Canas OnLine

11/09/2008

O Caminho Real/Estrada Velha

Antes de existir a estrada real que atravessa o Planalto Beirão desde Santa Comba até Mangualde, que foi unindo todas as povoações e cuja construção se terá iniciado após as invasões francesas, existiam já dois caminhos muito antigos, mais ou menos paralelos, que atravessam também o Planalto e que em Canas passam nos pontos mais altos a norte e a sul. Dum lado, vinda das Terras de Senhorim passa a estrada velha que ladeia o Folhadal, segue aos Carregais e à Pantanha, sobe ao Alto da Cumieira, à Lapa do Lobo e chega aos Fiais mesmo junto à Orca dos Fiais. Do outro lado, a estrada velha que vem desde Nelas (Asnelas na altura) e segue ininterruptamente até à entrada da Póvoa de Sto. António. Depois perde-se no início da estrada para as Laceiras, mas volta-se a encontrar mais adiante seguindo na direcção de Cabanas de Viriato.
O caminho que hoje propomos é exactamente um troço desta estrada que todos conhecem como Estrada Velha da Póvoa ou Caminho Real embora tudo leve a crer que é bem mais antiga que a existência da monarquia.
Os caminhos reais eram as vias de comunicação mais importantes no século XVI, e, segundo o livro “Peregrinatio Hispânia”, de Edme de Saulieu, Abade de Cister, [] que por eles andou em 1632 visitando os conventos da Ordem, estes caminhos seguiam habitualmente o traçado de estradas romanas já existentes. Mas, provavelmente este caminho é bem mais antigo porque à sua beira se encontrou o monumento fúnebre conhecido como a Orca das Pramelas (6.000 aC).
Prova de que este caminho velho foi estrada de romanos, que como se sabe estiveram na Península Ibérica a partir de 218 aC, embora nesta zona só por volta de 80-70 aC, são duas moedas romanas que se encontraram exactamente no desaterro da Orca das Pramelas.
Ainda segundo os relatos de viagem do Abade de Cister, que esteve em Canas e Vale de Madeiros, esta estrada era larga, plana e aprazível, beneficiando em muitos troços de boas vistas e boas sombras. Para quem tinha vindo do Lorvão e passado as serranias do Luso, atravessado rios e córregos a vau e fazendo grande parte do percurso por caminhos “de pé posto”, este caminho devia ter parecido uma auto-estrada.

Este livro, “Peregrinatio Hispânia” pode ser encontrado na biblioteca dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim.

(Maria José Santos; Ana Mouraz) no Jornal Canas de Senhorim, ed. Agosto2005


Orca das Pramelas

foto de LMPRosa


Memória da estrada da Póvoa,
também Estrada Velha ou Caminho Real...
e outras memórias (menos boas)
foto http://canasesenhorins.blogspot.com/

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