Na primeira pessoa
Um dia destes, escapando-me do sol inclemente e dos fedorentos contentores colocados junto à minha casa (nem sei se lhe posso chamar assim pois começo a interrogar-me como vou acabar de a pagar!) efectuei, em vez da pouco convidativa e contra-indicada caminhada, um pequeno passeio pelo Bairro da Urgeiriça, usufruindo a fresca sombra proporcionada pelos frondosos plátanos e tílias dispersos pelas bermas das ruas e jardins.
Já no fim, depois de revisitar o depósito e forno comunitário, sentei-me no muro que contorna o velhinho e de novo abandonado campo de futebol. Ali, à minha frente, a baliza norte, tinha um encanto especial. Era nela que com os colegas realizávamos os treinos de finalização (o muro livrava-nos de ir buscar as bolas à horta do Dias, como era na do lado oposto). Era junto a ela – primeiro feita de madeira em quina viva e depois em ferro redondo- que tirávamos todas as fotografias!
Desfolhando mentalmente o meu livro de memórias, recordei particularmente dois golos que nela se registaram e como nunca mais vi: - Um do velho Portugal contra a “Lufapo”, de Coimbra, num voo rente ao chão, em que, depois de forte cabeçada, ele e bola só pararam quando a rede da baliza os impediu de prosseguir e baterem na barreira; outro do Pirolito contra a Previdência de Viseu, em que num lançamento lateral ele de costas e ainda distante da baliza indica com os olhos onde o colega deveria colocar a bola e repentinamente, sem a deixar cair, em rotação completa, faz um remate espectacular que resultou num golo que deixou todos perplexos.
Enlevado, não me apercebi da aproximação de um contemporâneo que parecendo adivinhar os meus pensamentos, friamente me aconselha: “ Recorda os bons tempos pois daqui a pouco este espaço será transformado. Têm andado por aqui arquitectos e topógrafos e deve estar a ser preparado algum projecto…”.
Triste fim para um espaço de tanta glória (não só do pessoal das minas mas também dos fornos e do desportivo)!
Sem rodeios, se os terrenos fossem meus, teria sempre que admitir a rua rentabilização. Mas, com a crise instalada no sector da construção civil, (lembro que os espaços para preservação da memória estão definidos e alguns já em fase adiantada de execução) pensaria duas vezes antes de gastar fortunas em projectos que tal crise condenaria ao fracasso e inviabilizaria qualquer retorno.
Mas os terrenos são da EDM, esta é maioritariamente do Estado Português e este somos todos nós. E (como disse o Dr. Ginestal e, honra lhe seja feita, sempre o confirmou) tendo esse Estado uma dívida de gratidão para esta terra porque todos nós contribuímos com os nossos impostos para a construção de um país socialmente mais justo e com o nosso trabalho lhe proporcionámos a obtenção avultados proventos, então, porque não dar à terra aquele insignificante hectare de terreno?
Sem dúvida que, para ele, haverá projectos bem mais úteis.
Deixo aqui o meu projecto. Como é gratuito, não liguem à escala nem critiquem os traços. Não sou especialista nem tenho grandes ferramentas! E será sempre para ficar disponível para toda a população.
Mas o que eu gostaria mesmo era daqui a uns tempos poder dizer ao senhor Portugal que, finalmente, um pouco do seu esforço tinha sido devolvido às pessoas que ele tanto estima.
Mais: Gostaria de pedir ao Pirolito para manter a garra que o tem mantido entre nós, na sua luta titânica contra a doença, para no dia em que o campo nos seja devolvido voltar-mos a fazer uma salada de tomate e atum, como tantas vezes fazíamos antes dos treinos.
Já no fim, depois de revisitar o depósito e forno comunitário, sentei-me no muro que contorna o velhinho e de novo abandonado campo de futebol. Ali, à minha frente, a baliza norte, tinha um encanto especial. Era nela que com os colegas realizávamos os treinos de finalização (o muro livrava-nos de ir buscar as bolas à horta do Dias, como era na do lado oposto). Era junto a ela – primeiro feita de madeira em quina viva e depois em ferro redondo- que tirávamos todas as fotografias!
Desfolhando mentalmente o meu livro de memórias, recordei particularmente dois golos que nela se registaram e como nunca mais vi: - Um do velho Portugal contra a “Lufapo”, de Coimbra, num voo rente ao chão, em que, depois de forte cabeçada, ele e bola só pararam quando a rede da baliza os impediu de prosseguir e baterem na barreira; outro do Pirolito contra a Previdência de Viseu, em que num lançamento lateral ele de costas e ainda distante da baliza indica com os olhos onde o colega deveria colocar a bola e repentinamente, sem a deixar cair, em rotação completa, faz um remate espectacular que resultou num golo que deixou todos perplexos.
Enlevado, não me apercebi da aproximação de um contemporâneo que parecendo adivinhar os meus pensamentos, friamente me aconselha: “ Recorda os bons tempos pois daqui a pouco este espaço será transformado. Têm andado por aqui arquitectos e topógrafos e deve estar a ser preparado algum projecto…”.
Triste fim para um espaço de tanta glória (não só do pessoal das minas mas também dos fornos e do desportivo)!
Sem rodeios, se os terrenos fossem meus, teria sempre que admitir a rua rentabilização. Mas, com a crise instalada no sector da construção civil, (lembro que os espaços para preservação da memória estão definidos e alguns já em fase adiantada de execução) pensaria duas vezes antes de gastar fortunas em projectos que tal crise condenaria ao fracasso e inviabilizaria qualquer retorno.
Mas os terrenos são da EDM, esta é maioritariamente do Estado Português e este somos todos nós. E (como disse o Dr. Ginestal e, honra lhe seja feita, sempre o confirmou) tendo esse Estado uma dívida de gratidão para esta terra porque todos nós contribuímos com os nossos impostos para a construção de um país socialmente mais justo e com o nosso trabalho lhe proporcionámos a obtenção avultados proventos, então, porque não dar à terra aquele insignificante hectare de terreno?
Sem dúvida que, para ele, haverá projectos bem mais úteis.
Deixo aqui o meu projecto. Como é gratuito, não liguem à escala nem critiquem os traços. Não sou especialista nem tenho grandes ferramentas! E será sempre para ficar disponível para toda a população.
Mas o que eu gostaria mesmo era daqui a uns tempos poder dizer ao senhor Portugal que, finalmente, um pouco do seu esforço tinha sido devolvido às pessoas que ele tanto estima.
Mais: Gostaria de pedir ao Pirolito para manter a garra que o tem mantido entre nós, na sua luta titânica contra a doença, para no dia em que o campo nos seja devolvido voltar-mos a fazer uma salada de tomate e atum, como tantas vezes fazíamos antes dos treinos.
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Gentilimente oferecido por:
João Marques
Gentilimente oferecido por:
João Marques
Jornal Canas de Senhorim
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1 comentário:
Segundo consta a luta pelo Campo de Futebol 11 continua...
Até poderá estar em más condições, pois infelizmente foi dado ao abandono pelas entidades detentoras do imóvel, mas quem passa, recorda memórias... consegue até ouvir a alegria de algumas centenas de pessoas entoar nas pedras daquele muro imponente...
Até poderá estar em más condições, mas porque se constróem de raiz novos campos, quando com meia dúzia de vontades reergueria-se este emblemático que transparece história e carácter...
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