Canas OnLine

20/10/2008

Companhia Portuguesa dos Fornos Eléctricos

Curiosamente não há em Canas uma única referência digna desse nome a essa grande Indústria que tirou Canas do anonimato rural a que estava condenada, que deu emprego a milhares de homens e também algumas mulheres, provenientes dos mais diversificados pontos de país, ... que colocou esta Terra no mapa, que fez desta Terra o maior e mais importante pólo industrial de todo o interior português durante décadas ( porventura o único )!




Companhia Portuguesa dos Fornos Eléctricos apresenta as indústrias que introduziu em Portugal e que constituem o seu programa de fabricação:

Carbonato de Cálcio
Cianamida cálcica
Ferro-gusa em lingotes
Hetatite
Semi-Fosforoso
Fosforoso
Tipos Especiais
Ferro-ligas
Ferro-Silício
Silício-Metal
Ferro-Manganês
Silício-Manganês
Ligas Especiais

A Companhia Portuguesa dos Fornos Eléctricos ( CPFE), sociedade anónima, fundada em 1917 em Portugal, orientou inicialmente a sua actividade, na indústria electroquímica, para permitir a utilização dos excedentes de energia das hidroeléctricas da Serra da Estrela.
Na primeira fase instalaram-se fornos monofásicos com uma potência global de 2 500 KVA para produção de carboneto de cálcio.
No entanto as limitações de abastecimento de energia eléctrica e a segunda guerra mundial restringiram o desenvolvimento da CPFE que somente depois de 1946 pode orientar-se para dois novos domínios: produção de cianamida cálcica e de ferro-ligas e gusas em forno eléctrico.
Após 1946 iniciou-se a fabricação de gama extensa de Ferro-ligas que inclui desde o ferro silício de 25%Si até ao de 90%Si e o silicío-metal, além das ligas de manganês ( ferro-manganês, silício manganês). Produz-se também tonelagem apreciável de gusas eléctricas, de composições correntes especiais.
Derivada da indústria do carboneto desenvolveu-se paralelamente a indústria da cianamida cálcica cuja fábrica atingia em 1958, a capacidade de produção de 20 000 toneladas/ano.
O conjunto alcançou, em 1958, uma potência de 20 000 KVA.


O conjunto fabril da CPFE em Canas de Senhorim ocupa a área de 200 000 m2 , da qual 20 000 m2 em edifícios, trabalhando nestas instalações 600 pessoas.
A posição da fábrica, situada no centro de Portugal, é favorecida sob o ponto de vista de transportes pois, limitada por um lado pela estrada nacional, dispõe ainda de ramais privativos ligados à rede ferroviária da Beira Alta.
A localização é boa, do ponto de vista de abastecimento de energia eléctrica, visto que as instalações fabris se encontram próximo de centrais que as alimentam, estando também ligadas directamente à rede eléctrica primária do País. A potência instalada nas subestações é de 27 000 KVA.
Junto à fábrica foram construídos, além do bairro residencial para pessoal dirigente e especializado, uma escola primária e profissional, campos de jogos, salão de festas e posto médico com enfermaria.

Cianamida Cálcica – Adubos Químicos

Fornos eléctricos descontínuos para fabrico de cianamida cálcica


É obtida em fornos descontínuos pela azotação do carbonato de cálcio.
Adubo azotado amídico, titulando 20,5% de azoto e 60% de cal, com as seguintes aplicações principais:
1 – Adubação de fundo de todas as culturas dos solos ácidos.
2 – Adubação de cobertura dos cereais praganosos com dupla finalidade de combater as plantas daninhas e fertilizar as culturas.
3 – Preparação de estrumes artificiais a partir de diversos materiais, tais como palhas, folhas, bagaços, etc.
Os Serviços Agronómicos sa CPFE fornecem todas as indicações que lhes forem pedidas sobre o modo de aplicação da cianamida nas diferentes culturas e nos diversos tipos de solo e regiões do País.


Ferro Gusa em Lingotes - Electometalurgia


-

Hematite

Semi-fosforoso

Fosforoso

C

3,5 – 4 %

3,5 – 4 %

3,5 – 4 %

Mn

0,7 – 1 %

0,7 – 1 %

0,5 - 0,7 – 1 %

P

0,08 % max

0,5 – 0,7 % max

1 – 1,3 % max

S

0,05 % max

0,05 % max

0,05 % max

Si

1,5 – 2 2 – 2,5 2,5 – 3%

3 – 3,5 3,5 – 4 %

2 . 2,5 2,5 – 3 %

3 – 3,5 3,5 – 4 %

2,5 – 3 % 3 – 3,5 %

Fabricado no forno eléctrico em diversos tipos normalizados.
Além das composições correntes indicadas no quadro acima, pode fornecer, de harmonia com as necessidades e especificação do cliente, outros tipos de gusa.
Dispondo de modernos laboratórios e gabinete de estudos, a CPFE está em constante evolução, orientando-se sobretudo para a fabricação de produtos que exigem técnicas mais especializadas.



Ferro Ligas
Produzido no forno eléctrico com estrutura e composição química de grande regularidade.

-

C

Si

Mn

P

S

Ferro-Manganês

6 – 7 %

1,5 % max.

76 – 80 %

0,35 % max

0,05 % max

Ferro-Silício

0,5 %

20 - 25 %

________

0,1 % max

0,07 % max

0,5 %

25 – 30 %

________

0,1 % max

0,07 % max

0,1 %

45 – 50 %

________

0,1 % max

0,05 % max

0,1 %

75 – 80 %

________

0,07 % max

0,05 % max

0,1 %

90 – 95 %

________

0,05 % max

0,05 % max

Além das composições indicadas – as mais correntes – a CPFE fabrica ferro-ligas com outras características, conforme aplicações específicas e desejo dos clientes.
A CPFE tem o domínio da fabricação de ferro-ligas, larga experiência e técnica bastante apurada que lhe permite apresentar produtos de alta qualidade.

Sangria de um forno


Carboneto de Cálcio - Electroquímica


O carboneto de cálcio foi o primeiro produto que a CPFE fabricou em forno eléctrico.
O mercado tem aumentado dadas as inúmeras aplicações industriais do carboneto (soldadura, corte, metalurgia, síntese química e iluminação).
Uma parte importante da produção no fabrico da cianamida cálcica a qual é obtida em fornos eléctricos descontínuos, com eléctodo central, onde o carboneto é azotado.
A CPFE produz carboneto de cálcio satisfazendo normas internacionais.
Assistência Técnica
A CPFE põe os seus meios laboratoriais e de investigação, ao serviço dos clientes para estudo de novos materiais e de técnicas de utilização, especialmente adaptadas ao emprego mais eficiente e económico dos produtos que fabrica.


Estes dados, fotos e texto foram compilados na íntegra, de um prospecto da antiga CPFE, trilingue( portugês, francês e inglês) com o intuito de a promover e dignificar junto de futuros clientes.
Surge, este documento, nos finais da década de 60 principios da década de 70, em pleno Estado Novo e na sua época aurea!

Aos seus antigos trabalhadores, aos que ainda estão connosco e aos que já partiram, às fuas famílias, aqui fica este registo em jeito de HOMENAGEM!

12 comentários:

Ana Mafalda disse...

Despois do seu encerramento, em meados da década de 80, Canas ficou brutalmente órfã e mais pobre, continuamos a almejar um complexo fabríl a este nível, ainda hoje não existe outro com estas características em todo o distrito ...

A crise financeita transversal a todos os países não augura nada de bom para os próximos anos ... a nossa madrasta faz o resto em perfeita sintonia com o imobilismo vivido em Canas...

Esta indústria que se perdeu tinha características únicas, uma responsabilidade humanista ... valores cada vez mais raros e altamente vanguardistas para a sua época!

Presto aqui a minha homenagem aos homens e mulheres que ajudaram a colocar o nome de Canas no Top das Indústrias Nacionais, com honras até de visita de Chefe de Estado!

Agora fogem e fazem desvios ... não seremos aindas os mesmos ou os seus descendentes???

Ana Mafalda

Unknown disse...

Excelente recolha de informação. Juntamente com a antiga Companhia de Radium (tb ex ENU), constituiram um grande polo industrial.
Naquela altura se existisse um "google earth partidário", então na zona da freguesia de Canas identificar-se-ia e diferenciar-se-ia do resto do distrito uma mancha vermelha.

O que é feito desta mancha?

PortugaSuave disse...

Ainda está por fazer a história da CPFE de Canas de Senhorim. Encontra-se muita informação dispersa mas era importante elaborar uma publicação que lhe contasse a história, desde o nascimento ao declínio.
Esta recolha é 5 *****.
Cumprim.

MANUEL HENRIQUES disse...

Uma lembrança muito importante para todos que a viram laborar e se impressionavam com a sua grandeza.

Quando a fábrica fechou perguntava ao meu pai, com a ingenuidade dos meus 7/8 anos, porquê que todo aquele aparato "cinzento" de chaminés não era mais utilizado. A inviabilidade tecnológica ou o passivo eram conceitos que passavam ao lado. Nem por isso deixo hoje de lamentar a sua não reconversão....

A "fábrica" como era popularmente chamada a CPFE trouxe muita gente boa para esta terra. Uns ficaram por cá, outros não.As marcas que muitos deles deixaram perduram.

Como diz o POrtugaSuave, ainda está por fazer a historia industrial de Canas de Senhorim, que terá de abranger a Urgeiriça. Testemunhos, técnicas de fabrico, materiais começam a perder-se. Quem pode deitar mão a esta herança e dar-lhe dignidade?

No caso da Urgeiriça já era tempo de um Museu da Minas/Mineiro estar de pé. É a nossa história colectiva que vai desaparecendo,....

Pombo correio disse...

Meus amigos!
Começo a ficar fã dos temas expostos pela @ana mafalda. São de uma qualidade 5*.

Dizem que há muitos "Achadissos" em Canas, e isso deve-se ao facto de quando da montagem dos Fornos Eléctricos, vinham trabalhadores especializados, para as montagens e acabavam por namoriscar e casar por estas bandas. Na ENU, aconteceu a mesma coisa, muitos dos meus colegas, são filhos de ex-trabalhadores, vindos de vários pontos do País, Guarda, Trás-os-Montes, Lisboa, Fundão, Mealhada, etc...

ibotter disse...

@Ana Mafalda: Excelente esta recordação dos nossos “fornos”.

O fumo branco de uma das fotos ainda comove...

André jesus disse...

A postagem do mês. Abraço

jfernandes disse...

Olá a todos,
De facto o empenho da Ana Mafalda em tirar do baú o que de mais importante marcou a nossa terra é perfeitamente conveniente. Esta recordação tem tanto de conveniente, recordando um marco histórico, como de “verdade inconveniente” ao estilo de AlGore. Recorde-se o fumo e as faúlhas que a todos os instantes entupiam as nossas caleiras, sujavam a roupa estendida nos cordéis e incomodava-nos a nós estudantes da “Escola Técnica”. Aquele fumo entrava-nos pela garganta dentro, principalmente em dias de chuva e de fumo baixo. E, até era giro (!!!!!!!), quando de noite ficávamos horas a olhar para as chaminés do forno 15 a jorrar lume com dois a três metros de altura.
De facto isto era o que de mais inconveniente existia. Completamente justificado com o emprego de mais de 600 pessoas directas e uma quantidade enorme de indirectos que traziam à nossa terra diariamente centenas de visitantes e de oportunidades de negócios. Quem não se lembra da azáfama às seis da tarde, quando se juntavam à mesma hora de saída os trabalhadores da CPFE, da ENU e os estudantes! Até o trânsito tinha que ser controlado pela GNR.
E tínhamos a “Cantina”, ali mesmo ao lado da escola, onde podíamos ir comprar os amendoins, as batatas fritas, as bolachas baunilha, as gasosas, para saborear bem refastelados na encosta do campo da raposeira e ao sol … e se não houvesse dinheiro, pedia-mos ao “Sr. António da Cantina” para apontar na caderneta, que depois a mãe pagava…
Mas também nos proporcionava o CAT (cantina dos trabalhadores), onde aos Domingos podíamos fazer uns joguinhos de pingue-pongue, basquetebol (belos tempos com o João Pêga), matraquilhos, bilhar e ver televisão a preto e branco…
E tínhamos a Estação dos caminhos-de-ferro, Canas-Felgueira, que em dia de apanhar o Inter-Regional os cais se enchiam de multidões…
E, esperávamos ansiosos pelo Natal para recebermos a prenda da fábrica…Todos os anos era ofertado aos filhos dos trabalhadores um presente de Natal.
Enfim, recordações…das boas.

fcunha disse...

Mais uma justa Homenagem Ana!
De facto pus ca este post o ano passado porque achava que nao se podia esquecer o nosso passado!Faz falta o Museu da Industria de Canas!!Vivi como muitos o apagar das luzes nos fornos e vef aquelas lagrimas de dor e nervos nao se esqueçem..
eu era o benjamim nos fornos electricos naquela altura e custou assistir a decadas de trabalho apagadas com um so click!
Justa homenagem Ana...aos Fornos e As Minas.

®efeneto disse...

Nada a dizer. Uma lição de história local mas acima de tudo nacional. Parabéns. Por certo a amiga Ana fez soltar uma lágrima de saudade em muita gente.

Ana Mafalda disse...

Quando se fala na poluição que a CPFE fazia fico sempre com a sensação, que muito pouco sabe deste assunto quem fala... será que não passa pela cabeça de ninguém que ao mesmo tempo que se poluía também se resolvia um grave problema ambiental ... a sucata servia de matéria prima para o forno eléctrico, entrava conjuntamente com o carvão , o quartzo para a obtenção do ferro-liga, específico de cada forno!

Os resíduos sólidos urbanos em ferro, eram reciclados na CPFE, os GEE ( gases com efeito estufa) eram rapidamente absorvidos pela exuberante floresta que envolvia Canas de Senhorim naquela época ... a foligem era basicamente carbono, portanto inóquo!

Se porventura a CPFE, ainda laborasse, com o brutal desenvolvimento da tecnologia na área da despoluição hoje em dia , por certo esse problema estaria resolvido, ainda se colocaram filtros no forno 15....havia vontade, a lei à época não o obrigava ...

As sensibilidades ambientias surgem da década de 90 ... com a CPFE já encerrada!

No início da década de 80 trabalhavam na CPFE mais de 800 trabalhadores, não terá este factor maior peso!

Têm ideia onde é que hoje é reciclada a sucata?!??
É de bradar aos céus! Temos de pagar para que se faça essa reciclagem, enquanto a CPFE não cobrava nada, até pagava por ela!

No entanto serão precisos mais de 100 anos para que possam desaparecer os resíduos radioactivos acumulados hoje na "Barragem Velha".

A poluição invisível é sempre a mais perigosa!

O desenvolvimento industrial não é imcompatível com o crescimento sustentávél!

Ana Mafalda

jfernandes disse...

Olá,

De facto, a poluição provocada pelos fornos era um mal menor, desde que assegurados estivessem postos de trabalho. Naturalmente que se ainda hoje se mantivesse no activo, teria necessariamente que cumprir com as directivas europeias e com o protocolo de Quioto. Certamente que as melhorias nesta altura já se fariam sentir.
Quiçá não serviriam os fornos os objectivos (incineradoras) dos demais governantes do respectivo Ministério do Ambiente.

O que de facto importa retirar do meu anterior comentário, mais do que as questões ambientais, é efectivamente a criação de um pólo Industrial em Canas.
É URGENTE e necessária.
De facto, a indústria proporciona emprego, melhora as condições de vida das populações, enriquece a Terra, fixa pessoas e indubitavelmente obriga a investimentos.
Esta pretensão terá necessariamente que partir dos nossos governantes, criar condições apelativas para os investidores, à imagem do que se tem feito por esses concelhos todos.
E aqui é que reside o nosso problema!
Quem? Como? Onde?

Cumprimentos,