Canas OnLine

10/09/2007

MEMÓRIAS DE UM CAMPEÃO [1]



[INTRODUÇÃO; AS ORIGENS; A INFÂNCIA; O INÍCIO DA CARREIRA]

Desde a sua fundação em 06 de Janeiro de 1934, até aos nossos dias, muitos foram os que envergaram oficialmente a camisola do Grupo Desportivo e Recreio de Canas de Senhorim (GDR), prestigiado e respeitado emblema, ao qual está associada uma história rica de feitos, que têm engrandecido de forma notável, nas mais variadas vertentes, a localidade em que se insere, de que faz parte e que lhe dá o nome.
Contudo, de entre todos os que tiveram esse privilégio e cuja existência é conhecida, António “Portugal” é o mais antigo.

[(Anos 60)Diamantino, Portugal, Monteiro, Xindera, Rogério, João Ricardo,
Hilário, Pais Correia (Treinador), Henrique Ferrador e Admeto Cunha
Sousa, Afonso, Pina, Evaristo, Irmão Jorge e Jorge (GR) ]
foto Arq. Amef

Se a este pormenor que julgo relevante e merecedor de ser distinguido, associarmos o facto de, no seu tempo, ter sido um atleta de elevada craveira e carisma, a par de uma conduta pessoal de que sempre fez alarde e que o tem dignificado e enaltecido, fica sobejamente justificada esta dedicatória e a ideia de escalpelizar toda a sua carreira desportiva, com especial destaque para os principais momentos, que a marcaram de forma indelével.
Num ano marcado pela histórica e memorável ascensão do GDR ao principal escalão do futebol distrital, torna-se imperioso dar a conhecer aos mais jovens o percurso daqueles que, pelos seus feitos e comportamento exemplar marcaram, também eles, uma época brilhante na vida, já longa, deste clube.
Quero dizer que foi, para mim, um prazer enorme conversar com o Senhor António “Portugal”, sobretudo pela disponibilidade com que acedeu a este convite, pela sua maneira de ser, simples e afável, chegando a ser comovente verificar o orgulho e a felicidade, que deixou transparecer no rosto e no olhar, pela oportunidade que estava a ter de falar da sua carreira ao serviço do GDR, instituição que se vê claramente, ama de forma incondicional e apaixonada.

Em Canas, rodeado de amigos - Sr.(s)João Leandro,Valdemar Ambrósio,José Nunes,Henrique Ferrador, Ilídio, Lóio, Jerónimo e Alberto Rato - festejando uma conquista internacional do Benfica nos anos 60 .

António José da Silva
António José da Silva, de seu verdadeiro nome, nasce no dia 10 de Setembro de 1926, na freguesia de São Romão, no concelho de Seia. De origens humildes, a mãe doméstica e o pai tamanqueiro não têm possibilidades financeiras que permitam condições de vida elevadas, acaba por viver a infância de forma idêntica há da esmagadora maioria das crianças do seu tempo, privada de luxos e repleta de dificuldades, consequência dos parcos recursos à disposição do agregado familiar. Abandonar a escola precocemente e ir trabalhar ainda na menoridade é o destino inevitável.
Tonito “Tamanqueiro”, nome pelo qual, numa primeira fase, é conhecido, por via da profissão de seu pai, começa a dar os primeiros pontapés na bola, mais a sério, por volta dos 15 anos de idade, em representação da equipa de Seia, para a qual é convidado, face à qualidade e ao talento que o seu futebol já denota e que ressalta de imediato. Numa altura em que o futebol organizado, disputado por equipas federadas, tal e qual o conhecemos nos nossos dias, ainda é uma miragem para a grande maioria dos clubes representativos das várias terras do nosso país, inclusive muitas com alguma dimensão geográfica e populacional, não esqueçamos que estamos nos anos finais de 30, princípios de 40, estes mesmos clubes à falta de campeonatos de futebol competitivos, disputam jogos de carácter particular, normalmente de âmbito regional, como forma de se manterem activos.
É neste tipo de futebol, com jogos disputados entre localidades vizinhas, emotivos sem dúvida, mas sem a carga competitiva que lhes confere o sabor especial, que António “Portugal” evolui durante 7 épocas, dos 15 aos 22 anos de idade. Destaca-se, apesar da sua baixa estatura, como ponta de lança, mercê da sua inata habilidade e capacidade concretizadora. Dotado de boa robustez física e velocidade a que alia um bom sentido posicional na área adversária, consagra-se como um exímio goleador, não sendo de estranhar o facto de ser alvo da cobiça de emblemas de superior prestígio.

“Portugal”
O episódio que irá determinar a imposição do apelido “Portugal”, que lhe vai estar associado até aos dias de hoje e pelo qual, aliás, é conhecido, ocorre neste lapso de tempo.
Naquele tempo já existiam as colecções de cromos identificativos dos jogadores de futebol, pertencentes às equipas da 1ª Divisão Nacional, ídolos dos rapazes que sonhavam ser como eles. António “Portugal”, também coleccionador, tendo em seu poder dez centavos, compra com esse dinheiro alguns pacotes de cromos. Verifica com espanto e alguma frustração à mistura que, no conjunto dos cromos, lhe sai em sorte cinco bandeiras de Portugal, em vez de jogadores de futebol. Sem esmorecer, ocorre-lhe uma ideia que lhe irá marcar a vida no plano pessoal, provocando a criação do seu próprio apelido. Passado pouco tempo, após esta ocorrência, apresenta-se em Gouveia para jogar pela equipa representativa de Seia, equipado de forma “sui generis”, com as bandeiras colocadas nas meias, três bandeiras numa meia e as outras duas bandeiras na outra meia, bem visíveis, o que causou admiração em todos. Ganho o jogo por parte do Seia por expressivos 3-0, com todos os golos a serem apontados por parte do jogador que tem as bandeiras de Portugal nas meias, o jornal de Gouveia do dia seguinte releva e destaca esse “hat-trick”, feito cometido pelo jogador que apelida de “Portugal” pelo facto atrás mencionado, que classifica como o herói do jogo.
Passa a ser conhecido, a partir daí, por “Portugal” e é com essa fama e auréola, que ingressa aos 22 anos de idade no Viseu e Benfica, pronto para disputar a época de 1948/49 na 1ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Viseu.
São as peripécias que vive ao serviço do Viseu e Benfica e outros factos posteriores da sua carreira desportiva, que irei relatar noutro capítulo.

Canas de Senhorim, 24 de Agosto de 2007
ANTÓNIO JOSÉ DA ROSA MENDES

3 comentários:

PortugaSuave disse...

Realço o sentido de oportunidade desta homenagem ao Sr. António Portugal, agora que comemora o seu 81º aniversário. Muitas vezes, na azáfama do presente esquecemos o passado, esquecemos as pessoas que com o seu carácter, o seu temperamento, o seu esforço e a sua glória, engrandeceram a nossa terra. Fico muito satisfeito por este trabalho que promete desvendar o percurso daquele grande canense, uma história de vida que se adivinha plena e que corre de forma brilhante na pena do Tó-Zé.
Os meus sinceros cumprimentos a ambos e um aplauso enérgico ao Sr. Portugal. Feliz aniversário.

ibotter disse...

Parabéns ao Sr. Portugal
e ao "Tó-Zé" que tb é um campeão por muitas razões!

Ficamos à espera do px capítulo...

Ana disse...

Era impossivel deixar passar em branco uma data tao memoravel quanto esta...!81 aninhos não se fazem todos os dias! Parabéns Sr. Portugal! Foi com muito gosto que li e fiquei um pouquinho mais informada de todas as suas andanças e façanhas!Além de tudo o que ja todos (falo em nome de Cabrais e Candeias)sabemos sobre o Sr. Portugal e que nos faz sentir orgulhosos de o termos na nossa companhia; ficou agora uma "pequena" amostra do grande Homem que é e será ainda por muitos anos o nosso querido Sr. Portugal! Mais uma vez, Feliz Aniversário!