A(s) Facada(s)
A propósito do Carnaval...
por PortugaSuave
A tentativa de ensombrar o nosso Carnaval, levada a cabo pela Câmara Municipal de Nelas, desde que em 1977 se prestou a incentivar e apoiar uma cópia do Carnaval de Canas de Senhorim, é sobejamente conhecida dos canenses e já não nos suscita qualquer comentário, senão o de registar as mentes perturbadas dos fomentadores de tal recriação. Porém, julgo importante recordar e esclarecer as circunstâncias que levaram à criação da macaquice do carnaval de Nelas. A ancestralidade do carnaval de Canas de Senhorim perde-se no tempo e na memória. Segundo reza a história, há 300 anos que se vem realizando regularmente, constituindo, pela sua tradição e genuinidade, caso ímpar no panorama nacional. Das suas características peculiares, mantidas até aos dias de hoje, realço a sua originalidade, assente na saudável rivalidade entre os principais bairros da terra (Paço e Rossio) e a diversidade de costumes que animam, não só os quatro dias de folia, mas também os que os antecedem. O facto de nunca ter cedido a influências brasileiras confere-lhe um cunho tipicamente popular, bem patente no ritmo das marchas dos corsos e nas Bandas de Música que as interpretam.
Foram estas
particularidades, aliadas à dedicação com que as gentes de Canas se entregam à sua festa de eleição, que colocaram Canas de Senhorim no roteiro de milhares de visitantes e foliões que anualmente nos procuram para desfrutar e participar no nosso carnaval. Uma festa do povo para o povo, gratuita e espontânea, como refere António João Pais Miranda na publicação
Canas de Senhorim – História e Património.Ora, perante tal evidência, o mínimo que seria de esperar dos responsáveis camarários (Câmara Municipal de Nelas) era que apoiassem e difundissem este evento, assumindo-o como património cultural da região, elegendo-o como ex-líbris do calendário festivo do município e promovendo-o eficazmente.Mas não. Muito pelo contrário. O que a Câmara Municipal de Nelas fez no ido ano de 1977,
foi incentivar a recriação na sede do município (Nelas) de
um carnaval artificial, tirado a papel químico do nosso. Simularam uma rivalidade ficcionada entre dois bairros postiços e saíram ao embuste, sem pejo nem dignidade.Ocorre-me aqui a leviandade de imaginar o que seria se a Câmara do Carregal, inspirada pelo plágio da sua congénere nelense, importasse a vetusta e tradicional Dança dos Cus de Cabanas de Viriato para o Carregal do Sal. Impossível! Pertencesse Cabanas ao concelho de Nelas e asseguro-vos que o “bate cu” há já muito tempo seria parte do folclore “genuinamente nelense”.Este fenómeno de decalque reflecte a inconsistência histórica e cultural da vila de Nelas. Constituída sede do concelho e criada administrativamente do nada, sem história nem memória, por força de Decreto em 9/12/1852, reuniu no seu seio as vilas de Canas de Senhorim, Senhorim e Santar. Estas vilas possuíam uma identidade própria que assentava no seu vasto património histórico e era consolidada pelos costumes e tradições seculares que os seus povos legaram à modernidade. Essa herança chegou aos nossos tempos através da arquitectura, da gastronomia, das lendas e crenças e de outros rituais, entre os quais o carnaval de Canas. O que aconteceu com Nelas é que não houve legado nem herança que sustentasse o estatuto entretanto adquirido. No que refere ao carnaval a tradição nelense resumia-se ao bailes de carnaval e às moribundas “Contradanças” que, convenientemente, são referidas como origem(?) do actual carnaval de Nelas (ver Boletim Informativo n.º 7 da Câmara Municipal de Nelas, de Fevereiro de 2005). Na ausência de tradições assinaláveis e a coberto de líderes despeitados e sem escrúpulos copiou-se o que havia para copiar e aviltou-se assim o património alheio na confecção de um carnaval por receita. Roubo premeditado e plágio consumado.
Mas de macacadas está o carnaval cheio e, mesmo assim, por mais que macaqueiem, não há dinheiro que compre o entusiasmo, a vibração, a alma e a devoção com que os canenses se entregam ao seu carnaval. Somos herdeiros de uma tradição genuína que representa uma das expressões mais autênticas do carnaval popular português, e isso vem cá de dentro, é inimitável. O resto são contradanças…
Viva o Paço. Viva o Rossio. Viva o Carnaval de Canas de Senhorim.
Fotos do Carnaval de 2002 por Farpas
5 comentários:
O Objectivo asnelense foi reduzir a cinzas o histórico carnaval de Canas, como é de resto o objectivo asnelense em tudo: industrias , ensino, comércio, futebol etc.
O objectivo em termos mediáticos foi conseguido já que no país o pseudocarnaval de asnelas já é mais conhecido do que o original canense. Mas a verdade virá ao de cima!
Nem plagiar sabem ... e ainda bem!
Como em qualquer trabalho (que se preze) deviam fazer referência à "fonte" ... ou pedir autorização para plagiar ou quiçá a pagarem direitos de autor, nós até sabemos qual é o original mas os forasteiros são ENGANADOS!
O nosso Carnaval está-nos "inscrito no nosso mapa genético" não haverá plano que o reduza a cinzas ... mudará consoante as mudanças socias!
No tempo dos nossos biavós não havia banda, no tempo dos nossos avós não havia carros alegóricos, estes surgiram no tempo dos meus pais, ainda me lembro da banda ir a pé no meio da marcha ... agora vai em carro próprio e com uma amplificação ensurdecedora ... mudará mais ainda concerteza ... MAS NÃO ACABARÁ NUNCA SE CADA UM DE NÓS FIZER O SEU PAPEL!
E a alma? Onde é que eles a têm?
Aquela alma que está enraizada bem cá no fundo do coração e que nos faz cantar com paixão e em que alguns versos nos fazem arrepios!
É uma questão de tempo!
Bom Carnaval para todos!
E Viva o Rossio!
Eu acho piada é quando chove lá e cá. :)
Bom Entrudo a todos e viva o Paço.
Grande facada.
Neste texto, muito bem documentado, não só se resume o espírito do Entrudo canense (para bom entendedor...) como a política centralista e autista da edilidade ao longo dos anos. Perante estas e outras evidências, há que duvidar de quê? Do desejo e do direito do povo canense à sua independência?
Dos anjos e do seu sexo? De El Rei D. Sebastião...? Então...!
Para que conste, a macaquice, em jeito de decalcomania (é assim que se escreve?) teve lugar após se terem incendiado alguns carros alegóricos em pleno cortejo, e o Paço, em jeito de retaliação, em 1976, não organizou a "marcha", substituindo-a por uma ...sardinhada! No ano seguinte, toma lá a cópia mal parida que é para aprenderes!!!
Parabéns pelo texto.
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