Canas OnLine

02/10/2007

"PORTUGAL" MEMÓRIAS DE UM CAMPEÃO [ 3 ]



A CARREIRA DESPORTIVA: AO SERVIÇO DO GDR DE CANAS DE SENHORIM; O FIM DA CARREIRA; O DIRIGENTE DESPORTIVO
por
António José da Rosa Mendes

CAT dos FORNOS no Campo da Urgeiriça

Portugal, Antº José, Valdemar, Costa Marques, Herculano, ?, Barata

Monteiro, Silva, Dirceu, Rogério e Cardoso.

Extinta a empresa de exploração de urânio das minas da Urgeiriça, que irá dar origem mais tarde à Junta Nacional de Urânio (JNU), das várias consequências que daí resultam, a impossibilidade de continuar a praticar futebol, ao serviço daquela empresa nos campeonatos da FNAT, é uma delas. António “Portugal” não desarma e procura dar um novo rumo à sua vida. Passado pouco tempo, consegue arranjar emprego na então próspera Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos (CPFE), facto este que lhe vai dar possibilidade de iniciar, no Grupo Desportivo e Recreio de Canas de Senhorim (GDR), uma ligação desportiva que vai perdurar durante catorze épocas, estamos em 1956 e tem trinta anos de idade.
Encontra no clube o saudoso António Pais Correia, treinador da equipa, figura carismática, possuidor de um valioso curriculum, como jogador de futebol, que muito o prestigia e torna respeitado. A ele já o ligam fortes laços de amizade, desde os tempos da sua chegada a Canas, que se vão fortalecer ao longo dos anos seguintes. António “Portugal” destaca a forma calorosa como Pais Correia o recebe e como este homem, referência do futebol canense, o ajuda na adaptação ao clube, incutindo-lhe desde cedo os valores certos, os ideais que o levam a gostar e a viver de forma especial o GDR, a mística corre-lhe no sangue graças ao grande timoneiro. Vão viver, lado a lado no clube, uma relação desportiva de treze anos, sendo esta desfeita no final do penúltimo ano de António “Portugal” ao seu serviço, quando no início da época de estreia na 1ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Viseu, o técnico Pais Correia depois de comandar a equipa que se viria a sagrar campeã distrital , está de saída para o rival Sport Lisboa e Nelas, estamos na época de 1969/70. Regressará no ano seguinte, para ficar ligado a mais um título, desta vez com os Júniores.

Portugal a Esposa D. Isaura e a filha Rosa com os amigos _ Serafim Ferreira, João Leandro, Valdemar, César Jerónimo, Lóio, Nunes, Pais Correia e Esposa Mariazinha Lopes_ na Pensão do Pais Correia que depois de uma brilhante carreira de jogador ao serviço do Atlético, Almada e Académica de Coimbra, regressa a Canas para se tornar no 1º Técnico duplamente campeão pelo GDR em Séniores e Júniores.


Ao longo da sua passagem pelo GDR, vive momentos de esfusiante alegria e grande felicidade, a par de outros de alguma desolação e tristeza. É testemunha das enormes dificuldades que acompanham os clubes de menor dimensão, sendo nas situações difíceis que acaba por revelar o seu amor a este emblema, que desde cedo o cativa e apaixona.
Paradigma e exemplo do que atrás fica escrito, está o facto de, durante cinco épocas consecutivas, com início no seu ano de estreia (de 1956 a 1961), evitar que o clube feche as portas, ao pagar na mesma proporção, com a colaboração do treinador da equipa António Pais Correia, a indispensável inscrição na Associação de Futebol de Viseu, cujo montante total orça na importância de 100$00, dinheiro vigente na altura.
Ponta de lança temível, codicioso, rápido e possuidor de boa técnica, faz alarde do seu bom jogo de pés e cabeça, apesar da baixa estatura que o caracteriza. É dele, durante alguns anos, a camisa número nove. Acaba a carreira no GDR, a jogar na posição de defesa central, lugar táctico de não menos importância mas de menor desgaste físico, que se coaduna e está em consonância com a sua idade, que avança de forma inexorável, pelo que nesta fase passa a ser sua a camisa número cinco.
Destaca, naturalmente, como o momento mais alto que vive ao serviço do GDR, a subida à 1ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Viseu, como consequência do facto de se ter sagrado campeão da 2ª Divisão Distrital, feito que se concretiza na época de 1968/69 e que marca a história desportiva do clube. Elege este momento como digno de figurar, pela sua importância e prestígio, ao lado daquele que tinha vivido, alguns anos antes, ao serviço do Viseu e Benfica, com a conquista do título de campeão da 1ª Divisão Distrital da AFViseu.
Dos companheiros que com ele jogam no GDR destaca, com desculpa para aqueles de que se possa esquecer, os seguintes: Mário “Bichas”, Joaquim de Sousa, Afonso, João “do Luís”, Evaristo, Acácio, Loio, Valdemar Ambrósio, Dr Lello, Monteiro (Vale de Madeiros), Zé Herculano, Tino e Armandito.

HERCULANO : O mítico "KEEPER" do GDR

No seu último ano ao serviço do GDR, que coincide com a estreia do clube na 1ª Divisão Distrital, acumula as funções de jogador com as funções de treinador. É o culminar brilhante de uma ligação desportiva, ininterrupta, que teve início catorze anos antes (de 1956 a 1970), se entrou com trinta anos de idade sai, pela porta grande, com quarenta e quatro anos. Mantém o clube no lugar que lhe pertence e perde este, por motivo das voltas que a vida dá e das vicissitudes que lhe estão inerentes, um dos maiores símbolos da sua longa história, está na hora de abraçar novos projectos e experiências e é isso que vai acontecer. No verão de 1970, ruma para a antiga República Federal da Alemanha, á procura do sonho de uma vida melhor, aproveitando da melhor maneira uma oportunidade que lhe surge.
Com o vício do futebol bastante entranhado, António “Portugal” continua activo, mesmo a residir e a trabalhar no estrangeiro. Durante oito anos, de 1970 a 1978, acumula as funções de jogador e treinador nas equipas de Mainz e Bisbaden, no âmbito das missões católicas portuguesas. Em 1978, com cinquenta e dois anos de idade, decide colocar um ponto final na sua longa e extensa carreira desportiva ao serviço do futebol. Foram trinta e sete anos de dedicação a este desporto, que honrou e prestigiou como ninguém, sabendo manter sempre, em todas as circunstâncias, uma conduta e postura, dentro e fora das quatro linhas, irrepreensível e digna, sendo por isso considerado um atleta de grande carisma, estimado e admirado por companheiros e adversários, deixando como legado o exemplo que sempre soube dar.
De regresso a Portugal no ano de 1979, com uma vida estabilizada e sempre com o seu GDR no coração, sem condições para o servir como jogador, naturalmente, não admira que venha a colaborar com o clube, desta feita na qualidade de dirigente, para o qual é convidado durante vários anos, face à sua sabedoria, experiência e forma de estar na vida, atributos reconhecidos por quem o convida. Nas décadas de 1980/90 exerce as funções de vice presidente da direcção durante cinco anos e as de vogal da direcção também durante vários anos.
Destaca os seguintes presidentes de direcção do GDR, que teve oportunidade de conhecer de perto, ora como jogador, ora como dirigente: Serafim Ferreira, Mário Ferreira e João Adelino, durante o período de 1956/1970, lapso de tempo em que é praticante de futebol do clube e António Mouraz e José António de Figueiredo, já nas décadas de 1980/90 em que é dirigente desportivo desta instituição.
Actualmente, com a bonita idade de 81 anos, continua a viver em Canas de Senhorim, de uma forma tranquila, a gozar a reforma merecida, mantém um aspecto físico invejável fruto da prática assídua de passeios de bicicleta, que tão bem lhe fazem. Não servindo o clube nas suas várias vertentes, fruto da sua provecta idade, gosta contudo de falar sobre ele, quando para tal lhe dão oportunidade, que não enjeita de forma alguma. Eu vi isso nos seus olhos, claramente. Que assim seja por muitos e longos anos, de forma a poder manter o estatuto de sócio nº 1 do GDR, que ostenta há alguns anos. Obrigado campeão, pelo prazer que me deu em falar consigo sobre esta faceta da sua vida. Aprendi mais alguma coisa, estou mais enriquecido.
No próximo capítulo, o último, irei contar algumas curiosidades que se verificam naquela época, principalmente nas décadas de 1950/60, em que António “Portugal” evoluiu como jogador do GDR. Até lá.

Canas de Senhorim, 07 de Setembro de 2007

ANTÓNIO JOSÉ DA ROSA MENDES

4 comentários:

PortugaSuave disse...

Esta história de vida é verdadeiramente emocionante. Mais uma vez parabéns ao To´Zé pelo excelente trabalho.
Cumprim. e um abraço
PS. Já agora Tó Zé vê lá se apareces por aqui mais vezes... é um gosto ler-te... e porque não aderires ao blog como colaborador!!

Pombo correio disse...

Gostei muito.

São estas histórias que nos ajudam a perceber o nosso passado, aqueles que há muito levaram as nossas cores por essas terras fora, aqueles que dignificaram o nome da nossa terra.

Parabéns Tó Zé

Anónimo disse...

Bravo TóZé por conseguires dar forma à nossa história.O Sr Portugal,que aproveito para felicitar, é uma lenda viva (sócio nº 1 é obra!)
PS. As referências simpáticas que dispensas ao meu pai encheram-me de orgulho!
Obrigado a ambos.

Anónimo disse...

PARABÉNS TÓ ZÉ PELA TUA INICIATIVA E PELAS REFRÊNCIAS ELOGIOSAS AO ENORME PAPEL DESEMPENHADO PELO MEU PAI EM PROL DO FUTEBOL DE CANAS EM ESPECIAL E DO FOMENTO DO DESPORTO EM GERAL!...
Um gr bem-haja!
* Já agora deixo-te uma sugestão: porque não penas em compilar a "HISTÓRIA DO GDR"... Urge talvez entrevistares o Mário Machado ( Machadinho) e também o pai do Mário Alberto que mt terão a dizer sobre o passado mais remoto do GDR! E è URGENTE salvaguardar a MEMÓRIA, sob pena de não termos referências, certo?
Podes contar comigo! Um gr abração
JORGEPAISCORREIA
ao