Canas OnLine

18/09/2007

Memórias de um Campeão [2]


A CARREIRA DESPORTIVA: VISEU E BENFICA E EMPRESA DE URÂNIO DA URGEIRIÇA

Em 1948, com 22 anos de idade, jogador de boa reputação e já com créditos firmados, António “Portugal” ingressa com toda a naturalidade no Viseu e Benfica
, popular clube, filial do Benfica na cidade de Viseu, dotado de grande prestígio e nomeada, com pergaminhos no desporto-rei, não só a nível distrital mas também nacional.
Este salto qualitativo na sua carreira, em que passa a representar um clube de maior projecção, verifica-se como corolário lógico do trabalho que vem desenvolvendo, em que manifesta de forma clara a sua classe e os seus dotes de futebolista de eleição e de dimensão acima da média.
É com indómita vontade que agarra esta oportunidade, para confirmar e cimentar o estatuto que construiu com mérito próprio, ciente de que não pode defraudar quem nele tanta confiança depositou. Imbuído deste estado de espírito apresenta-se em Viseu para dar início à sua aventura ao serviço do Viseu e Benfica e disputar a 1ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Viseu, época de 1948/49.

Campeão Distrital
A época de estreia no clube viseense acaba por lhe correr de feição, com a conquista do título de campeão distrital da 1ª Divisão e consequente subida à 2ª Divisão Nacional, pois na altura não existe a 3ª Divisão Nacional. Para António “Portugal” este momento é inolvidável, considera-o como um dos mais brilhantes da sua longa carreira, para além de lhe proporcionar a disputa de encontros num escalão de outro nível, com outra visibilidade e com jogadores mais dotados do ponto de vista técnico e físico. Adapta-se bem à mudança de ares, sente-se feliz com esta experiência, por isso vai permanecer no Viseu e Benfica mais uma época.
Se na primeira época vive momentos agradáveis e inesquecíveis, na segunda o cenário altera-se e transforma-se em sentido oposto. Caracteriza-se por experiências e emoções desagradáveis, impensáveis de ocorrer uns meses atrás e que o vão obrigar a reflectir profundamente sobre o seu futuro. A equipa, à semelhança da época transacta, treinada por Joaquim Alcobia, acaba despromovida, regressando à 1ª Divisão Distrital.
Para além do revés no capítulo desportivo, a época revela-se muito atribulada também do ponto de vista financeiro, com o incumprimento dos compromissos tidos com os jogadores, problemas esses que geram mal estar e que se reflectem no rendimento da equipa.
Frustrado, desiludido com o clube que lhe deve parte das verbas a que tem legitimamente direito, António “Portugal” pondera e determinado como é seu apanágio, não se dá por vencido e decide abandonar o projecto viseense, partindo à procura de outros horizontes e melhores condições de vida, que era quase impossível, na época, conseguir só à custa da prática do futebol.

Xico da Mata, Barata, Lapa (GR), Monteiro, Fernando Santos, Vasco , Ilídio,
Henrique Fernandes (GR) , Valdemar e Sousa.
Antº José, Costa Marques, Arlindo, Albertino, Cardoso, Felgueiras, Portugal e Palhinha.
CAT dos Fornos eléctricos no Campo da Urgeiriça _ Anos 60 foto Amef

Filho Adoptivo de Canas

Estamos em 1950 quando, com 24 anos de idade, por sua iniciativa se desloca a Canas de Senhorim, à época um importante pólo industrial a nível nacional, a fim de falar com o Mestre Vítor que trabalha nos Fornos Eléctricos e que conhece, com o objectivo claro de tentar arranjar emprego, que lhe permita assentar e começar a construir um futuro que almeja próspero e risonho.
Apesar de todos os esforços envidados, não consegue ser admitido na CPFE. Ambicioso, sem nunca perder a motivação que o traz a estas paragens, continua a porfiar na tentativa de alcançar os seus objectivos. Com a ajuda prestimosa do senhor Lóio e do Senhor Machadinho acaba por ser colocado nas minas de exploração de urânio da Urgeiriça, dando o primeiro passo para se tornar um filho adoptivo de Canas de Senhorim.

Com a mudança que se opera na sua vida pessoal, passa a residir numa casa próxima da oficina do Senhor Coelho, sita na Rua Arquitecto Keil do Amaral, um pouco antes das instalações dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim, propriedade dos pais do saudoso António Pais Correia com quem, a partir daí, estabelece uma forte amizade que se virá a revelar muito importante no futuro.
Com a vida estabilizada, prossegue a sua carreira futebolística ao serviço da equipa representativa da empresa de urânio da Urgeiriça, durante seis épocas. Nesse período de tempo disputa o campeonato distrital da FNAT, entidade que viria, anos mais tarde, a dar origem ao INATEL, organismo vocacionado para estimular e promover o exercício de actividades desportivas, recreativas e culturais, no seio dos trabalhadores das empresas.
Entre 1950 e 1956 sagra-se cinco vezes campeão distrital da FNAT tendo, como consequência desse facto, oportunidade de disputar jogos, dentro do mesmo âmbito, nos mais variados pontos do país.

"Evaristo": A Estrela da Companhia, de "ponta" a defesa esquerdo uma longa carreira.

Nestes seis anos foram seus companheiros de equipa entre outros, a quem António “Portugal” pede desculpa pela omissão, jogadores como Pirolito, Afonso, Evaristo, Pepe, “Russo”, João “do Luís”, Ramiro, Luzia e “Bimbareka”. Foi orientado neste lapso de tempo pelo Senhor Costa Rodrigues e pelo Senhor Moreira. Os jogos disputam-se no, ainda existente mas bastante degradado, campo de jogos da Urgeiriça, contíguo à Casa de Pessoal.


"Afonso": Elegante e Cerebral

Em 1956 a empresa de exploração de urânio da Urgeiriça é extinta para dar lugar, pouco tempo depois, à Junta Nacional de Urânio , cuja administração delibera acabar com a equipa de futebol, não continuando a disputar os campeonatos da FNAT, durante os quais tinha granjeado enorme prestígio e notoriedade.
António “Portugal” tem 30 anos de idade e como a vida não pára, vai abraçar uma nova etapa na sua vida pessoal, que lhe permite mais uma experiência na sua carreira desportiva, porventura a mais apaixonante e marcante, ao serviço do Grupo Desportivo e Recreio de Canas de Senhorim.
São estes momentos e peripécias que irei revelar no próximo capítulo.

Canas de Senhorim, 29 de Agosto de 2007
ANTÓNIO JOSÉ DA ROSA MENDES

1 comentário:

PortugaSuave disse...

Tó Zé, muitos parabéns pelo excelente trabalho que aqui nos deixas. Esta e muitas outras histórias de vida merecem ser contadas e ninguém melhor que tu para lhes dar o timbre emocionante que elas encerram. Um grande abraço.