Canas OnLine

22/04/2007

Isabel Nery


Quarta, 14 Março 2007
O ministro da Saúde, Correia de Campos, quer fechar 14 pontos de urgência, sobretudo no centro e no norte do País. O Diário de Notícias de 13 de Março dá-nos conta que nas mesmíssimas zonas onde encerram os postos do Serviço Nacional de Saúde, abrirão cinco estalecimentos de saúde privados, oferecendo serviços de urgência.Nos documentos divulgados pelo Ministério da Saúde alega-se que a medida é essencial para reduzir a distância das populações ao atendimento urgente e melhorar a qualidade dos serviços. Agora, expliquem-me, por favor, o que levará entidades que têm por objectivo o lucro a querer prestar serviços onde o Estado concluiu que não podem ser eficientes. Ou estou muito enganada ou nenhuma empresa privada no seu perfeito juízo vai querer abrir as portas 24 horas por dia se não tiver clientela.Se – como propõe a comissão técnica que estuda este assunto – 90% da população deverá ficar a 30 minutos de um ponto de urgência em vez de 60, quem quererá usar estes novos serviços disponibilizados pelos privados?O argumento da qualidade é um daqueles a que sou especialmente sensível. Até admito ter de viver mais longe de certos cuidados de saúde se, quando os utilizo, tenho garantia de melhor atendimento. Mas, então, quem é que me assegura a virtude dos serviços prestados por estes estabelecimentos privados? Como é que os bancos, que agora lideram os grandes grupos de saúde, oferecem como bons, serviços que o Estado prefere encerrar por considerar ineficientes?Das duas uma: ou os cuidados oferecidos pelos privados pecam por falta de qualidade e, nesse caso, não deveria ser permitida a sua abertura, ou o encerramento das urgências em tantos pontos do País poderia ser evitado. Uma coisa é certa, a estratégia do ministro da Saúde tem um grande beneficiário: o sector privado. Veja-se, como exemplo, o fim dos subsistemas de saúde e o actual programa de encerramento de urgências. Isto de quem afirmou, tal como publicámos na revista Visão, que quer «salvar o Serviço Nacional de Saúde».
Sala de Espera
Isabel Nery escreve na revista Visão

1 comentário:

MANUEL HENRIQUES disse...

Este processo do "fecho" de maternidades/Saps não está isento de criticas.

Mas 4 coisas são também verdadeiras:

1) Era pouco racional manter uma estrutura idêntica há de 20/30 anos atrás, quando as vias de comunicação e disponibilidade automóvel mudou drásticamente;

2) Nos grande centros urbanos a oferta pública é muito pior que a privada. Os funcionários trabalham menos horas. O atendimento dos funcionários nem sempre é o mais cordato.Marcar uma consulta ou ser atendido numa urgência pública é incomparávelmente pior que no privado.

3) O SNS não deve ser visto como uma "vaca sagrada". As gerações de hoje estão (e bem) mais exigentes. O fundamental é melhor saúde (seja ela pública ou provada).

4)Dir-me-ão que é negada assistência médica aos pobres. é uma triste verdade. Mas no tempo do dominio absoluto do SNS
já acontecia. Não nos podemos conformar com uma igualdade na dificuldade. O que faz sentido é que o SNS seja formatado às necessidades de quem dele precisa e não de quem nele trabalha.

Abdicar da universalidade e torná-lo de excelência para quem precisa deve ser o caminho. Dinheiro e pessoal ñão faltam. Porque funciona pior? é uma daquelas verdades intuitivas...(Patrão fora...)