António João, obrigado por tudo
Agora que se aproxima mais uma merecida homenagem ao grande António João Pais Miranda, referência incontornável da cultura canense, republicamos alguns testemunhos deixados no blog MCdS por colaboradores e comentadores que com ele privaram.
Eu conheci o António João, nos primeiros ensaios na fundação do Rancho Folclórico Infantil de Canas de Senhorim, e desde logo compreendi como ele era exímio na arte de ensaiar, ensinar, comunicar... Poucos sabem como ele era exigente, chato mesmo, profissional até nas mais pequenas coisas...
A sua capacidade teatral não ficava pela coreografia ou o ensaio, juntava também a autoria de textos para comédia e a capacidade ímpar de levar à cena Teatro de Revista... a recolha etnográfica, dicionário de termos canenses, letras de músicas para o teatro, para o Carnaval...
não me esqueço, porque ele fazia questão de sempre nos lembrar, da nossa luta de emancipação municipal (se houve alguém que lutou contra o Zé Colmeia, foi ele); a Câmara de asnelas, que ele chamava, recuperando a sátira sujeita a censura nos tempos antes do 25 de Abril no Teatro Revista, de “Madrasta”... a nossa “Madrasta”...
Ainda me lembro, como se fosse hoje, a perfeição que ele incutia nos nossos ensaios... nos meus ensaios!...
- Mais uma vez, ainda não é bem assim!... - E lá ficava eu, noite dentro a repetir uma frase até ao ridículo... e depois, quando toda a peça estava ensaiada e repetida 10 vezes ele terminava a noite:
- Pronto, agora só mais uma vez do princípio, sai como sair!...
- Ai o raio do homem... – Pensávamos
A mim, ele incutiu-me valores, entre os quais a alegria e a luta municipal... não me esqueço de ir visitá-lo ao Hospital dos Covões, nos últimos dias, em que me apetecia chorar e foi ele a animar-me, satirizando a sua situação:
- Sabes ando agora aqui na procissão das velas*!...
*as velas eram o cabide que todos os doentes tinham onde penduravam o soro!
Descreveste na perfeição o grande e saudoso António João.
Ao ler este texto vem-me há lembrança todos esses tempos de criança, passados na Tabacaria Rossio, onde ele me contava histórias; no café Rossio, ia sempre com a minha mãe, quando ela lá ia fazer umas limpezas, há espera do rebuçadito!
Também o acompanhei algumas vezes no seu final de vida, já acamado, sem forças, mas o que guardo desse grande homem era aquele sorriso, aquele ar de troça e o seu sentido de humor, que a ninguém deixava indiferente.
...aqui fica também a minha lembrança do António João, do Cafe Rossio, dos livros de aventuras que lá comprava, dos cromos para as minhas cadernetas, do 1o+7(que espectáculo) e também do Nazareno do meu tempo de escuteiro (FICAMOS FAMOSOS),enfim, saudades de tempos idos
… grande e saudoso António João Pais Miranda, amante do Carnaval e do seu bairro do Rossio. Ele costumava dizer, o Rossio sem o Paço o carnaval acaba, por isso viva o nosso Carnaval, o melhor de Portugal.
...o Café Rossio foi um marco histórico em muitas vidas de gente de cá e de fora!...
Olhe, curiosidade e coincidência: sei que faz hoje, dia 8 de Dezembro, não preciso quantos anos mas talvez uns quarenta e seis, que pedi à minha mãe cinco tostões, para comprar o Condor Popular que o António João também vendia... E foi este grande Amigo que, no momento em que me atendia, me perguntou se sabia que dia "era hoje?" Que... "é o dia da Mãe", respondi eu, porque "naquele tempo" era mesmo neste dia que se festejava o dia da Mãe... E ele tornou: "Então, em vez de gastares dinheiro em cóboiadas, porque não lhe compras uns... rebuçados?" Nem refilei! A sugestão estava aceite! O "careca" fez um embrulho à maneira, com papel bonito, e eu lá fui direito a casa, a acreditar que a minha Mãe ia ficar contente...
Aos domingos, pela mão da minha tia, lá íamos vaidosas ao Café Rossio, exlibris da terra, onde o café era mais café. Eu, na mira do “rajá” prometido, ela, de rapaz promissor. O Sr. António João, bem-humorado, atirava um piropo amoroso à minha tia, do género “ainda dizem que as flores não andam”, enquanto escolhia meticulosamente os grãos de café. Primeiro espalhava-os numa bandeja de servir à mesa (naquele tempo um simples café tinha honras de bandeja e empregado de laço). Depois, munido de artes que só ele dominava, esticava o dedo indicador e exercia a sua justiça ao lote, “tu para aqui, tu para ali e tu vais fora”. Que cheirinho emanava do café que o Pedro trazia para a mesa, após aquela selecção.
Eu conheci o António João, nos primeiros ensaios na fundação do Rancho Folclórico Infantil de Canas de Senhorim, e desde logo compreendi como ele era exímio na arte de ensaiar, ensinar, comunicar... Poucos sabem como ele era exigente, chato mesmo, profissional até nas mais pequenas coisas...
A sua capacidade teatral não ficava pela coreografia ou o ensaio, juntava também a autoria de textos para comédia e a capacidade ímpar de levar à cena Teatro de Revista... a recolha etnográfica, dicionário de termos canenses, letras de músicas para o teatro, para o Carnaval...
não me esqueço, porque ele fazia questão de sempre nos lembrar, da nossa luta de emancipação municipal (se houve alguém que lutou contra o Zé Colmeia, foi ele); a Câmara de asnelas, que ele chamava, recuperando a sátira sujeita a censura nos tempos antes do 25 de Abril no Teatro Revista, de “Madrasta”... a nossa “Madrasta”...
Ainda me lembro, como se fosse hoje, a perfeição que ele incutia nos nossos ensaios... nos meus ensaios!...
- Mais uma vez, ainda não é bem assim!... - E lá ficava eu, noite dentro a repetir uma frase até ao ridículo... e depois, quando toda a peça estava ensaiada e repetida 10 vezes ele terminava a noite:
- Pronto, agora só mais uma vez do princípio, sai como sair!...
- Ai o raio do homem... – Pensávamos
A mim, ele incutiu-me valores, entre os quais a alegria e a luta municipal... não me esqueço de ir visitá-lo ao Hospital dos Covões, nos últimos dias, em que me apetecia chorar e foi ele a animar-me, satirizando a sua situação:
- Sabes ando agora aqui na procissão das velas*!...
*as velas eram o cabide que todos os doentes tinham onde penduravam o soro!
Cingab
Descreveste na perfeição o grande e saudoso António João.
Ao ler este texto vem-me há lembrança todos esses tempos de criança, passados na Tabacaria Rossio, onde ele me contava histórias; no café Rossio, ia sempre com a minha mãe, quando ela lá ia fazer umas limpezas, há espera do rebuçadito!
Também o acompanhei algumas vezes no seu final de vida, já acamado, sem forças, mas o que guardo desse grande homem era aquele sorriso, aquele ar de troça e o seu sentido de humor, que a ninguém deixava indiferente.
Pombo Correio
...aqui fica também a minha lembrança do António João, do Cafe Rossio, dos livros de aventuras que lá comprava, dos cromos para as minhas cadernetas, do 1o+7(que espectáculo) e também do Nazareno do meu tempo de escuteiro (FICAMOS FAMOSOS),enfim, saudades de tempos idos
Fernando Cunha
… grande e saudoso António João Pais Miranda, amante do Carnaval e do seu bairro do Rossio. Ele costumava dizer, o Rossio sem o Paço o carnaval acaba, por isso viva o nosso Carnaval, o melhor de Portugal.
Anjo Negro
...o Café Rossio foi um marco histórico em muitas vidas de gente de cá e de fora!...
Olhe, curiosidade e coincidência: sei que faz hoje, dia 8 de Dezembro, não preciso quantos anos mas talvez uns quarenta e seis, que pedi à minha mãe cinco tostões, para comprar o Condor Popular que o António João também vendia... E foi este grande Amigo que, no momento em que me atendia, me perguntou se sabia que dia "era hoje?" Que... "é o dia da Mãe", respondi eu, porque "naquele tempo" era mesmo neste dia que se festejava o dia da Mãe... E ele tornou: "Então, em vez de gastares dinheiro em cóboiadas, porque não lhe compras uns... rebuçados?" Nem refilei! A sugestão estava aceite! O "careca" fez um embrulho à maneira, com papel bonito, e eu lá fui direito a casa, a acreditar que a minha Mãe ia ficar contente...
Amef
Aos domingos, pela mão da minha tia, lá íamos vaidosas ao Café Rossio, exlibris da terra, onde o café era mais café. Eu, na mira do “rajá” prometido, ela, de rapaz promissor. O Sr. António João, bem-humorado, atirava um piropo amoroso à minha tia, do género “ainda dizem que as flores não andam”, enquanto escolhia meticulosamente os grãos de café. Primeiro espalhava-os numa bandeja de servir à mesa (naquele tempo um simples café tinha honras de bandeja e empregado de laço). Depois, munido de artes que só ele dominava, esticava o dedo indicador e exercia a sua justiça ao lote, “tu para aqui, tu para ali e tu vais fora”. Que cheirinho emanava do café que o Pedro trazia para a mesa, após aquela selecção.
Cristalinda
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