Canas OnLine

11/12/2008

O PCP apoia a restauração do Município de Canas

Deputado Miguel Tiago (PCP)


MCNS_Boaventura Sousa Santos e José Carlos Vasconcelos parecem ser dos poucos "notáveis" a apoiar a Restauração do Concelho de Canas de Senhorim, parecendo até, ir mais longe investindo numa "causa Canas". Boaventura Sousa Santos, após a votação favorável de 1 de Julho de 2003 dos Projectos de Lei do PCP, do BE e do PSD descreveu o resultado como "a vitória do Povo". De facto, a Luta restauracionista (desde finais do séc. XIX) parece ser fundamentalmente do Povo, em que as elites, incluindo a canense, sentem algum desconforto.
José Carlos Vasconcelos para além de dizer que só com autonomia os canenses poderão ser
"senhores do seu destino" encontra semelhanças entre a "causa Canas" e "o que se passou no combate à ditadura e ao fascismo. É quase uma unidade antifascista", referiu. Considera que o facto de Canas ter um passado de forte intervenção política, incluindo substancial militância comunista, o que lhe conferiu em 75, o epíteto de" Barreiro da Beira Alta", serviu para alimentar a consciência de uma causa colectiva e de um impulso para a acção/luta?

MT_Não tenho dados para poder fazer análise. No entanto estou certo que a influência comunista é, em qualquer local, um factor determinante na capacidade de mobilização popular e, mais que isso, no carácter consequente dessa luta.

MCNS_No Portugal contemporâneo é ainda possível conseguir objectivos só com a força do Povo?

MT_Em qualquer ponto do mundo, todos os objectivos progressistas são atingidos apenas com a força da luta de massas. Todos os nossos direitos foram conquistados. Nunca ninguém nos “deu” nada. Pode ser difícil, mas é com a força dessas lutas que se conseguem as vitórias. No entanto, só uma luta estruturada, assente em objectivos claros, de alargada unidade na acção e na direcção, com uma perspectiva estratégica, pode assegurar vitórias. Da luta desorientada, dos espontaneismos, raramente resultam conquistas.

MCNS_O PCP continua a apoiar politicamente a luta pela restauração do Município de Canas e se eventualmente a relação de forças se alterar na AR está pronto para relançar a discussão da criação de novos concelhos em plenário?

MT_O PCP apoia a restauração do Município de Canas. No entanto, apenas no quadro de uma política estruturada de revisão do mapa autárquico. Ou seja, a proceder a alterações, que seja de forma integrada e estruturada, assente numa estratégia de desenvolvimento e não apenas para satisfazer as necessidades de oportunismos político de um qualquer partido. Da mesma forma, a luta deve desenvolver-se no quadro da legalidade e da constitucionalidade e devem ser assegurados e exercidos os direitos à participação eleitoral de todos os cidadãos e forças políticas de Canas de Senhorim.

MCNS_O PCP apoiará qualquer outro projecto que saia de outra bancada e que vise a restauração do concelho?

MT_Isso depende sempre da forma como a iniciativa surja, com base em que premissas e com que objectivos.

MCNS_Crê que a regionalização poderia controlar a supremacia das sedes de concelho relativamente às localidades que os servem e deslocalizar o investimento para essas mesmas localidades?

MT_Sem dúvida. A aproximação do poder às populações só pode constituir um passo positivo na gestão dos recursos e do território. Mais democracia pode apenas ajudar a resolver e não a complicar. No entanto, claro que a existêcia de regiões não é, por si só, a solução. É necessário um compromisso político com as aspirações e necessidades das populações, um compromisso verdadeiro e para cumprir.

MCNS_Como vê a fraca adesão política ao PCP na região da Beira?

MT_Esta pergunta daria certamente para preencher muitas páginas e ainda assim não ficar totalmente respondida. O PCP é um Partido que não vive nem pode viver apenas na dimensão mediática, ou seja, a sua força depende directamente dos alicerces orgânicos que existem no terreno. Partidos que vivem numa esfera desligada da população podem apenas preencher notícias nos jornais e disso extrair votos e resultados. O voto, a militância e a aproximação ao PCP são passos mais comprometidos, mais exigentes do ponto de vista da consciência de classe. Por seu lado, as insuficiências orgânicas do PCP na região devem-se às campanhas de ataque dirigidas desde sempre contra o PCP, o comunismo e o socialismo na região. A campanha anti-comunista atingiu nessa região do país contornos autenticamente aberrantes, recorrendo à calúnia e à mentira como forma de afastar a população. A circulação de uma doutrina que estimula a hierarquização social, em que o caciquismo regional desempenha um papel central, a ilusão de que o patrão zela pelo interesse comum e de que os comunistas querem ficar com as terras e o dinheiro, são tudo mecanismos de alienação colectiva que gozam de raizes históricas na região. A forte implantação de uma institituição religiosa que não hesita na utilização do púlpito para fazer política, a utilização do poder político como forma de difundir a alienação e a mentira sobre os comunistas e o seu papel, as distorções espalhadas sobre as posições dos comunistas sobre o sistema fundiário das beiras, etc., concorrem certamente para uma menor implantação do PCP na região.

MCNS_Existe, neste momento, algum contacto entre o PCP e o MRCCS (Movimento para a Restauração do Concelho de Canas de Senhorim)? Se não existem: está o PCP na disposição de voltar a ouvir os argumentos dos canenses e disponibilizar o seu apoio a esta causa?

O Grupo Parlamentar do PCP recebe todos os movimentos que queiram partilhar as suas preocupações e reivindicações e que queiram colocá-las no plano da Assembleia da República.

MCNS_Neste momento o executivo da CM de Nelas é constituído por uma coligação PSD/CDS PP, partidos que em 2003 apoiaram o projecto de elevação de Canas de Senhorim a município, no entanto o sentimento geral da população é de que nada mudou com a tomada de posse desta nova força política continuando a verificar-se uma discriminação a nível de investimento relativamente a esta localidade que conta com 30% da população do concelho de Nelas. Acredita que o sentimento de distanciamento da população portuguesa para com a política possa ter como um dos motivos a gestão das autarquias? Serão os políticos “todos iguais” quando estão no poder diferenciando-se apenas na oposição?

MT_É claro que os sentimentos da população perante o poder político e os partidos políticos que nele participam estão intimamente ligados com a forma como se procede ao exercício do poder, em qualquer plano, autárquico ou nacional. A forma como alguns partidos traem sistematicamente os compromissos que assumem eleitoralmente, e como alguns partidos usam as expectativas populares em benefício próprio descredibiliza a democracia e ataca directa e indirectamente os direitos das populações. A cedência a interesses privados, alheios às populações, a clientelismos vários e a amiguismos que se verifica no Poder Local desligado das populações é o primeiro passo para a descredibilização do papel dos partidos. Os partidos não são todos iguais, nem tampouco são os políticos todos iguais. Prova disso mesmo é a diferença substantiva que se verifica na forma e no conteúdo do exercício do poder local democrático em concelhos de maioria CDU, onde as infra-estruturas básicas estão construídas desde os anos 80, desde o saneamento básico à rede viária local e às infra-estruturas culturais, ambientais e biofísicas.

MCNS_Será legítimo a população de Canas de Senhorim querer uma “discriminação positiva” para compensar os 20 anos de investimento zero e abandono por parte do executivo do PS que governava a CMN, principalmente do seu presidente José Correia?

MT_O que importa é que o Estado cumpra o seu papel de manutenção da integridade territorial do país e que, nesse esforço, seja tida em conta a necessidade de assegurar o desenvolvimento equitativo de todo o território. O desinvestimento em determinadas regiões, independentemente do arranjo territorial que tenha, nasce sempre da traição aos interesses nacionais no exercício do poder. A definição de uma determinada povoação, cidade ou vila como concelho não deve nem pode ser o único factor que determina o peso dessa comunidade perante o poder. Ao Estado cabe assegurar os mesmos direitos a todos os cidadãos da República.

MCNS_No âmbito da remodelação dos acessos à Região Centro Interior, Canas vê-se novamente minorizada . Inicialmente estava prevista a existência de nós do IC 12 e IC 37 (Viseu - Covilhã) na freguesia, explicáveis pelo seu carácter estratégico na região. Hoje, por vontade da CM Nelas (no caso do IC 37) e de forças "não visíveis" (no caso do IC 12) Canas corre o risco de ficar fora do desenvolvimento que este investimento público vai despoletar. Como poderá Canas dar visibilidade politica a este caso? Como se explica o silêncio do executivo camarário, perdido em discussões sobre portagens, em vez de assumir, como lhe competia a luta pela causa de Canas neste dossiê?

MT_Só a luta das populações, aliada a um compromisso assumido pelos eleitos locais e nacionais poderá dar resposta às necessidades que se colocam no terreno. A política de organização territorial preconizada pelos sucessivos governos assenta claramente na macrocefalização dos grandes centros urbanos, na litoralização do país e no desinvestimento e repovoação do interior. Prova disso são os encerramentos de escolas, de serviços públicos de correios, saúde e outros. O Estado abandona o interior e as zonas mais empobrecidas do país, empurrando as populações para o êxodo e as migrações massivas a que vamos assistindo. É assustador verificar que em grandes áreas do país, durante a semana, praticamente não existem habitantes (particularmente homens) porque se deslocam para Espanha na busca de trabalho que lhes possibilite pôr comida na mesa para as famílias. Devem ser também as próprias populações a chamar a suas mãos a luta e a fazer um balanço do papel de cada força política – avaliando a sua coerência, a sua firmeza e a sua honestidade – para que esteja capaz de punir eleitoralmente aquelas que usam os anseios do povo como o pretexto para a sua própria promoção e que rapidamente os esquecem no desempenho das suas funções, assim abandonando os compromissos assumidos.

MCNS_Esteve recentemente em Canas de Senhorim, mais propriamente na Urgeiriça, para falar sobre o estado do processo que envolve ex-trabalhadores, e familiares, da Empresa nacional de Urânio que têm exigido ao Governo que mesmo aqueles que não tinham vínculo à ENU na data da sua dissolução sejam abrangidos por um decreto-lei (nº 25/2005) que os equipare a trabalhadores de fundo de mina, dando benefícios na idade da reforma, e o pagamento de indemnizações aos familiares daqueles que morreram de doenças relacionadas com a exposição à radioactividade. Em que ponto se encontra este processo?

MT_O PCP tem activamente defendido as reivindicações dos ex-trabalhadores da ENU, bem como se tem solidarizado com a sua luta. O Grupo Parlamentar propôs na Assembleia da República que fossem atribuídos a estes trabalhadores os mesmos direitos que são legalmente contemplados para os que laboravam à data do encerramento da unidade mineira de urânio. Da mesma forma, o GP PCP propôs a consagração de um plano de acompanhamento médico absolutamente gratuito, estendido aos familiares dos ex-trabalhadores e a previsão de indemnizações às famílias por morte relacionada ou imputável à actividade mineira.

O nosso Muito Obrigado ao Deputado Miguel Tiago
pela entrevista concedida ao "Município"
.

17 comentários:

PortugaSuave disse...

Uma entrevista cuidadosa, um discurso bem estudado, quase de estado, politicamente correcto... o "apoio" num contexto de intervenção regional mais vasto... blá blá blá...sem novidades. Longe do PC intervencionista e entusiasta de outros tempos. Já nem os comunistas são o que eram.
Ainda assim, uma vénia ao jovem deputado que se permitiu falar sobre Canas de Senhorim.
A ao Farpas, que obteve o exclusivo.
Cumprim.

MANUEL HENRIQUES disse...

@Farpas

Parabens pela entrevista.É bom "testar" os partidos sobre as nossas "causas". Mais um grande momento deste blogue.Graças a deus é muito variado o leque de colaboradores do blogue, sua dinâmica e diversidade de estilos que fazem do Municipio um blogue sensacional.


Sobre a entrevista achei a mesma cautelosa q.b. Parece-me também que o entrevistado conhece mal a regiao e tem ideias pouco consistentes acerca da nossa cultura e valores - não percebendo que as diferenças culturais apontadas são um ganho, não um passivo (A Beira Alta não é o Alentejo ou Lisboa e Vale-do-Tejo). O vocabulário politico parece-me muito "anos 70", do tipico jargão comunista ( p.ex - A luta de classes) de um país que já não existe e entre nós nunca existiu de todo.

Um abraço

Ana Mafalda disse...

Esta entrevista faz-me lembrar a celebrizada frase dessa grande artista Ivone Silva:

" Com um simples vestido preto eu nunca me comprometo".

É a nova vaga de politícos, nem não nem sim, agora o que está a dar é mesmo o NIM!

Gostei do que li, elucidou-me, mais um para a colecção ...

Parabéns Farpas pelo exclusivo.

Pombo correio disse...

Farpas
Antes de mais parabéns, afinal não é todos os dias que temos um politico oficial a comentar, ou ser entrevistado no blog.
Está de parabéns o Município de Cannas de Senhorym por ser único, democrata e em prol de Canas!

miguel disse...

eu tinha aqui deixado um comentário mas não aparece.

miguel disse...

Tentarei de novo, portanto:

Ao PortugaSuave:
No PCP tentamos não abordar tudo da maneira mais fácil. Seria bem mais fácil para mim ter um discurso inflamado e irresponsável. Não é, no entanto, essa a nossa forma de trabalhar e de estar na política. Não precisa de me dedicar vénia alguma, pois mais não fiz que a minha obrigação: explicar a todos as posições do PCP e as disponibilidades do seu Grupo Parlamentar.

Sr. Manuel Henriques, infelizmente tem razão e conheço apenas muito superficialmente a região. A exigência do trabalho parlamentar que é colocada a um Grupo como o do PCP não nos deixa o tempo e a capacidade que seria necessária para conhecer aprofundadamente as diferentes e diversas realidades nacionais. Alerto para o facto de ser eleito pelo círculo de lisboa, mantendo ainda assim uma ligação com o distrito de viseu, pese embora o facto de o PCP não ter nenhum eleito por esse círculo. Curiosamente faz mais nesse distrito e fala mais desse distrito na assembleia da república que qualquer outro Grupo parlamentar.

Sobre o jargão comunista dos anos 70, digo-lhe apenas o seguinte: a situação nacional e internacional hoje são bem mais preocupantes que as vividas nos anos 70. E se alguma coisa se veio a provar desde então é que é exactamente a luta de interesses, a luta de classes, o que tem determinado o rumo da história. Vedar as nossas vistas ao actual estado do mundo, às crises do capitalismo, à competição inter-imperialista é ignorar grande parte do que, politicamente, vai determinando o curso das nossas vidas. Se acha que em Portugal, os conflitos de classes e a luta de interesses entre as classe nunca existiu, então lamento, mas encontramo-nos em pontos de vista muito distintos. Esta aliás à vista de todos a evidência de que uns enriquecem à custa do empobrecimento de outros, de que uns acumulam à custa do desemprego e da miséria. E ainda mais grave, está à vista o facto de que o Estado tem ajudado sempre a parte mais forte.

Srª Ana Mafalda:

O PCP compromete-se sempre com a defesa dos interesses do povo, seja ela por via da restauração de um município ou por via da despromoção de outro. Para o PCP, os compromissos são calros e muitas vezes custam-lhe votos, porque não alinha na cantiga de querer agradar a todos. Infelizmente, os Partidos que preferem a mentira, assim agradando a gregos e troianos, têm sempre visto recompensado o seu estilo demagógico e mentiroso. Independentemente dos votos que isso nos tire, tenho orgulho em fazer parte de um partido que não faz parte desse jogo. Os compromissos do PCP para a região, não sou eu que os assumo ou deixo de assumir, estão há muito definidos colectivamente pela organização regional de viseu do PCP, nomeadamente através da resolução política aprovada na assembleia dessa organização.

Um abraço a todos e boas festas.

PortugaSuave disse...

Caro Miguel Tiago, estava longe de imaginar que respondesse directamente no blogue aos nossos comentários. Essa disponibilidade e consideração são de enaltecer e, por simpatia, dignificam o partido que representa.
Quanto à temática (restauração do concelho de Canas) é perfeitamente legítimo que os canenses criem expectativas relativamente à posição do PC, independentemente da conjuntura política nacional, da estratégia político-partidária local ou das opções administrativas regionais. A maioria dos canenses (o povo), ainda que não os ignore, está-se borrifando para esses preciosismos políticos, sentiu e sente na pele os efeitos nefastos de toda essa argumentação, foi ultrapassado no seu ensejo por esquemas de bastidores muito estranhos e já não tem paciência para meias palavras; a atitude da câmara de Nelas continua a secundarizar e a protelar os nossos interesses, insistindo numa visão política “umbiguista”, de investimento exclusivamente centralizado na sede do município e, mais do que tudo isto, Canas e Nelas nunca ultrapassarão o estigma criado e patrocinado pelo despotismo do “cacique” cá da zona que presidiu ao destino do concelho durante 20 anos e que nos remeteu para uma espécie de dormitório (por vontade dele até nos apagava do mapa). Se a isto somar as razões históricas que suportam a nossa “luta” e a forte consciência política que herdámos do passado recente enquanto comunidade “operária”, facilmente perceberá que palavras “amáveis” já não nos alegram. A única solução á a auto-determinação, a devolução a este povo da sua autonomia política e administrativa, do seu destino – o Município de Canas. E sobre esta matéria, citando um camarada seu “ou se está a favor ou contra nós”, não há cá meios termos nem palavras simpáticas. E olhe que já experimentámos essa via, fomos pacientes, auscultámos as diversas sensibilidades, confiámos no discurso político dito “responsável”… debalde.
Foi nesta perspectiva que adjectivei a sua entrevista e a actual posição do PC.
Cumprimentos (canenses)

Ana Mafalda disse...

@pedras contra canhões, compreendo mas já agora se defendiam tanto assim a elevação de Canas de Senhorim a Concelho, também Fátima; porque não agendaram protestativamente uma nova aprovação da lei que criaria os dois municípios????

Na altura correu em Canas que a lei, mesmo depois de ter sido vetada, se descesse novamente ao emiciclo só passaria como uma maioria de 2/3, afinal isso é falso, pois o estatudo dos Açores foi por duas vezes vetado e acabou por passar e por passar na Assembleia da República e nunca foi exígido uma maioria de 2/3....

O que eu penso, posso enventualmente estar errada, é que qualquer um dos partidos que supostamente apoiaram a ideia de Canas ser elevada a concelho, tinham esse poder em mãos e não fizeram uso dele, nem PCP, nem BE, nem CDS, nem PSD quanto ao PS todos conheciamos a sua posição.

Ou seja, do apoiar ao fazer por que efectivamente as coisas conteçam, vai um enormíssimo passo ... que não foi dado por nenhum dos que se afirmavam do lado dos Canenses...

Por acaso também tenho "fontes" dentro do PCP que diziam que esta situação criava muito mal estar???
Os líderes mais destacados não o apoiavam assim tão claramente, sabia??? Foi até tranquilizador o veto presidencial, por favor informe-se!!!

Votos de um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo

Que o PCP se reforce, pois se não temos oposição forte à direita então que a tenhemos à esquerda ;)

Ana Mafalda

miguel disse...

Obrigado pelas palavras.
Espero que compreendam que o PCP não tem a responsabilidade, por motivo óbvios, de proceder à reorganização administrativa do território. No âmbito da sua proposta, no entanto, o PCP sempre tem avançado com o compromisso de avançar com a regionalização e, nesse quadro mais vasto, aplicar uma divisão administrativa mais adequada à gestão territorial cada vez mais necessária, que combata as desigualdades e as assimetrias.
Julgo que o motiva a luta do povo de canas não pode ser apenas a política centralista da CMN, pois a política pode combater-se sem ser pela via administrativa. É importante denunciar as jogadas e trapaças que têm feito a Canas para obter votos. Todavia, apelo a que responsabilizem aqueles que têm essencialmente essa responsabilidade e que têm inclusivamente assumido esse compromisso, sem o cumprirem.

No PCP não há os grandes, nem os pequenos. Colectivamente, os compromissos são compromissos e isso basta. A posição do PCP é favorável à restauração do Concelho, no âmbito de uma reestruturação administrativa racional, que não veja avulsas as peças municipais do país e que traga de facto mudança, ao invés de satisfação sem que nada mude.

um abraço e boa luta!

MANUEL HENRIQUES disse...

Caro Miguel Tiago,

Antes demais, enalteço a sua simplicidade e abertura de espírito em vir aqui dialogar com os membros do Blogue. Só dignifica as suas posições e do seu partido.

Sobre a causa do concelho estou certo que não foi nem será pelo PCP que esta luta será hipotecada. O PCP será sempre um aliado das causas justas e, de forma totalmente não ideológica, aplaudo a vossa coerência e honestidade intelectual.

Sobre a "Crise" e o "jargão" penso, até pela experiência politica que tem, facilmente concordará que a "clausura" ideológica não é nem nunca foi a melhor receita para esta crise ou qualquer outra ( isto não é uma critica..)
Pessoalmente, concordo que esta crise, além do seu carácter ciclico, revela sobretudo um desvirtuamento grosseiro dos principios liberais que estavam subjacentes ao funcionamento do sistema financeiro internacional. Da interpretação que faço da história de Portugal, e do Ocidente, continuo a acreditar que é este sistema, revisto e melhorado, e não a sua refundação por alguma formula proto-estatal ( ainda que bem-intecionada), que será a solução para este crise e para o desenvolvimento económico. Para isso é necessário, genuinos liberais, responsáveis e adversários do privilégio do estado ou do Monopólio. Replico isto, stricto sensu, para o Sistema Politico.

Discordando filosófica e ideológicamente dos seus principios, não deixo porém de ver justiça em muitas das propostas do seu partido embora, cum grano salis, pois de outra forma, a prazo, teremos uma sistema ainda mais insutentável e asfixiante( Não se esqueça que o EStado POrtugês já consome 60 % do rendimento disponível).

Sobre o empobrecimento uma sugestão : veja os dados sócio-económicos de Portugal. Compare qualquer índice antes e depois de POrtugal estar na EFTA e na U.E. A abertura da nossa economia ao "liberalismo" resultou numa melhoria significativa do nosso conforto material.

Desejo-lhe as melhores realizações pessoais e politicas para 2009

Os meus cumprimentos e votos de um feliz natal!

Manuel Alexandre Henriques

Farpas disse...

O que o Miguel fez aqui é o que falta a este país. Uma aproximação da política à população. Sejamos sinceros... um deputado da AR a comentar na caixa de um blog como este poderia não é algo que seja "normal". Mas é útil, eu acredito nesta forma de estar, parabéns ao Miguel não só pela entrevista, mas principalmente pela passagem por esta caixa de comentários.

Um Abraço!

manuel disse...

Canas a Concelho, sempre!

Não me parece que o discurso político no revele nada de novo naquilo que nos diz respeito directamente. A linguagem é por demais conhecida, demagógica e a que já estamos habituados. Demasiado habituados. Os profissionais da política e os aspirantes a tal comungam o mesmo ideário por mais que se esforcem por nos fazer crer o contrário. Não haverão indicadores sócio-económicos capazes de justificar toda a má condição em que nos encontramos hoje! Mais valeria sós que mal acompanhados...mesmo assim, prestemos atenção e sigamos vigilantes. Não vi, ainda, nenhum político capaz de compromissos sérios e que resultassem em algo de bom para os seus eleitores em geral.
Emboram digam o contrário há mesmo grandes e pequenos nos partidos, qualquer que seja. A igualdade que apregoam, hipócritamente, traduz-se na assunção íntima e secreta e que existirão sempre uns mais iguais que outros.
Surge-nos no horizonte um classe política que em nada teve esforço. Filhos de uma revolução que lhes entregou de mão beijada o poder. Não sabem, nem saberão o que é trabalhar a sério. Desculpem, mas não sabem. Pagos a peso de ouro, com mordomias de bradar aos céus. Cá por baixo estamos como os srs sabem: cansados de vós, zangados convosco e pior ainda, pobres!

Perdoem-me este desabafo, mas ando com muita vontade de "arrear" em alguém, salvo seja!

Boas Festas!

PortugaSuave disse...

Manuel, perante a honestidade intelectual e até certa "humildade" que o deputado Miguel Tiago pôs nos seus comentários, parece-me perfeitamente desajustada essa vontade de "arrear" (seja o que for) aqui, neste post, lol.
Cumprim.

manuel disse...

@portugasuave, os srs deputados, de todo e qualquer partido com assento na AR não cumpriram os compromissos com os Canenses. Eu também posso afirmar que gosto muito da sua causa e comptometer-me com ela e ao mesmo tempo não mexer uma palha por si. E isso não é ser honesto. Penso que o sr deputado Manuel Tiago é uma pessoa íntegra, como todos somos. Mas o discurso do "blá blá blá...sem novidades", é que não nos oferece perspectivas de compromisso sério com a nossa realidade.
Porventura o termo "arrear" não fosse o mais adequado, neste caso, as minhas desculpas ao sr deputado e a quem se sentiu mal...

Manuel Vieira

AMPF disse...

O Povo unido, jamais será vencido!!!
Declaração de rendimentos da camarada Odete Santos

Deputada e Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal..
Trabalho dependente-48.699,48€
Trabalho Independente-6.860,19€
Rendimentos prediais-1.369,38€
Património Imobiliário 1 prédio urbano em Setúbal, 1 fracção em Setúbal, 3 prédios rústicos na Guarda, 22 prédios rústico na Guarda, alguns por doação. Automóveis 1 ligeiro Lancia.
Contas Bancárias Certificados de aforro do instituto de gestão financeira no valor de 2.400.000 mil. Mais 5 certificados de aforro no valor de 300 mil, 621 mil €, 400 mil €, 1.613.000 mil €, 391 mil €.
Declaração de 2005. O Povo unido, jamais será vencido!!!!!!!???!!!!
Odete Santos - Partido Comunista
Nota:Não tenho nada contra a Sra., mas para quem tanto luta/lutou pela igualdade.
Qual dos comentadores lhe chega aos calcanhares? Monetariamente.
Políticos de esquerda ou direita = a Políticos.
Boas festas a todos.
Saudações amigas.

MANUEL HENRIQUES disse...

@APMF

Parabens pela pesquisa
O tempo que vivemos é dado a esta demagogia primária que o seu comentário insinua.

miguel disse...

Caros amigos,

uma vez mais aqui me encontro e é a segunda vez que escrevo um comentário que não aparece e não tenho agora vontade de escrever tudo outra vez. de qualquer as formas, algumas notas:

sobre a linguagem que utilizei, demagógica ou não, é a minha, reflecte aquilo em que acredito e escrevo e falo com a vontade de fazer corresponder os meus actos às minhas palavras. Não careço de procurar palavras bonitas para hipnotizar as massas, não careço de simpatias à força. Se é um discurso cuidado, agradeço a crítica. Até porque isso caracteriza a responsabilidade com que, no PCP, procuramos encarar as situações, sem procurar o voto, sem facilitismos. Como sabem, o PCP defende posições que seria para ele bem mais fácil não defender. No entanto, defende-as convicto de que são as correctas. No mundo da informaçao superficial e da manipulação em que vivemos, o populismo e a demagogia são o caminho mais fácil, não necessariamente o mais justo.

Sobre o "jargão", as mesmas palavras se aplicam. Se queremos alterar a realidade, façamo-lo, mas não contem que mudemos as expressões se os conceitos permanecem na mesma. Ou já não existe desigualdade? já não existe exploração? Já não existem operários? ou proletários? Já não existe luta?
claro, é sempre mais fino dizer que agora há "colaboração", "empreededorismo", "colaboradores" e "técnicos de linha de montagem" e que luta é coisa que já não existe porque já não há classes. Pois claro, e o dono da Citröen está em pé de igualdade com os trabalhadores de mangualde e os donos da somincor também padecem de silicose.

A minha linguagem é concordante com as minhas convicções e, sinceramente, jargão ou não, prefiro assim do que andar a espalhar ilusões e a vender promessas.

Sobre as desigualdades, caro Manuel Henriques: também era melhor que Portugal estivesse hoje mais empobrecido materialmente do que estava nos anos 70 - 80. Acontecera tal coisa e seríamos certamente um case study em todo o mundo. O que não se pode afirmar é que o crescimento económico nacional foi conseguido pela liberalização dos serviços. E o que se pode dizer é que grande parte das assimetrias verificadas na distribuição desse enriquecimento são exactamente devidas às imposições liberais, nomeadamente as da UE. O PCP realizou um balanço (e foi o único partido que o fez) sobre os 20 anos da adesão de portugal à UE (CEE) e estudou aprofundadamente todos os indicadores económicos, a produção nacional, o consumo, a distribuição da riqueza, as pescas e a agricultura, a especulação e a financeirização da economia e, garanto-lhe que o cenário não é asim tão motivador.

Sobre os vencimentos declarados pela minha camarada odete santos: é curioso que haja quem esteja mais preocupado com as heranças dos deputados do partido comunista do que com os vencimentos absolutamente escandalosos e obscenos dos gestores públicos ou do que com as contas bancárias daqueles que acumulam os seus lucros à custa do trabalho alheio. Esses sim, responsáveis pela situação em que o país se encontra.
De qualquer das formas, como é sabido, os comunistas entregam a grande parte do seu vencimento arrecadado no exercício de funções públicas ao seu Partido, cumprindo o princípio basilar de não ser prejudicado nem beneficiado em cargos de representação partidária. Claro está que não seria justo pedir à Odete Santos que entregasse também os rendimentos familiares, os rendimentos de heranças e os imóveis de heranças. Da mesma forma, lhe asseguro, que nenhum dos euros que a Odete declara são fruto da exploração de trabalho alheio. Alerto para o facto de a declaração de bens dos deputados comunistas não corresponder à verdadeira situação material dos mesmos, exactamente porque eles entregam o vencimento ao partido, mas são obrigados a declará-lo.

Sobre os agradecimentos e saudações que me dirigiram, retribuo mas aproveito para dizer que não me são devidos. Mais não faço que a minha obrigação e faço-o com gosto. Além disso, em última instância, pode até dizer-se que este é o meu trabalho e que sou pago para isso, por isso +e muito mais valoroso o esforço voluntário e o empenho de todos aqueles que, nos seus tempos livres, se dedicam a discutir e a lutar pelas suas causas.

Um abraço.
Miguel Tiago