicitados pelos sócios, já estão a cair de lidos. «É necessário renovar a biblioteca, adquirir novos títulos, mas os livros estão caros, como sabem», diz-se. Talvez as editoras não se importem de enviar algumas edições de oferta para a Casa do Pessoal das Minas de Urgeiriça. Os livros ali são úteis e não ficam a morrer nas prateleiras…
Dia do Mineiro
Antes de passarem à parte desportiva, ilustrada pelas taças que se alinham nos escaparates da sala de direcção, os directores da Casa sublinham o papel recreativo da colectividade.
«Além do bar temos uma sala de jogo de cartas, uma sala de televisão (a cores), uma sala de pinguepongue e uma sala de leitura, na biblioteca com um jornal diário e um desportivo».
Estas são as actividades permanentes. O bar é muito concorrido por todos aqueles que moram no bairro da Mina. Outras iniciativas regulares dão vida à sede do grupo: «os bailes para sócios e familiares».
«Todos os anos fazemos bailes na Festa de S. Pedro, a 29 de Junho na festa de Sta. Bárbara, a 4 de Dezembro, que é a Festa dos Mineiros, no 1º de Maio, nas Vindimas, no Carnaval, no Ano Novo».
A par destas iniciativas, os trabalhadores das minas nunca deixaram de festejar o 1º de Junho, dia da Criança, celebração que se faz a nível da freguesia de Canas, com entrega de prendas aos miúdos, pinturas e cinema infantil.
Atletismo rei da festa
No campo desportivo a Casa do Pessoal tem o atletismo como rei da festa, mas pratica também a pesca desportiva, o vólei, o andebol, o futebol de salão e de onze, entre outras modalidades.
É sócio do clube o actual vice-campeão de marcha atlética, Carlos Alberto, que já foi detentor do melhor tempo nacional da modalidade. E a marcha atlética é a grande glória desta Casa.
Os melhores marchantes portugueses estarão na Urgeiriça no próximo dia 27 de Março para aí concorrerem ao III Grande Prémio de Marcha Atlética da Urgeiriça, prova integrada no calendário nacional, organizada pelo clube com diversos apoios a patrocínios.
Também organizado pela Casa do Pessoal da Mina temos em Julho (porque o pavilhão é aberto), um torneio de futebol de salão a nível concelhio, sempre muito disputado.
Este torneio seria melhor realizado no polivalente que é o sonho dos mineiros da Urgeiriça:«Está nos planos, claro, mas é inviável para já», diz um director. E outro, com um sorriso «para já? É quase impossível! É algo que custaria muito dinheiro». Fica para o futuro. A Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça está ali para muitos anos, cada vez mais activa.
Duzentos e trinta sócios efectivos e 114 auxiliares (não trabalhadores) formam a Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça, uma colectividade com uma vasta actividade desportiva, recreativa e cultural para ocupação dos tempos livres dos empregados da Empresa Nacional de Urânio
«A Casa do Pessoal da Mina é um elo entre a empresa e os trabalhadores», diz a «o diário» uma direcção recém-empossada, reunida numa sala cujas paredes estão cobertas de vitrinas cheias de troféus. Todos os associados podem aqui recrear-se, participar nas actividades culturais e desportivas».
Com a sua secção cultural, a Casa do Pessoal reparte-se pelo teatro, por uma biblioteca, muito em breve por uma escola de música e pelo cinema.
Num concelho com um cine-teatro que faz alternar o «cunguefú» com o «uesterne» esparguete e as comédias italianas de mau porte com os filmes indianos de mau corte, a apresentação de filmes de qualidade pela Casa do Pessoal da Mina é uma iniciativa que ganha grande relevo no panorama cultural de Nelas.
«Os sócios da Casa pagam 25 escudos e os não sócios 40. Todas as semanas temos um filme diferente, normalmente filmes que acabam de se estrear em Lisboa ou no Porto. Apresentamos aqui fitas muito antes de elas serem exibidas em Viseu. O último filme foi «Uns e os Outros…» Ainda não o viram na sede do distrito, para não falar em Nelas», dizem os directores.
Teatro de Amadores
Enquanto a escola de música em perspectiva não abre, faz-se teatro. A Casa do Pessoal da Mina está em vias de contratar um professor para ensinar os filhos dos seus sócios a tocar alguns instrumentos. Esta ideia faz parte do plano de actividades apresentado pelo clube à gerência da empresa. Esta contribui com uma verba fixa de 20 contos para a manutenção da colectividade.
«Já é insuficiente este dinheiro para a dimensão do clube, cujos sócios pagam uma cota muito baixa. Cada actividade acaba por exceder as receitas e por isso precisamos de contribuição do Inatel e da gerência das Minas», diz a direcção da Casa.
O grupo de teatro da Casa do pessoal da Mina, por exemplo, depende do Inatel para sair do seu estúdio de ensaios na Urgeiriça. Para os próximos tempos, os amadores de teatro vão andar pelo distrito a representar para trabalhadores.
O agrupamento já não é recente. «Existiu, parou, andou de novo e tem funcionado sempre de há dois anos para cá», informa a direcção.«Leva sempre à cena duas peças por ano».
São planos dos directores recém-empossados tentar fazer um espectáculo com todos os velhinhos que passaram, ao longo dos anos pelo teatro das Minas.
Entretanto, a peça a estrear é uma comédia com dois actos de Joaquim José Annaya, «Casamento amargurado», pescada na biblioteca da Casa do Pessoal.
Esta biblioteca tem um grande problema: os livros, muito solicitados pelos sócios, já estão a cair de lidos. «É necessário renovar a biblioteca, adquirir novos títulos, mas os livros estão caros, como sabem», diz-se. Talvez as editoras não se importem de enviar algumas edições de oferta para a Casa do Pessoal das Minas de Urgeiriça. Os livros ali são úteis e não ficam a morrer nas prateleiras…
Dia do Mineiro
Antes de passarem à parte desportiva, ilustrada pelas taças que se alinham nos escaparates da sala de direcção, os directores da Casa sublinham o papel recreativo da colectividade.
«Além do bar temos uma sala de jogo de cartas, uma sala de televisão (a cores), uma sala de pinguepongue e uma sala de leitura, na biblioteca com um jornal diário e um desportivo».
Estas são as actividades permanentes. O bar é muito concorrido por todos aqueles que moram no bairro da Mina. Outras iniciativas regulares dão vida à sede do grupo: «os bailes para sócios e familiares».
«Todos os anos fazemos bailes na Festa de S. Pedro, a 29 de Junho na festa de Sta. Bárbara, a 4 de Dezembro, que é a Festa dos Mineiros, no 1º de Maio, nas Vindimas, no Carnaval, no Ano Novo».
A par destas iniciativas, os trabalhadores das minas nunca deixaram de festejar o 1º de Junho, dia da Criança, celebração que se faz a nível da freguesia de Canas, com entrega de prendas aos miúdos, pinturas e cinema infantil.
Atletismo rei da festa
No campo desportivo a Casa do Pessoal tem o atletismo como rei da festa, mas pratica também a pesca desportiva, o vólei, o andebol, o futebol de salão e de onze, entre outras modalidades.
É sócio do clube o actual vice-campeão de marcha atlética, Carlos Alberto, que já foi detentor do melhor tempo nacional da modalidade. E a marcha atlética é a grande glória desta Casa.
Os melhores marchantes portugueses estarão na Urgeiriça no próximo dia 27 de Março para aí concorrerem ao III Grande Prémio de Marcha Atlética da Urgeiriça, prova integrada no calendário nacional, organizada pelo clube com diversos apoios a patrocínios.
Também organizado pela Casa do Pessoal da Mina temos em Julho (porque o pavilhão é aberto), um torneio de futebol de salão a nível concelhio, sempre muito disputado.
Este torneio seria melhor realizado no polivalente que é o sonho dos mineiros da Urgeiriça:«Está nos planos, claro, mas é inviável para já», diz um director. E outro, com um sorriso «para já? É quase impossível! É algo que custaria muito dinheiro». Fica para o futuro. A Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça está ali para muitos anos, cada vez mais activa.
in Jornal o Diário, 28 de Janeiro de 1983
1 comentário:
E não é que eu vi em primeiríssima mão o filme "Uns e Outros" na Casa do Pessoal da Urgeiriça. Aquela fantástica dança ao som do bolero de Ravel... e agora???? Bons tempos aqueles.
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