Canas OnLine

19/07/2007

“Zumzum”

Numa altura em que há um “zumzum” para o encerramento da Casa de Pessoal das Minas da Urgeiriça, gostaria de partilhar com os amigos este pequeno excerto que encontrei, pode ser que alguém se recorde e que sirva de alerta para não acabar com esta “CASA” onde muita boa gente entrou e continua a entrar. Serve para recordar e alertar.
Nuno Cardoso
Arriscar em palco
Por Francisca Cunha Rêgo
Jornal de Letras.
[...] Toma nota o tempo todo. Na sua mão comprida, muito magra, a caneta está em riste e agita-se ao ritmo da fala dos actores que ensaiam no palco. De repente pára, acende um cigarro e recomeça a escrita. Sentado na parte de trás do armazém, entre o monte de roupas, casacos e mochilas que ali encontraram poiso, observa fixamente a cena e às vezes parece estar a dizer o texto para si. Mas talvez seja só uma impressão. Dissipa-se enquanto Nuno Cardoso acende mais um cigarro.
Encenar Ricardo II era um projecto antigo. Texto retórico, «invulgarmente lírico», extenso, apresentava-se-lhe como «uma batalha muito difícil» mas, como afirma, convicto, «uma pessoa define-se pelas suas batalhas». Interessou-lhe reflectir sobre os meandros do poder e da identidade que para o actor e encenador são sempre os mesmos, repetindo-se, independentemente do sistema político ou da época em que se situam. Assim, as figuras do Rei Ricardo e a do nobre Bullingbrook, cativaram-no e pareceram ligar-se ao seu percurso.
As peças que escolhe transportam-no e ajudam-no a perceber a sua própria vida, os seus motivos. De repente há um ‘clique’ com determinado texto que vem clarificar como se sente face ao mundo. É que, para Nuno Cardoso, a prática teatral é a sua Educação. Não só porque não tem qualquer curso de teatro, mas fundamentalmente porque o teatro é a sua educação como homem: «Nesse sentido, é um solilóquio». Desse diálogo consigo próprio têm surgido, ao longo dos anos, muitas peças, muitas conversas. Até porque, como diz, «o papel do teatro é falar. A voz pode ser estranha, umas vezes roufenha, outras mais lírica, mas fala para quem quiser ouvir». E o melhor é falar bem. «Para ver se alguém nos ouve», diz a sorrir. Já o que quer dizer, prefere não revelar: «É melhor deixar que o público entenda por si
Nuno Cardoso percebeu logo o chamamento do Teatro. Andava a estudar Direito na Universidade de Coimbra. Estudar talvez seja uma força de expressão, pois acabou por não ir a muitas aulas. Nascido em 1970, numa terra pequena, Canas de Senhorim, os pais – que nunca tinham tido acesso à Universidade – sonhavam com a licenciatura do filho. Nuno tinha lido In Illo Tempore, de Trindade Coelho, e Direito não lhe parecera uma escolha, mas antes um «destino». Não correu bem esse fado, «havia muitos concertos para assistir, muitos livros para ler e, sobretudo, muitos filmes para ver.»

Os filmes, de facto, entraram muito cedo na sua vida. Confessa-se um «fanático por cinema.» E não é esquisito: vê tudo o que lhe aparece à frente, do mais básico blockbuster ao mais experimental dos realizadores. Aos sete anos, ia com o pai, todas as sextas-feiras, para a Casa de Pessoal dos Mineiros das Minas da Urgeiriça onde viu todos os filmes de Sérgio Leone e, entre outros, todos os ‘western spaghetti’. Nunca foi criança que precisasse muito de dormir e o pai deixava-o ficar a ver na televisão a Lotação Esgotada, e a Sessão da Noite, à terça-feira. Assim, entre os 10 e os 13 anos, viu todos os filmes de John Ford, ciclos de Ingmar Bergman, Murnau e Fritz Lang. «Não percebia nada, mas adorava». [...]
*fotoCP 1- gentilmente cedida._*foto CP2- foto efeneto._ Foto Nuno Cardoso JN

9 comentários:

PortugaSuave disse...

Delicioso... não conhecia este "testemunho" do Nuno Cardoso.
Muito bom Efeneto

ibotter disse...

O Nuno Cardoso é tvz em Portugal o mais "destacado" encenador de teatro contemporâneo.

ibotter disse...

PSuave- os marcadores não dão acesso a outros posts sobre o NC?

PortugaSuave disse...

Ibotter
Experimenta os marcadores "Canenses" ou "Teatro".
Criar marcadores para referir individualmente todas as pessoas parece-me exaustivo. Tenho para mim que a função de um marcador tem que ser mais alargada, mas se não for esse o entendimento dos colaboradores personalizam-se alguns marcadores. Digam o que acham.
Cumprim.

®efeneto disse...

...julgo que coloquei bem as etiquetas, se não estiverem mude sff...obrigado pelo "retoque" visual...abraço.

ibotter disse...

Já vi!
Está td Ok.
+ uma excelente pesquisa @efeneto!
Quanto ao ZumZum!
tb existe o de que a Urgeiriça se prepara para receber um Museu e um centro cultural?

ibotter disse...

Um esquema de "página" idêntico ao do blog maumau
http://maumaupage.blogspot.com/
era o ideal para os marcadores do "MunCdS".
Será que os nossos masters em informática "resolvem"?

®efeneto disse...

*iboter*
...irei já a traz desses "zunszuns" quando houver novidades aviso.
...em relação ao esquema de pagina acho ideia perfeita e funcional, irei pedir informações a pessoa amiga.

PortugaSuave disse...

Ibotter e efeneto
Remeter os marcadores para a barra lateral, com a quantidade actualmente existente (cerca de 70) não me parece atractivo. O exemplo que o Ibotter deu no “maumau” limita-se a 7 ou 8, e aí sim, funciona.
A outra possibilidade era reorganizar os marcadores com assuntos muito mais abrangentes.
Tratemos deste assunto por mail, pois parece-me completamente desajustado estarmos a usar esta cx de coment. para o efeito.
Cumprim.