Canas OnLine

21/09/2006

O Estilo e o Resto

A PRINCIPAL vantagem de José Sócrates reside no estilo. É isso que as pessoas mais facilmente apreendem.Muitas não sabem se algumas das medidas do Governo são boas ou más: o que vêem é o modo como Sócrates age, como fala, como se comporta – e, pelos vistos, apreciam.Embora tenha tido Guterres como seu padrinho político, o estilo de Sócrates tem mais a ver com o de Cavaco.É seco, cortante, às vezes agreste.Enquanto Guterres era redondo e gostava mais de falar do que de fazer, Sócrates é anguloso e faz mais do que fala.Ou, por outras palavras, fala pouco mas decide.
ISTO não significa que decida sempre bem.O Governo tem vindo a fechar maternidades e encerrar serviços públicos no interior do país, concentrando-os nas principais cidades.A medida visa poupar dinheiro – objectivo sempre louvável.Concentrando-se os serviços, o desperdício diminui, reduzem-se as despesas de funcionamento e os custos de pessoal, conseguem-se sinergias, racionalizam-se os gastos.A bancada do Governo aplaudiu sem reservas as medidas – e mesmo personalidades da oposição, como Manuela Ferreira Leite ou António Borges, apoiaram a decisão.Os que, quase a medo, a criticaram, foram acusados de irresponsabilidade e rotulados de opositores sem princípios.No entanto, estavam cheios de razão.
NO ENCERRAMENTO de maternidades e de serviços públicos no interior, o problema principal não é o problema financeiro – é o problema político.O que está em causa não é uma despesa – é uma estratégia.E nessa estratégia é preciso ter em conta que a diminuição de nascimentos e a desertificação do interior do território são dois dos grandes problemas nacionais.Um país onde nascem menos crianças é um país envelhecido e doente – um país sem esperança e sem futuro.E um país desertificado, em que largas áreas são deixadas ao abandono, é um país desequilibrado, que amanhã estará cheio de problemas.
POR ISSO, neste momento, o caminho certo não era fechar maternidades, enviando as grávidas para as grandes cidades ou para Badajoz: era, pelo contrário, favorecer a natalidade, procurando inverter a situação actual.O caminho certo não era fechar serviços na província: era, pelo contrário, fazer tudo para que as pessoas não fugissem do interior, fixando-as nos locais onde vivem, facilitando-lhes a vida, promovendo o emprego.Tudo isso custa dinheiro?Pois custa.Mas é preciso saber onde poupar e onde investir – e, nesta altura, o combate à diminuição de nascimentos e a luta contra a desertificação do interior do país são dois objectivos onde é preciso gastar.O povoamento do território, quando foi feito, custou caro; mas alguém põe em causa o dinheiro gasto?
ACRESCE que uma das missões do Estado é dar à sociedade os sinais certos.Ora dificultar os nascimentos, dificultar a vida no interior, acabar com postos de trabalho nas vilas e pequenas cidades, são tudo sinais errados – que dão a entender que o Governo está resignado com os desequilíbrios que existem e até os favorece e estimula.É preciso dizer mais?
Política a sério _José António Saraiva in "Sol"
http://sol.sapo.pt/

5 comentários:

Sr. Fulano Tal disse...

O que chateia nesta politica é a falta de coragem para assumir o que realmente se quer.

Cidades maiores e com infrastruturas rentaveis, fruto de maior densidade populacional. Com o poder autarquico que temos, que curiosamente agora se queixa de uma lei de finança locais que diz não servir os seus interesses, mas que mais não faz do que a nível local implementar esta politica centralista e que, leva aà desertificação.

Ao menos transformem o resto do país em parque natural. :P

Cumprimentos

Cingab disse...

Andam os canenses a dizer isso há anos!... Temos de nos resignar?...

ibotter disse...

parque natural com reserva de índios que não se resignam

Anónimo disse...

Cingab isso nunca! temos que ser pacientes, porque os ventos podem mudar e ficar novamente a nosso favor!Pode estar aqui um sinal.

Achadiça disse...

A solução, embora simplista, parece-me eficaz:
Façam filhos, muitos. Vão ver que as escolas não fecham e as maternidades não são deslocadas, ou então façam como certo presidente de câmara, que recrutou famílias brasileiras e ucranianas com elevado número de descendentes. Na falta de "contributo" da prata da casa, urge uma política de imigração adequada (machos e fémeas com elevados índices de reprodução).
Boas e muitas bicadas
p'ra que as terras não fiquem abandonadas