Canas OnLine

25/10/2006

Canas de Senhorim _ Os Lugares e os Nomes

CANAS DE SENHORIM Os Lugares e os Nomes

Ana Mouraz
in catálogo do Núcleo Filatélico e Numismático da AHBVCS

O Núcleo Filatélico pediu-me que escrevesse 2 páginas sobre o Património Cultural de Canas de Senhorim, num ângulo diferente daquele com que outros escreve­ram sobre o tema, nos 4 catálogos que o Núcleo já publicou. Esta é uma tentativa de dar conta da tarefa...

Qualquer obra da especialidade identifica cultura como a mais valia que os seres humanos acrescentam à sua vida biológica. Incluem-se nessa mais valia as gran­des obras do génio humano, desde a Arte à Ciência, mas também os instrumentos e os usos que lhes são dados e, ainda, as narrativas, mais ou menos fantasiosas, que um determinado grupo social arranja para explicar como qualquer coisa passou a ser, ou a chamar-se como tal.

Daí que este meu ângulo pretenda associar a toponímia (os nomes dos luga­res) com as explicações lendárias que lhes estão na origem. Não se trata, como é evidente, de património cultural material, mas mesmo esse nada significa se não for objecto de uma interpretação, que lhe confira significado e valor1. Trata-se de contar pequenas histórias de anti-heróis que a memória colectiva foi guardando, e passando de geração para geração. A identidade do nosso espaço público de canenses está, também, aí.

As lendas que a seguir se recontam foram recolhidas da oralidade. É possível que existam outras versões: cada um conta a história como a sente. Nem por isso tem menos realidade.

1 De que adianta ter uma Igreja que é monumento barroco se as pessoas não sabem o que isso significa? Como pode preservar-se o que não se conhece?

Lenda da Zefa da Feira

(Rua da Zefa da Feira - Canas de Senhorim)

O REI D. CARLOS I (1863-1908)*

Por trás da Praça existe uma rua que há alguns anos atrás foi rebaptizada com o nome de zefa da Feira. Alguns dos moradores ainda hoje continuam a chamar à sua rua, rua da Lage, que é o nome que tinha então, talvez porque não saibam que a Zefa da Feira foi a responsável pela criação da feira mensal em Canas. Mas não é essa a história mais interessante desta vendedeira de pão-de-ló. Conta a lenda que numa das vezes que D. Carlos veio a esta zona, porque a rainha D. Amélia vinha fazer termas na Felgueira, a zefa da Feira avistou-o e achou que ele era um bonito homem – um verdadeiro Rei. Vai daí deve ter conseguido arranjar uma estampa com a figura do rei que passou a venerar como uma figura divina. Quando foi o regicídio e depois a implantação da Repú­blica, a Zefa da Feira manifestou-se ruidosamente contra tais acontecimentos. Por isso foi presa, sob a acusação de crimes políticos. Esteve presa durante dois dias, que foi o tempo que a polícia levou a descobrir que a zefa da Feira não percebia nada de política, nem era um perigo para a República, apenas estava apaixonada pela linda figura do rei D. Carlos.

Rainha D. Amélia
Frequentava as Termas da Felgueira

*Rei da quarta dinastia e o 13° rei de Portugal, filho primogênito do rei D. Luís I e da rainha D. Maria Pia, nasceu em Lisboa em 28/09/1863.

Foi batizado com o nome de Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo Gota.

Material do NFNAHBVCS enviado por Amef

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