"Portugal"_MEMÓRIAS DE UM CAMPEÃO [4]
ALGUMAS CURIOSIDADES DO TEMPO EM QUE ANTÓNIO “PORTUGAL” FEZ CARREIRA AO SERVIÇO DO GDR DE CANAS DE SENHORIM
1ª Equipa Campeã Distrital pelo GDR: Mário Ferreira(Presidente), GR, Tonito, Vítor Pira, Mário, Augusto,?, João do Luís, PORTUGAL(Cap.), Pais Correia(Treinador) e Odete. Em baixo:?, Eduardo,João Manuel, Rodinhas,?, Cardoso , Evaristo e Pedro.
Concluído o trabalho sobre a carreira desportiva do grande campeão António “Portugal”, vou dedicar este capítulo a relatar algumas curiosidades que se verificam, no período que medeia entre 1956 e 1970, lapso de tempo em que enverga a camisola do GDR, de modo a que as pessoas mais jovens entendam como é vivido o fenómeno do futebol nessa época.
Velhos Palcos: Campo das Fonsecas e Raposeira
Durante este percurso o clube conhece dois palcos, aonde a equipa evolui: numa primeira fase joga no Campo das Fonsecas, numa fase mais adiantada passa a jogar no Campo da Raposeira, ambos os campos estão nos dias de hoje extintos.
O Campo das Fonsecas situa-se junto à Estrada Nacional nº 234 e é dotado de fracos recursos. A ele associadas estão várias carências, de toda a natureza e magnitude, nomeadamente a inexistência de balneários ou quaisquer infraestruturas de apoio, sendo de destacar a irregularidade do piso de terra batida, sempre muito mal tratado e a exiguidade do recinto de jogo. À volta do terreno existe um declive natural que permite aos espectadores uma melhor visão do espectáculo desportivo que se estava a desenrolar.
Os jogadores equipam-se na sede do clube, num edifício que se situa em frente aonde hoje existe a “Tabacaria Rossio”, que em tempos não muito distantes albergou a “Fotosolar” e daí partem para o Campo das Fonsecas para jogar futebol. Concluídos os jogos tomam banho numa lagoa que existe nas proximidades.
Com a construção de um campo de futebol, por parte da Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos (CPFE), na Raposeira, em frente ao cemitério da vila, o GDR passa a realizar aí os seus jogos, dando cumprimento a um acordo estabelecido entre ambas as partes. As condições de trabalho são substancialmente melhores, sem contudo serem as ideais, ainda existem muitas lacunas, embora estejamos sempre a assistir a uma evolução, aliás bem evidente. Inicialmente os jogadores equipam-se na Casa do Pessoal, paredes meias com o recinto de jogo, com as vantagens daí inerentes, se bem que mais tarde são construídos os balneários, que vêm servir o campo até aos seus últimos dias como recinto desportivo.
A equipa do GDR treina duas vezes por semana, sem que seja obrigatória a presença dos jogadores, que comparecem sempre que a sua vida profissional o permite. É evidente que como as coisas são vividas mais intensamente, todos fazem por estar presentes.
Mística
Naquele tempo os jogadores dedicam-se ao clube de alma e coração, não recebem nenhum dinheiro, já que este não existe. Praticamente todos eles são oriundos da terra ou nela residem e a têm como afectiva, existe bastante arreigada a mística e o amor à camisola, o espírito de união e o desejo do bem comum são valores bastante encaixados nas populações de então. Muitas das vezes os próprios jogadores ajudam o clube como podem, de variadas formas, muito para além do facto de jogarem futebol.
Portugal o capitão dos "campeões de 68"
António “Portugal” é um exemplo paradigmático, porque sabe que tem influência e carisma junto dos outros jogadores. Em muitas situações é ele quem marca o campo para a realização de algum jogo, a sua esposa prepara os equipamentos, durante algum tempo, para os treinos e para os jogos. Há situações em que vai buscar alguns jogadores, os que são de mais longe, para a sua presença nos treinos e jogos.
A única coisa que os jogadores “ganham” é alguma notoriedade, respeito e consideração social, junto dos seus conterrâneos, fenómeno naquela época já bastante evidente, são olhados com orgulho e alguma ponta de vaidade, de certa forma sobressaem de entre todos os outros cidadãos.
Vitor Pira: Uma vida dedicada ao GDR
Após a realização dos jogos de futebol, os jogadores concentram-se e confraternizam ao redor de umas sandes e uns copos de vinho ou sumo, saboreando um pequeno e simples lanche. Nos jogos disputados fora de casa, para esse efeito, normalmente pára-se a meio do caminho, a não ser que a deslocação seja tão curta que tal não se justifica. Nestes casos, à semelhança dos jogos disputados em casa, o convívio é efectuado na sede do clube. Mais tarde, nos jogos caseiros, começa a surgir comida quente, confeccionada na Pensão do Pais Correia ou na Casa de Pasto do “Zé Pataco”, uma feijoada ou um rancho são pratos obrigatórios, extensivos muitas das vezes aos elementos das equipas adversárias, consoante a relação amistosa existente e que normalmente retribuem tamanha gentileza.
Em época de um menor número de automóveis existentes, o transporte dos jogadores para as deslocações é feito nos carros de alguns dirigentes, os que os têm, e em carros de aluguer que eles próprios ajudam a custear, existe um forte espírito de união e entreajuda, já que os meios são escassos.
As condições de que os jogadores dispõem não são comparáveis com as de hoje. As bolas existentes são cosidas, tipo atacador, e são bastante mais pesadas. As chuteiras têm, numa primeira fase, traves na sola, só muito mais tarde aparecem os pitons.
Os árbitros não têm o nível e a formação dos actuais, os erros são muito frequentes e grosseiros, normalmente são conotados como bastante caseiros, usam e abusam da parcialidade no julgamento da maior parte dos lances.
Paixão
O clube dispõe na altura de um reduzido número de sócios, fruto do fraco nível de vida das populações em geral, é um fenómeno abrangente, não acontece só em Canas, verifica-se por todo o lado. Ao invés as assistências aos jogos são numerosas, as pessoas vivem o futebol com paixão, mas é de ter em conta que contribui, decisivamente, para esse facto a escassez de oferta, em termos de actividades de lazer, ao contrário daquilo que se verifica nos dias de hoje.
Velhas Guardas: Antº João, Pais Correia, Afonso, Olindo, Ferrador e Hilário. Em baixo: Xico, Jerónimo, Barata, Admeto, PORTUGAL e Sousa.
E pronto, este trabalho que me propus realizar está concluído, foi meu objectivo dar à estampa a carreira desportiva, o perfil e o carácter de um homem de elevado nível e dimensão, sob todos os aspectos possíveis de avaliação e também dar a conhecer aos mais novos, aspectos e factos que noutra época se viveram no futebol. Foi um prazer, até sempre.
Canas de Senhorim, 17 de Setembro de 2007
ANTÓNIO JOSÉ DA ROSA MENDES
7 comentários:
Foi com grande prazer que o blog Município publicou o trabalho do António José da Rosa Mendes sobre o "campeão" António Portugal.
Um trabalho de grande fôlego, só ao alcance, daqueles a quem não falta "engenho e arte".
Canas agradece!
São estas histórias que nos fazem tão especiais, histórias de tempos passados que nos ajudam a perceber, o que nos torna tão diferentes de todos os outros. Ao Tó ZÉ, deixo um abraço e um obrigada por este contributo,o blog precisa das tuas intervenções, volta sempre.
Para quem não é de cá [achadiço! não é?]foi uma autentica lição de historia de uma vida. Obrigado por ter dado a conheçer a quem gosta de o saber. Abraço.
Para que não se percam as memórias dos campeões que fizeram a história desta terra e das suas associações.
Excelente trabalho, merecedor de uma divulgação mais alargada.
Um grande abraço ao Tó-Zé e votos de que nos volte a oferecer trabalhos desta envergadura.
Ao Sr. Portugal deixo uma grande salva de palmas para o atleta que foi e para o homem que é.
Cumprim.
Sim, temos que admitir...
Sou novo, mas ja um velho conhecido pa quem sabe...blogolandia canense voltei!!!!
E se vier por bem... Seja bem vindo!
Em nome da minha família e muito especialmente em nome do meu querido Avô Portugal, gostaria de aqui deixar o meu muito obrigado ao autor desta entrevista.
Anabela Cabral
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