Canas OnLine

30/11/2008

Campanha Eleitoral "ad eternum"






Ainda não compreendo bem porque me deixo afectar tanto quando passo pelas coisas ... haverão concerteza inúmeras pessoas que por aqui passam todos os dias e nem se tocam!
Porque será que sinto que a minha casa não começa nem acaba na porta da Rua?
Não sei se pela idade ... mas milhares de memórias associadas a estes lugares assaltam-me em catadupa ...
Por exemplo, quando se esperava e desesperava pela abertura da passagem de nível, se fechada, à espera do rápido ... então negociavámos insistentemente com os nossos pais, para uma breve ida ao chafariz, matar a sede, quando tão somente o que queríamos era esticar as pernas e aliviar a espera ... eles já fartos, lá permitiam a saída do carro ...
Ou, na época que antecedia o Carnaval, ir espreitar o barracão do Sr. Mário Ferreira, numa louca correria de curiosidade infantil, tentando adivinhar os carros de Carnaval que ali se faziam ( do outro lado da rua ) para no dia seguinte, como se de um enorme privilégio se tratasse, poder dizer aos amigos da escola: "eu já vi um carro", às vezes nem a carcaça o era, mas aquele sentir, aquela importância posta nas palavras, como se fosse um assunto de gente grande ... ou se de um segredo de estado se tratasse!
Ou numa manobra muito mais arriscada, nos abeirássemos dos tanques da feira ( que hoje já não existem) onde habitualmente acampavam pessoas de raça cigana ... só pela inocente curiosidade de apreendermos os seus sinais ... apesar do medo que sentíamos!
Quando o campo da feira estava impregnado de "putos" que jogavam à bola, em pleno gozo da sua liberdade de crianças ou jovens, cansados mas felizes, essa liberdade que não ousamos dar hoje aos nossos filhos!
Quando, no chafariz, sucedia uma escorregadela desprevenida, para glaudio dos comparsas ... mas para o próprio e no Verão sabia que era um regalo ... valia qualquer vexame!
E o jogo lá prosseguia, sem equipamento, sem árbitro, nem espectadores mas com um enorme prazer estampado nas suas caras, apenas interrompido "para ver passar o comboio", era sempre um momento alto!
São estas memórias que me assombram, são estas mesmas que me fazem por vezes sofrer, quando me apercebo do estado das coisas que lhe estão associadas.
Muitas vezes (na época em que ainda não havia água canalizada) especialmente no Verão, não havia água a qualquer a hora ... os cântaros formavam uma fila por ordem de chegada ... frequentemente a água não abundava em quantidade suficiente para os encher a todos ... por vezes faziam-se verdadeiras peregrinações, de chafariz em chafariz...
Havia sempre um, que tinha água até mais tarde ....
Como pode estar tudo como está?
Como posso ficar indiferente?
Como posso considerar que tudo está bem?
Só se fosse inconsciente...
Só se fosse insensível...
Só se fosse acrítica ...
Só se não tivesse este sentir...
Só se não vivenciasse estes momentos...
Só se desmemoriasse de vez...
Só se daqui não fosse...
Ou daqui não gostasse...

9 comentários:

Pombo correio disse...

@Ana Mafalda

Apesar de ser um pouco mais novo, fui um desses putos que no largo da feira, joguei vezes sem conta à bola, ao berlinde, à ralha com os piões, ao preguinho à macaca, ao encurrala com a bicicleta do meu avô, subir às oliveiras, não era lá muito bom! Mas havia alguns que eram exímios na matéria. E para refrescar, lá ia-mos ao chafariz beber água. Recorda-me quando o calor era muito, não esquecendo que apenas usava-mos uns calções curtos, descalços e em tronco nu, colocava-mos a cabeça debaixo da torneira e de vez em quando lá vinha a Dona Adriana ou a Mãe berrar para não gastar-mos água!

Pois é, os tempos passaram e apenas ficam as memórias, felizes nas nossas cabeças e tristes aos nossos olhos, afinal o nosso património, está esquecido e deitado ao abandono. Ana Mafalda, obrigada por me ter feito recordar tempos de criança, "puto" cansado mas feliz e acima de tudo livre!

Ana Mafalda disse...

@Pombo correio ... é bem verdade que os tempos mudam e por cá tudo mudou, mas o nosso espólio memorativo podia/devia estar preservado ... acontece precisamente o contrário!

Remendo aqui, pintura acolá, biscate "la-bas"... como se isso nos devolvesse a dignidade perdida!

O nosso passado recente fragmentou por completo o nosso espectro político ... o que se avista é desmoralizador ... até uma lista MPT surge agora à Junta !!!! Com toda a legitimidade democrática é certo, mas não sei, é quase preverso!

Transformar Canas num qualquer centro rural é um objectivo ( para alguns) quase conseguido, a par com o estatuto de "Vila dormitório".

Nunca me resignarei a este destino!

Obg pelas suas palavras.

Cordialmente

PortugaSuave disse...

Memória sensitiva, constatação, indignação, inconformismo. Ana Mafalda no seu melhor.
Conheço esse pensar, esse fio condutor entre o passado e o presente, quase uma crise de identidade entre o que já fomos e o que já não somos.
Instalou-se em nós a inquietude de um certo sentir nacional, herdada historicamente do vazio que a glória do passado nos deixou.
Tudo muito português, tudo tão canense. Vã glória de mandar? (em nós próprios).
Não, não assim tão vã. Havemos de dar a volta a isto Mafalda.
Cumprim.

Ana Mafalda disse...

@PortugaSuave, a sua mensagem é de identidade e optimismo...

Confesso que tenho vindo a perder esse optimismo, eu que sou positiva por natureza, até nas horas mais amargas!

Daí a importância das suas palavras, como que a trazer novo folgo nova inspiração...

Deviamos TODOS ter inscrito no peito o nome de Canas, antes de MRCCS, PS, PSD, CDS, CDU, BE, MPT, PPM, etc, nem sei se há mais (?)

Tenho fé que em todos eles, existem pessoas idóneas, justas, sérias, altruístas e que querem o melhor para a sua Terra, pelo menos tenho essa esperança, malgrado aquilo que observo e sinto ... mas dificilmente terão poder para devolver a Canas o desenvolvimento que desejamos...

Quando a indústria "faliu" em Canas
foi sub-repticiamente desviada para a sede de Concelho e não para a zona em falta, foi esse momento de desatenção/ignorância/impotência pelo qual andamos agora todos a pagar...

A política de "inundar" as associações de verbas, na tentativa de nos comprar, não gera riqueza, não atrai população, não desenvolve Canas, não nos traz qualidade de vida, não nos dignifica ... é um desmesurismo infame, numa época de crise como a que estamos a atravessar!

Eu sei que é prática corrente em todo o país e porventura lá fora também, mas não deixam (para mim) de ser práticas enviesadas, a que todos os dias assisto.

A campanha eleitoral teve início há muito, sobretudo para quem detém o dinheiro e o poder, e com eles pode manipular a população, população essa que eu fazia mais crítica, mais exigente, mais reflexiva, mais esclarecida, mais consciente e menos vendida ...

"Havemos de dar a volta a isto" ... bem sei, só não sei é como ... só com um novo modelo de democracia, este está envenenado, pois serve só aos partidos e não ao povo!

Saudações

Cingab disse...

E que tal pegarem num balde com detergente, numa esfregona e irem limpar a pedra?

depois podiam vir para o blogue dizer:
"NÓS PODEMOS LIMPAR PEDRAS DA CALÇADA"

Ana Mafalda disse...

@Cingab, detergente e esfregona não funcionam neste caso, talvez resulte na cozinha.

Os impostos que pagamos são também para a limpeza dos espaços públicos, embora não me repugne nada, e faço-o frequentemente, limpar o passeio à porta de casa.

Quanto ao chafariz, este ou outro, no granito bojardado só resulta uma forte escova de arame e/ou máquina de pressão ou até jacto de areia ... ficaria num "brinquinho", já agora acrescentaria uma torneira digna, o reservatório traseiro limpo e arranjado, com plantas ornamentais aquáticas (higrófilas) e os ferros onde os cântaros assentam, repostos, um letreiro que informasse quanto à qualidade da água (potável ou não), o terreno envolvente valorizado ... e muito mais caso houvesse vontade, saber e imaginação!
Mas haverá pessoas com mais e melhores ideias, por exemplo você!

Cordialmente

manuel disse...

@ana mafalda, não se deixe abater. A populaça é assim mesmo. Festa e circo. Mas a sra. mas devia conhecer o meio que a rodeia. O poder e o dinheiro vergam muitas vontades. É fácil comprar e infelizmente, a oferta é grande! Valem-nos os tempos idos em que podemos relembrar a união e o apego que se nutria por Canas, sem outros interesses que não fossem o bem estar e satisfação de saber que eramos "falados" e reconhecidos. Por estes tempos é precisamente o contrário que nos assola. A ver vamos no que isto vai dar...

Manuel Vieira

in_culto disse...

@Cingab, pedra???
Então pedra = chafariz = fonte = calçada...
Quer-me parecer que está pior que eu!
O seu comentário destila fel.
Não sabe ser cordial.

AMPF disse...

De há três anos para cá, tem havido abertura por parte da Câmara. Não aquela que se pretende, mas a que tem sido possível. Se reflectirem bem, dão-se conta que foi feito algo, por pouco que fosse, em todas as Povoações da Freguesia. Muito mais do que nos anteriores mandatos. Segundo sei, há vontade de muito mais ser feito e também julgo que já se aperceberam disso (Carta educativa, etc.). Também sei que se perfilam vários grupos, apoiados por pessoas que tão mal fizeram a Canas e ás Freguesias limítrofes, ainda há bem pouco tempo a trás. Cabe a nós querermos que as coisas progridam ou regridam outra vez.
As minhas saudações.