Canas OnLine

21/12/2007

Memória municipalista



Os pelourinhos apresentam-se como monumentos do municipalismo, foram emblemas de autonomia municipal e, ao mesmo tempo símbolos de jurisdição e instrumentos de justiça.
O nosso pelourinho remonta, provavelmente, ao primeiro quartel seiscentista. Erguia-se na Praça, ao lado dos Paços da Câmara, edifício vendido em hasta pública em 6 de Junho de 1862 e posteriormente demolido. Não é possível determinar o preciso local onde estava implantado. Certo é que foi utilizado para a afixação de editais e de éditos de convocação para a correição.
Não se sabe, em rigor, se foi instrumento penal, mas testemunhou um dos episódios mais trágicos na vida dos habitantes de Canas. Nele foram fuzilados, por soldados de Massena, dois agricultores que não se subjugaram ao exército francês.
Deslocado do seu lugar primitivo para defronte dos novos Paços Municipais, onde hoje se vê, aquando da restauração do concelho de Canas de Senhorim, em 1867, o secular padrão iria assistir, por pouco tempo mais, ao funesto esboroar da autonomia que simbolizava.
Em 1897, a pretexto de estorvar o trânsito, não resistiu aos “desatinos destruidores de uma torva conjura de botica”. Um grupo de cidadãos decidiu derrubá-lo.
Assim se manteve 38 anos até que, em 15 de Dezembro de 1935, foi reerguido no mesmo local do anterior, o pequeno largo então denominado Praça da República.
Em 1 de Setembro de 1984 voltou a ser derrubado, mas desta vez inadvertidamente, por um veículo que o abalroou.
Por deliberação da Junta de Freguesia, de 29 de Janeiro de 1987, foi mandado reconstruir, sendo inaugurado no dia 2 de Agosto de 1987, por altura das festas da Freguesia.
Colocado no Largo a que deu o nome, apresenta ainda o granito alvo. Não sendo o pelourinho original, é um monumento, porque está agarrado à história do velho burgo municipal. Perpetua a memória de tempos idos e clama, silencioso, por esses foros municipais perdidos.


adaptado do texto "O Pelourinho de Canas de Senhorim", de António José Cardoso de Oliveira, publicado no livro "Canas de Senhorim, História e Património",JFCS, Evaristo João de Jesus Pinto

7 comentários:

MANUEL HENRIQUES disse...

A história da conjura de botica deixou-me estarrecido quando dela tive conhecimento ( Creio no livro do Mota Veiga sobre o concelho de Asnelas).

O tópico daS invasões francesas desperta-me bastante interesse ( O livro do Pinto Loureiro, citando o Juiz Utra Machado, refere-se a esse periodo). Conhece outras fontes documentais?

Anónimo disse...

Parabéns ao Ant. José Oliveira pelo seu trabalho pra a reconstrução do Pelourinho de Canas, símbolo maior da ancestralidade canense, contrariamente ao que acontece com Asnelas, que é uma terra sem história , pese todos os truques utilizados pelo BOTAS DE VILAR SECO e seus acólitos!...
Zé Canas

Anónimo disse...

PARABÉNS AOS CRIADORES E INSPIRADORES DO PCR!... A LUTA CONTRA A PREPOTÊNCIA E TIRANIA DE ASNELAS TEM DE CONTINUAR!...

Anónimo disse...

Sou interessado pelo património "histórico" construído. Sei, apenas, que o Pelourinho de Canas de Senhorim é um MONUMENTO classificado como Imóvel de Interesse Público. O estudo, da autoria de António José Cardoso de Oliveira, merece-me o maior crédito. Por isso, vou procurá-lo numa biblioteca pública para o conhecer melhor.

Anónimo disse...

O autor do estudo do pelourinho de Canas de Senhorim também foi o autor do projecto do mesmo restaurado em 1987 na sua forma original. Parabéns ao "canense" António José Cardoso de Oliveira.

PortugaSuave disse...

Recomendo vivamente a leitura integral do texto do Antº Cardoso na publicação referenciada. Nele constam as fontes e as referências bibliográficas usadas.
Realço o trabalho extraordinário de Antº Cardoso no estudo do nosso Pelourinho e do nosso património em geral.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Projecto retirado de uma fotografia da época, inserido no livro de Pinto Loureiro "Concelho de Melas".