Despegar
por Portuga Suave
Despegar. Gosto desta palavra. Sempre a ouvi aqui por Canas, desde os mineiros que despegavam ao toque da sirene aos operários fabris que despegavam do turno da meia-noite. É uma palavra proletária sem dúvida. Não se despega da escola ou do escritório, mas despega-se da fábrica, da oficina ou da mina. Só os operários despegam ou, por oposição, só os operários é que pegam ao trabalho, e fazem-no porque efectivamente vão pegar nas ferramentas do seu ofício.
Claro que em Canas, como noutras zonas com tradição industrial, a expressão foi assimilada por outras profissões, mas mesmo assim, quando alguém diz “amanhã pego às 9”, o que nos ocorre imediatamente é que trabalha numa fábrica.
Não são assim tão poucos os que pegam, felizmente. Canas tem um potencial de mão-de-obra especializada a que não é estranha a longa tradição industrial e fabril do século passado. Com a decadência das grandes empresas, o desinvestimento e a falta de incentivo empresarial, os canenses deslocalizaram os seus postos de trabalho para as redondezas mas fidelizaram os seus hábitos profissionais, a sua vocação operária. Continuam a pegar, às nove, à uma, às quatro… e a despegar, conforme o turno.
Hoje, ultrapassada a angústia da geração dos nossos pais, que se viu confrontada com o encerramento da totalidade do tecido empresarial canense, a descendência espalhou-se pelas diversas fábricas e indústrias da zona, constituindo o motor humano do sucesso alcançado pelas empresas instaladas na região. Desde o Carregal até Mangualde, de Oliveira do Hospital a Viseu, os canenses desdobram-se e resistem estoicamente à tentação de partir. Preferem fazer 30, 50, 100 quilómetros diários a abdicarem da sua terra.
Ficam, mas reclamam, pois embora a sobrevivência familiar esteja mais ou menos assegurada, o que eles não vêem é o quinhão de riqueza produzida pelo seu trabalho ter repercussão directa ou indirecta no desenvolvimento da terra que os viu nascer, na terra que cria os seus filhos, na terra onde vivem e onde hão-de morrer. Noutros meios, a produção de riqueza, a dinâmica económica e os impostos pagos pelos munícipes, se bem geridos, acabam por reverter equitativamente, na forma de investimento e benefício, para os cidadãos criadores dessa própria riqueza, porém o que se passa em Canas não configura este princípio de justiça social. Os canenses voltam sempre mais pobres quando despegam. O produto do seu trabalho enriquece outras terras, outras gentes, outros concelhos, e Canas, fora desse circuito empresarial perde investimento, perde os serviços, perde o comércio, perde estruturas sociais, perde a alegria, perde a paciência…
Não vislumbro qualquer inversão na política centralizadora conduzida nas últimas décadas pelo executivo camarário. A confirmá-lo está a suspensão do PDM e a elaboração de um Plano de Pormenor (PP) de maneira a alargar a zona industrial de Asnelas, em detrimento da agrícola, e permitir assim integrar novas empresas na sede do município. No entanto, criar condições em Canas para aliciar possíveis empresários, isso fica para as calendas gregas… “tem que ser feito passo a passo”, afirmou a presidente.
Perante isto, é fundamental que os canenses continuem a reclamar, que peguem na bandeira e não despeguem da luta.
Claro que em Canas, como noutras zonas com tradição industrial, a expressão foi assimilada por outras profissões, mas mesmo assim, quando alguém diz “amanhã pego às 9”, o que nos ocorre imediatamente é que trabalha numa fábrica.
Não são assim tão poucos os que pegam, felizmente. Canas tem um potencial de mão-de-obra especializada a que não é estranha a longa tradição industrial e fabril do século passado. Com a decadência das grandes empresas, o desinvestimento e a falta de incentivo empresarial, os canenses deslocalizaram os seus postos de trabalho para as redondezas mas fidelizaram os seus hábitos profissionais, a sua vocação operária. Continuam a pegar, às nove, à uma, às quatro… e a despegar, conforme o turno.
Hoje, ultrapassada a angústia da geração dos nossos pais, que se viu confrontada com o encerramento da totalidade do tecido empresarial canense, a descendência espalhou-se pelas diversas fábricas e indústrias da zona, constituindo o motor humano do sucesso alcançado pelas empresas instaladas na região. Desde o Carregal até Mangualde, de Oliveira do Hospital a Viseu, os canenses desdobram-se e resistem estoicamente à tentação de partir. Preferem fazer 30, 50, 100 quilómetros diários a abdicarem da sua terra.
Ficam, mas reclamam, pois embora a sobrevivência familiar esteja mais ou menos assegurada, o que eles não vêem é o quinhão de riqueza produzida pelo seu trabalho ter repercussão directa ou indirecta no desenvolvimento da terra que os viu nascer, na terra que cria os seus filhos, na terra onde vivem e onde hão-de morrer. Noutros meios, a produção de riqueza, a dinâmica económica e os impostos pagos pelos munícipes, se bem geridos, acabam por reverter equitativamente, na forma de investimento e benefício, para os cidadãos criadores dessa própria riqueza, porém o que se passa em Canas não configura este princípio de justiça social. Os canenses voltam sempre mais pobres quando despegam. O produto do seu trabalho enriquece outras terras, outras gentes, outros concelhos, e Canas, fora desse circuito empresarial perde investimento, perde os serviços, perde o comércio, perde estruturas sociais, perde a alegria, perde a paciência…
Não vislumbro qualquer inversão na política centralizadora conduzida nas últimas décadas pelo executivo camarário. A confirmá-lo está a suspensão do PDM e a elaboração de um Plano de Pormenor (PP) de maneira a alargar a zona industrial de Asnelas, em detrimento da agrícola, e permitir assim integrar novas empresas na sede do município. No entanto, criar condições em Canas para aliciar possíveis empresários, isso fica para as calendas gregas… “tem que ser feito passo a passo”, afirmou a presidente.
Perante isto, é fundamental que os canenses continuem a reclamar, que peguem na bandeira e não despeguem da luta.
foto NP
4 comentários:
pois
Acreditar, é preciso...
Excelente!
A estatégia urbanistica da "coligação" que governa a CM é inaceitável.DEpois de 18 anos de estagnação forçada é obsceno pedirem para "esperarnos".
Navegar à bolina, contra o vento... é preciso. À deriva é que não. Temos que manter a vela enfunada, mesmo que as tempestades nos caiam em cima. Aceito que se arreiem as velas... mas não podemos abdicar do horizonte...
Desculpem o simbólico mas se começo a escrever isto deixa de ser um comentário, lol
Cumprim
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